Nota do Blog: A presente coluna “Um Olhar Sobre Rio Negrinho”, de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, foi publicada originalmente em 21/11/2014, no "Jornal do Povo" de Rio Negrinho, a quem agradecemos.
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS. Na edição passada descrevemos a viagem divertida e desastrada da
piazada da Rua do Sapo à Barra Velha no começo da década de 70. Naquele tempo as
coisas eram muito diferentes de hoje. Algumas eram mais fáceis, outras mais
difíceis, como para viajar, por exemplo. Antes, quando não havia asfalto, nem
para Joinville, nem para Corupá, uma viagem de ônibus até Joinville levava
horas pela rodovia de terra e, quando chovia, era um caos. Muitos veículos
encalhavam sendo necessário ser puxados por tratores ou parelhas de cavalos e
isso levava uma boa fatia do dia. Dependendo da quantidade de chuva muitos
trechos ficavam totalmente intransitáveis não sendo possível viajar nesses dias.
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CAMINHÕES
ENCALHADOS NA ANTIGA ESTRADA DONA FRANCISCA, ENTRE SÃO BENTO DO SUL E JOINVILLE. Imagine-se
preso na lama no meio do mato e faça os cálculos! |
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UMA
VIAGEM DE IDA E VOLTA DE CARROÇÃO ATÉ JOINVILLE DEMORAVA UM MÊS.
Pessoa doente em estado grave, sendo levada à Joinville, morria na viagem. Hoje,
tudo é bem mais fácil: rodovias asfaltadas, terceira faixa facilitando a
movimentação dos veículos leves, BR 101 duplicada, postos de combustíveis à beira
da estrada, etc. Para mostrar as dificuldades daquela época (1956), iniciamos
na semana passada uma matéria sobre funcionários do Grêmio da Móveis Cimo de
Curitiba que planejavam há muito tempo conhecer o Rio de Janeiro. Hoje
estenderemos um pouco mais o texto referente à matéria. |
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CONSTRUÇÃO
DA IMPERIAL ESTRADA DONA FRANCISCA. Imagine o esforço e sofrimento dos nossos
antepassados para abrir uma estrada. A maioria dos trabalhos pesados era executada
a muque. Os trabalhadores deviam ser fortes. Dormiam no mato, enfrentavam
chuva, calor e frio, mosquitos e até feras perigosas além de serpentes
peçonhentas, longe da família por longo tempo, às vezes sem comida suficiente,
doenças e tantas outras dificuldades que as pessoas do mundo de hoje nem
imaginam. Os avanços e as facilidades, dos quais hoje usufruímos, é dívida
nossa àqueles heróis incansáveis e determinados. |
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RIO
NEGRINHO ERA ASSIM. Nesta foto, de Rio Negrinho nos primórdios,
podemos identificar o antigo prédio da Intendência que mais tarde virou
Prefeitura onde hoje é a Praça do Avião, e um amontoado de casas. Nota: as
fotos 1, 2, 3 e 4 foram extraídas do livro História de Rio Negrinho, do Dr.
José Kormann. |
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EXCURSÃO
AO RIO DE JANEIRO. O início do texto diz: “O Grêmio Móveis Cimo de
Curitiba levou no mês de Setembro seus associados ao Rio de Janeiro,
concretizando assim, um velho e acalentado sonho, da Diretoria em exercício. A
idéia desse magnífico passeio começou a despontar há muito tempo e foi se
assoberbando aos olhos de todos, mesmo diante da indiferença dos mais céticos
que julgavam um sonho grande demais para se tornar realidade. Mas, eis que em
fins de Agosto um movimento diferente principiou a empolgar os “gremistas” e
uma agitação nova sentiu-se no ar, como feliz expectativa de grandes projetos,
em vias de transformarem-se em esplêndida realidade. De fato, os primeiros
passos concretos estavam sendo dados, os primeiros entendimentos estavam sendo
levados a efeito, em vista da época oportuna que se oferecia em princípios de
Setembro. Depois de demoradas conversações com as diferentes empresas de
transporte aéreo, ficou decidido optar pela Real-Aerovias e assim foi fixada a
partida para o dia 3 de Setembro, às 15 horas. As vinte pessoas que compunham o
grupo embarcaram no Aeroporto Afonso Pena, num sábado frio e nebuloso, que
contrastava com o calor e entusiasmo que transparecia no semblante de cada um.
A viagem transcorreu calma e às 18:30hs um rendilhado de luzes se descortinava
aos atônitos olhos dos excursionistas e as emoções se sucediam a cada passo,
enquanto Guanabara fugia rápida e a aterrissagem se procedia...”. Percebe-se,
no texto, a ansiedade e a inquietação do grupo de viajantes durante o
desenrolar do processo na tentativa de conseguir realizar o sonho maravilhoso,
tal era a dificuldade para conseguir tal intento! |
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TURMA
DA SAPOLÂNDIA NA PRAIA DE BARRA VELHA EM 1971. Neste local, ainda hoje há barcos de
pescadores. Pois bem, voltemos à Barra Velha, em 1971 (veja a foto), quando
nosso querido trapalhão Juvelino transformou uma de suas peripécias em tragédia
que quase lhe foi fatal, por causa de um pequeno descuido. |
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JUVELINO
SENDO SUGADO PELA FURIOSA ONDA. As ondas batiam com força na pedra. O mar
recuava, e quando voltava a onda da frente, empurrada pelas que vinham atrás,
produzia essa explosão de água que vemos na foto. Juvelino, depois de ter
recebido dentaduras novas (as velhas ele perdeu nas ondas da praia), mudou de
idéia e resolveu voltar mais uma vez para a praia. Estávamos apreciando a fúria
das ondas nas pedras, Juvelino encheu-se de coragem e pediu que o fotografassem
em cima da pedra (a da fotografia) quando uma onda explodisse. Assim ele
apareceria na foto em frente ao turbilhão de água. Na verdade, se tudo desse
certo, a fotografia ficaria espetacular! Nosso herói postou-se de pé em cima da
rocha lisa esperando uma grande onda. Lá veio uma, bem grande, e quando ela
explodiu a fotografia foi clicada, mas o inesperado aconteceu: Juvelino foi
engolido por ela e desapareceu atrás da pedra. Em questão de segundo o repuxo
do mar o levou sem que ninguém pudesse ajudá-lo, pois tudo aconteceu num piscar
de olhos! A violência da água, no vai e vem, o jogava contra as pedras,
prensando-o e produzindo muitos ferimentos graves. Agoniados, pensamos que
tivesse morrido! Na fotografia original, Juvelino não aparece, pois já havia
sido levado para o mar, mas fizemos uma montagem com a fotografia verdadeira
para que se possa ver o que aconteceu. Todos os que sabiam nadar correram até o
local do acidente, fizeram uma corrente, os de trás seguravam os pés dos da
frente e, com muito cuidado e esforço, o resgataram todo cortado da cabeça aos
pés, sangrando muito. Puxa! O cara foi tão sortudo que não quebrou nem um osso
do corpo! Talvez, se não fosse imediatamente socorrido, não sairia vivo dali!
Imediatamente foi levado ao hospital onde passou por uma série de cuidados e,
teve que ser parcialmente anestesiado para limpar as feridas e para que os
curativos fossem aplicados, levou uns trinta pontos pelo corpo. O coitado saiu
do hospital mais enfaixado que múmia do Egito! Teve que ficar de molho mais de
mês em casa e tomar um caminhão de remédios até sarar! Mais tarde,
perguntamos-lhe como, no incidente, não perdeu as dentaduras no agito do mar e
ele nos garantiu que desta vez apertou bem os lábios para que as dentaduras não
lhes escapassem. Essa é demais! Até parece que estava mais preocupado com a
prótese dentária do que com a própria vida! |
CONSIDERAÇÕES FINAIS. Depois
de muitos anos passados após o fatídico passeio, conversando com Juvelino,
percebi que ele não guardou nenhum trauma do trágico acidente no qual quase perdeu
a vida, e até acha graça de quando pensou que o mar era uma grande enchente, de
quando montou guarda das suas lingüiças, de quando ficou entalado na cerca de
ripas e de quando perdeu as dentaduras, o boné e os óculos nas ondas da praia, mas
guardou as boas lembranças dos amigos e dos dias que passou com eles. Assim
deveríamos ser, como Juvelino: viver de boas coisas e superar todo mal que nos
aflige, sempre olhando para o futuro!
Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço
de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!
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