Nota do Blog: A presente coluna “Um Olhar Sobre Rio Negrinho”, de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, foi publicada originalmente em 03/10/2014, no "Jornal do Povo" de Rio Negrinho, a quem agradecemos.
RIO
NEGRINHO DE TODOS OS TEMPOS!
Imigrantes
alemães, poloneses, italianos, portugueses, austríacos e os índios da região
construíram sua nova pátria neste pedacinho de chão brasileiro e fizeram uma
pequena vila de Santa Catarina, no final do século XIX. Da Chegada destes
imigrantes até os dias de hoje, a história de Rio Negrinho foi e é contada em
livros, jornais, rádios e pela boca das pessoas que testemunharam a
transformação, desde as primeiras picadas abertas com picaretas e enxadas até a
avançada e confortável cidade na qual hoje habitamos. A geração atual pode
orgulhar-se de sua Terra-Natal onde seus ancestrais plantaram com sangue, suor
e lágrimas as primeiras sementes nesta terra que lhes serviu de berço. Foi com
muita fé e esperança, trabalho e determinação, coragem e persistência que estas
etnias lançaram na terra generosa a semente do progresso do qual hoje
desfrutamos. Continuaremos, hoje, contando causos e fatos. Alguns deles
marcaram profundamente a comunidade deixando cicatrizes por longo tempo, como o
tornado de 22 de maio de 1932 que, literalmente, sacudiu a região e causou a
morte de uma das mais queridas pessoas do lugar.
LOCAL DA RUA DO SAPO (FOTOGRAFADO EM 1975) ATINGIDO POR UM TORNADO EM 1932. |
Aproveitamos
esta foto do ano de 1975 para mostrar o local onde aconteceu a história que
vamos contar. Neste lugar, numa época bem anterior, em 22 de maio do ano de
1932, quando a rua Jorge Lacerda (Rua do Sapo) era apenas um descampado, um
pasto onde costumava-se fazer festas porque era apropriado e espaçoso para tal
finalidade, aconteceu o que ninguém esperava: um violento e devastador tornado
varreu tudo o que encontrou pela frente. Num domingo ensolarado e de forte
calor, ali acontecia um grande festa onde seria fundada a Sociedade dos
Atiradores de Rio Negrinho. Naquele tempo, onde havia colônia de imigrantes
alemães e seus descendentes, tinha que ter pelo menos três tipos de sociedades:
uma de atiradores, uma cultural - teatros, danças e bandas musicais - e clubes
de bolão. Era o tipo de lazer que os imigrantes trouxeram da Europa. A festa de
gala seguia animadíssima com churrascada, bebidas, diversas atrações e, claro,
não podia faltar a famosíssima Banda Treml que veio de São Bento especialmente
para abrilhantar o evento! Nota: São Bento do Sul só passou a ter esse nome
bem mais tarde, depois de chamar-se Serra Alta (1935-1948).
Portanto,
em 1932 era só São Bento e de lá veio um trem especial lotado de gente para a
comemoração. Naquela tarde ninguém poderia imaginar a tragédia que iria
acontecer com a chegada de um grande e veloz tufão vindo pela via férrea,
direção Mafra-Rio Negrinho. O tornado tomou força e dividiu-se em dois na
baixada da rua José Zípperer Neto. Um foi para a Rua do Sapo atingindo em cheio
o local da festa; o outro seguiu na direção da igreja católica e depois foi
para o lado da estação ferroviária, subiu o morro e rumou para a Escola Marta
Tavares. Então chamaremos a um deles tornado “Rua do Sapo” e ao outro tornado “Marta
Tavares”, assim simplificaremos as explicações.
O tornado “Rua do Sapo” foi se
avolumando e pondo no chão tudo o que encontrava pela frente. Não houve tempo
para ninguém fugir quando o vento atingiu o local da festa, então podemos
imaginar as barracas sendo destruídas, os gritos desesperados, chapéus voando,
pessoas caindo ou sendo arrastadas, todo mundo correndo tresloucadamente,
alguns agarrados nas árvores e, afinal, tudo girando num turbilhão
violentíssimo.
No meio disso tudo, uma senhora chamada Ana Bolmann Ilg, que era
de São Bento, mas que veio morar em Rio Negrinho, pois casou com Martim Ilg,
aqui estabelecido, muito conhecida e querida na região porque era parteira e
conhecedora de remédios e entendida bem de farmácia, conhecimentos estes
adquiridos com seu pai, farmacêutico em São Bento, saiu correndo da festa, no
meio da ventania, para fechar as portas e as janelas da sua casa na rua São
Bernardo no alto do morro.
Mas não chegou viva em casa. Um galho de pinheiro arrancado
pelo vento caiu-lhe na cabeça matando-a instantaneamente. Este fato comoveu a
população e ficou mais evidenciado que o próprio tornado. A morte da parteira
Ana foi muito lamuriada e comentada, e por longos anos ficou na lembrança do
povo (naquele tempo as parteiras eram pessoas muito importantes na sociedade). O
tufão, depois de fazer incontáveis estragos, foi para os morros e aos poucos
perdeu a força extinguindo-se.
Conta-se que um mês após o desastre ainda se
achavam chapéus, lenços, dinheiro, vários objetos, sombrinhas e guarda-chuvas
no meio do mato que foram carregados pelo vento. Alguns gozadores disseram que
durante o furacão viram até a Banda Treml. O outro, o tornado “Marta Tavares”,
entortou a torre da igreja católica - no centro - que era de madeira, atingiu a
escola Rio Negrinho, ao lado da igreja, destruindo-a como se fosse uma casa de
papel, reduzindo-a a um amontoado de madeira.
Depois disso, o tornado girou, voltou por onde
viera e tomou rumo da estação ferroviária, subiu até a Escola Marta Tavares e,
lá no alto do morro, no local onde atualmente está a cruz do Cruzeiro, arrancou
a torre da igreja Luterana, que também era de madeira, elevou-a pelos ares e
depositou-a inteira no meio do mato, lá em baixo, onde hoje é o campo da
Sociedade Esportiva Ipiranga. Tudo o que estamos descrevendo é verídico e nos
foi reportado pelo Doutor José Kormann, pesquisador de fatos da História de Rio
Negrinho, inclusive, algumas fotos que vemos nesta página foi ele quem as doou
para o Museu Carlos Lampe. Aquele tornado angustiou e aterrorizou a população
rionegrinhense. Muita gente teve enormes prejuízos. É bom saber que a natureza
trabalha em ciclos, portanto, é possível e bem provável que novos furacões
apareçam novamente em nossa região.
Aliás, durante a enchente de 1992, um violentíssimo furacão devastou
florestas e propriedades rurais, quando passou na região de Rio Casa de Pedra e
Queimados Colônia Olsen, seguiu serra abaixo e só desfez-se no litoral catarinense
em Barra Velha. Talvez, aquele tenha sido o maior tornado já registrado em
nossas terras.
Há poucos anos, outro forte vendaval passou pela cidade de Rio
Negrinho. Veio do bairro Jardim Hantschel, passou pela Bela Vista e zanzou na
região onde estava a granja do Rocha, na parte de baixo do morro do Briskão.
Ali derrubou a construção da granja sobre alguns índios que lá se abrigavam.
Causou muitos estragos, destelhou casas e arrancou árvores. É bom estarmos
preparados, pois de tempos em tempos a fúria da natureza reaparece!
Nota do Blog: Ana Bollmann Ilg, era nascida na Alemanha, filha de Guilherme e Maria Bollmann, faleceu em 22/05/1932, com 49 anos, vítima de traumatismo craniano, era casada com Martin Ilg, residente a rua São Bernardo, deixando 6 filhos, e foi sepultada no Cemitério Municipal de Rio Negrinho.
A PRIMEIRA IGREJA CATÓLICA EM FASE DE
CONSTRUÇÃO. A rara fotografia nos permite observar que a ponte da matriz
naqueles primórdios era de madeira e bem estreita.
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GRUPO ESCOLAR RIO NEGRINHO QUE O TORNADO DESTRUIU. O centro cultural e religioso de Rio Negrinho começou aqui. |
POR OUTRO ÂNGULO, A DESOLADORA IMAGEM DA DESTRUIÇÃO DA ESCOLA. |
PRIMEIRA IGREJA LUTERANA DE RIO NEGRINHO, NO ALTO DO MORRO DA ESCOLA MARTA TAVARES, NO PERÍODO DE CONSTRUÇÃO. |
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Caro leitor, volva seus olhos para os idos 1880 e sinta no seu coração que foi
necessário quase um século e meio para que de tão preciosa miscigenação
resultasse os frutos hoje colhidos. A luta gloriosa dos nossos antepassados
traduz-se atualmente no sorriso de tantos seres humanos que vão realizando seus
sonhos porque tem sob seus pés um mundo por onde podem caminhar com segurança e
que foi anteriormente construído com muito amor e esforço.
Por hoje é só!
Obrigado! Um forte abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai
do Céu!
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