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sábado, 31 de março de 2018

GENTE NOSSA: RADAR


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da coluna GENTE NOSSA, focando no clube RADAR, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano III, edição nº 135, pág. 7, em 8 de dezembro de 1995. Somente a foto do Radar E.C. foi reproduzida no texto original do Perfil.


Enfocamos nesta semana um conjunto de jovens, que principiaram em Rio Negrinho, como clube a pratica esportiva do vôlei, basquete e futebol de salão, no então RADAR E.C. As informações desta crônica, foram baseados em depoimentos de Mirno Neidert e Felix Briniak, integrantes da fase inicial do clube.  GENTE NOSSA encomendou um trabalho especial a poetisa e contista Glicia M. Neidert sobre o Radar, da qual ela fez parte, por onde iniciamos o trabalho desta semana.

Glicia – “Tem cada idade a sua juventude (Bastos Tigre), mas, sem dúvida, os 16, 17 18 anos é uma época inesquecível. Por volta de 1956, em nossa simpática Rio Negrinho, viviam os jovens cheios de alegria e dinamismo, que cultivam amizades lindas. Como entretenimento, havia o cinema do Sr. “NONO”, onde toda a patota ia às matinês. Entram triunfalmente pelo corredor central, assobiando em coro aos domingos reuniam-se às margens do rio Negrinho, ainda não poluído, no famoso “Poço do Cipó” (atrás do prédio do Banco do Brasil)¹ para nadar e mergulhar. Verdadeira exibição de coragem e músculos.


Poetisa Glicia Murara Neidert (Foto do acervo de Valderi Aci da Silva)


Havia também as dancinhas na “sede”. Usávamos amplos vestidos e dançávamos ao som dos “Miseráveis do Ritmo”.  Eu tinha ordens de meus pais para chegar em casa pontualmente às 18:00 horas... e obedecia! Ah! As serenatas, que lindas e românticas!

Certamente muitos senhores e senhoras que hoje estão lendo este artigo tem boas lembranças daquele tempo. Para diversificar as diversões e canalizar tanta energia os moços resolveram formar um time de voleibol e de basquete e assim surgiu o RADAR E.C., após muito trabalho, dedicação e garra dos jovens, que eram muito unidos.

O Radar E.C. tinha uma bandeira e uniformes, o das moças era: calção azul, blusa branca com emblema criado por Senildo H. Neidert e saia curta pregueada.

Que lindos tempos! Devo confessar que nunca aprendi a jogar voleibol, mas do companheirismo e amizade que era uma constante no meio dos jovens, surgiu um namoro que culminou em casamento. Hoje vivo feliz ao lado do treinador Mirno H. Neidert. (Glicia M. Neidert – 03.12.95).

Primórdios – No final de 1956 ou início de 1957 ², jovens da faixa etária de 16 a 20 anos, buscam uma nova forma de laser, principalmente nos finais de semana, nos quais as opções eram reduzidas ao cinema do simpático “NONO”, bailes, domingueiras na “sede” do Ipiranga ou Salão Dettmer e jogos de futebol. Influenciados por novos esportes, onde estudantes rio-negrinhenses de escolas em centros maiores (principalmente Curitiba), ou do serviço militar, estes jovens constituem informalmente um clube para a prática do voleibol, basquete e futebol de salão.

Para isso encontram um local adequado e central para a quadra esportiva, junto ao terreno de propriedade da família Neidert³, aos fundos da rua Duque de Caxias, margeando o rio Negrinho e a estrada de ferro, terreno grande com pouco aproveitamento que possuía uma pequena faixa mais elevada, onde à base de pás, picaretas, enxadões, e carrinho de mão fazem a quadra, em forma de “L”, de chão batido, com pequeno vestiário de madeira, iluminado posteriormente com holofotes para jogos noturnos, ficando uma pequena elevação lateral para a torcida. 

Somente, quase no final dos trabalhos que a Prefeitura cedeu os maquinários para complementação dos trabalhos da quadra, denominada “Edulindo Gisbert Neidert”.

O nome escolhido para o clube era revolucionário na época – RADAR, o símbolo do átomo foi adotado pelo clube.  As modalidades esportivas adotadas eram também muito pouco conhecidas do grande público. A semente do Radar estava lançada e a quadra de esportes pronta, constituindo-se, o primeiro clube do município do gênero.

Participantes – Passaram por este clube entre outros: Mirno H. Neidert, Senildo Neidert, Romeo Zipperer, Felix Briniak, Waldemar Bublitz, Edvaldo Bublitz, Valmor Bublitz, Arnaldo Lampe, Roland Thieme, Placido Steffen, Alvino Vutzke, Gerold Lichtblau, Max Reuss, José Cavalheiro Filho (Jeca), Luiz Cavalheiro de Almeida (Camiseta), Adolar Janesch, Marcio Parreira, Raul Zipperer, Gildo Zipperer, Norberto Murara e Adolar Kemper.  Equipe feminina de vôlei: Nilce Zipperer, Glicia M. Neidert, Noly e Iria Scaburi, Maurita e Lizi Parreira, Loni Zipperer, Irene Weick, Glaci Tschoecke, Josefa e Maria Szabunia. Junta-se a este grupo – Clóvis A. Campos Silva, então funcionário do Banco Inco, que colabora na organização e preside por um bom tempo no Radar, formalizando o estatuto e cobranças de mensalidades.

Da esq. p/ direita, em pé: Adolar Kemper, Mirno Neidert, José Cavalheiro Filho (Jeca) e Luiz Cavalheiro de Almeida.  Agachados: Waldemar Bublitz, Arnaldo Lampe (Zizi) e Felix Briniak.


Adversário – O grande problema apresentado após a formação do Radar e conclusão da quadra, e cansativos treinos era não ter um adversário para disputa de partidas. Passado um certo tempo, aparece um rival a altura, oriundo do E.C. Continental, que forma uma equipe de vôlei masculino e feminino. 

As disputas entre os dois clubes são ferrenhas, atraindo uma fanática torcida nos jogos, chegando ao ponto de cobrança de ingressos.  Uma próxima edição do GENTE NOSSA tratará especialmente deste clube. 

Outras disputas feitas pelo Radar fora do município como pela primeira vez jovens do município jogam uma partida num ginásio coberto, na Escola Técnica em Curitiba, onde saem vitoriosos. Além disso fazem jogos na região com São Bento, Mafra e Joinville. Mas sem sombra de dúvida, o maior e quase sempre imbatível adversário foi o Continental.

Bailes – As domingueiras para arrecadação de fundos e diversão na sede eram famosas e aparecem conjuntos como “Os Miseráveis do Ritmo”, composto Milton Righetto (acordeão), Sigolf Lichtblau (violino), Luiz Cavalheiro de Almeida ou Guinter Weber (bateria) e Cristaldo R. Lima (violão elétrico). Chegam-se a promover bailes com conjuntos famosos como o “Marimba Alma Latina” ou a orquestra “Cruzeiro do Sul” do nosso município, que vão das 20:00 horas de sábado às 6:00 horas da manhã de domingo.

Lembranças – A medida que os anos se passam, muitos dos integrantes vão se casando, outros transferem-se de cidade, fazendo com que o Radar vá definhando pouco a pouco, encerrando suas atividades por volta de 1962.  Ficou a alegria das disputas, das amizades e os casamentos realizados à partir do saudoso Radar E.C.


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Nota complementar do Blog:

1 – Em 1995 a agencia do Banco do Brasil de Rio Negrinho estava instalada à rua Luiz Scholz;

2 - O Radar foi fundado em 07/12/1956;

3 - A Prefeitura Municipal, através de Lei nº 1689 de 22/02/2005, sancionada pelo então Prefeito Municipal Almir José Kalbuch, adquiriu dos herdeiros de Afonso Tschoeke (antes pertencente a família Neidert) o terreno que abrigou no final da década de 1950 e inicio da década de 1960 o Radar E.C., destinado a abrigar um parque municipal, denominado de "Parque Municipal Paul Harris", como homenagem ao fundador do Rotary, em comemoração aos 100 anos de existência e dos serviços prestados a humanidade pelo Rotary Club Internacional, naquele ano de 2005; o Parque Municipal Paul Harris foi inaugurado oficialmente em 24/02/2018 numa parceria entre o Rotary Club Rio Negrinho e a Prefeitura Municipal de Rio Negrinho;

Imagem da inauguração do Parque Municipal Paul Harris em 24/02/2018
 (Foto extraída do Jornal do Povo de Rio Negrinho)

4 - Edulindo Gisbert Neidert – Era filho de Eduardo e Jenny Neidert, nascido em 06/05/1930, de profissão comerciante, era irmão de Mirno e Senildo Neidert. Faleceu prematuramente em 03/10/1955.

sexta-feira, 30 de março de 2018

GENTE NOSSA: ALVINO ANTON


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da mencionada coluna GENTE NOSSA, homenageando Alvino Anton, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano III, edição nº 124, pág. 7, em 22 de setembro de 1995. A foto de Alvino Anton extraída do Jornal Perfil é de autoria de Alceu Solano Peyerl. As imagens da Câmara de Vereadores da 4ª legislatura e da Bandinha Anton não foram publicadas no texto original no PERFIL.


Figura conhecida entre nós, tanto por sua atividade profissional, como músico e político da velha geração. GENTE NOSSA desta semana homenageia ALVINO ANTON, de tradicional e numerosa família de nossa cidade. Morador do Bairro São Pedro, atualmente com 82 anos, recolhido às suas lembranças.

ORIGEM – Filho de pai imigrante alemão, Francisco Anton veio ao Brasil com apenas 07 dias, nascido a 03/12/1875, passando a morar na Estrada do Lago, em Lençol – São Bento do Sul, agricultor, vindo mais tarde trabalhar como aprendiz de sapateiro, com Carlos Hantschel em Rio Negrinho. 

Posteriormente adquiriu uma gleba de terras na localidade de São Pedro, onde trabalhou como agricultor e também zelador da estrada Dona Francisca, trecho entre o Rio Preto e Rio Negrinho.  Francisco foi casado com Emilia Kwitschal, teve 12 filhos: Lidia – casada com José Huttl, Olga – casada com Rodolfo Tureck, Frida – casada com Carlos Hantschel Filho, Regina – casada com Emilio Tureck, Elvira – casada com José Pscheidt, Agnes – casada com Antonio Muehlbauer, José, Paulo, Max, Alfredo, Alvino e Ernesto.

PROFISSÃO – Nascido em São Pedro, em 15 de março de 1913, em Rio Negrinho, seu pai muito previdente, aos 16 anos o encaminhou para uma profissão, a de alfaiate, enviando ao mestre – João Augustin, onde residiu durante 03 anos. Fato curioso da época, era que os aprendizes não tinham remuneração, além de pagarem ao mestre oficial pelo aprendizado. De aprendiz passou a trabalhar como empregado de Luiz Grossl, também alfaiate estabelecido, onde sentiu as dificuldades da profissão. 

Alvino Anton (Foto do acervo do Jornal Perfil, 
de autoria de Alceu Solano Peyerl)


Abandonando a profissão aprendida, iniciou na profissão que o acompanharia ao longo dos anos, a de carroceiro. O carroceiro tinha uma importância vital da época, pois não havia automóveis, caminhões, aviões, ônibus, a não ser o ferroviário recentemente implantado. Portanto, o meio de transporte necessariamente era a base de carroças, e o elo de ligação entre os municípios da região era a estrada Dona Francisca. 

Alvino primeiro trabalhou para o irmão – Paulo, depois para o pai e posteriormente para Engelberto Pscheidt. Aos 22 anos, comprou o seu próprio carroção, para uma parelha de 06 cavalos, trabalhando neste ofício até 1969, quando adquiriu um caminhão de fretes, ainda para transporte de toros. 

Casou em 1937, com Frida Jantsch e teve 04 filhos: Lourdes – casada com Adolar Fischer, Alice – casada com Licio Nicacio Schroeder, Alcides – casado com Nilza Peyerl e Eurides – casado com Cacilda Fischer.

VIDA POLÍTICA – Homem ativo, trabalhador, mas somente aos 41 anos com a emancipação do Município em 1954, Alvino foi levado à política, pelas mãos do líder político e sobrinho Herberto Tureck, candidatando-se a vereador pelo antigo PTB, elegendo-se para 1ª Câmara de Vereadores de Rio Negrinho, com 155 votos, de um total de pouco mais de 3.000 eleitores.

As reuniões da Câmara de Vereadores eram esporádicas, convocadas de tempos em tempos, via telegrama em Correios ou pessoalmente; os suplentes eram convocados na hora, em caso na falta do titular; as reuniões eram realizadas numa sala do prédio da Prefeitura (hoje demolido) na praça Oldegar Olsen Sapucaia.

Para se deslocar de São Pedro até a cidade o meio de transporte era a cavalo, e as vezes, até a pé. Reelegeu-se pela 2ª vez em 1962, também pelo PTB, com 177 votos, vivendo os dias conturbados na gestão do Prefeito Municipal – Sr. Nivaldo Simões de Oliveira.

Em 1965, candidatou-se a Prefeito, no qual concorreram – Helladio Olsen Veiga – advogado e Vagemiro Jablonski – cartorário, tendo este último melhor sorte, hoje de saudosa memória. Panfletos jocosos da época apresentavam caricaturas de Helladio com uma Bíblia debaixo do braço, Alvino com um saco de batatas nas costas e Vagemiro em passo de dança. Não eleito, Alvino retornou em 1967, pela 3ª vez a Câmara de Vereadores, eleito com 211 votos.

Vereadores de Rio Negrinho, da 4ª legislatura, a partir da esq.: Marcos A. von Bathen, Afonso Baum, José Flores de Souza, Sergio Ferreira (secretário da Câmara), Theodoro Junctum, Jorge Quandt, Alvino Anton e Orita Fernandes do Amaral. (Foto do acervo do autor do blog)


Sua época política foi marcada por diversas lideranças locais por disputas ferrenhas entre diversas lideranças como Euclides Ribeiro (Quito), Eugenio Dettmer, Herberto Tureck, Vagemiro Jablonski, além de outros. Num balanço afirma que nada ganhou de pessoal com a política, mas assim mesmo valeu a pena.

Em janeiro de 1995 foi homenageado como presidente de honra do PMDB local e uma placa alusiva pelos trabalhos prestados.

MÚSICA – Desde pequeno foi ligado a música, pois já aos 16 anos participava da Banda Anton, da localidade de São Pedro, que funcionou de 1929 a 1934, sendo composta por: Willy Pscheidt, José Anton, Otto Maros, Max Anton, Francisco Anton, Osvaldo Anton, Antonio Pscheidt e José Liebl. 

A Banda Anton teve como fato marcante a comemoração da vitória Getulista, na revolução de 1930, na festa realizada e liderada por Eduardo Virmond, líder político da época; estava presente retornando então o voluntário nesta revolução – José Hantschel.

Bandinha Anton, por ocasião da comemoração de vitória da revolução getulista em 1930 (Foto do acervo do Blog)


Mais tarde participou da Banda Tureck, durante 20 anos, junto com: Rodolfo Tureck, Herberto Tureck, Salvinus Tureck, Linus Tureck, José Munch, Francisco Kwitschal, Emilio Tureck e Carlos Heinecke, entre 1948 a 1968. (Em fase de preparação, será publicado pelo PERFIL, um trabalho sobre a música em nosso meio, onde vários detalhes e fatos são rememorados por este ilustre rio-negrinhense, hoje aqui lembrado).

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O carroceiro/músico/político Alvino Anton veio a falecer em 08 de outubro de 1998, com a idade de 86 anos, e foi enterrado no Cemitério de Colônia Olsen, em Rio Negrinho.

quinta-feira, 29 de março de 2018

GENTE NOSSA: CARLOS PSCHEIDT, O “FERREIRO”


Nota do BlogNota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos o segundo artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando Carlos Pscheidt, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano III, edição nº 122, pág. 7, em 08 de setembro de 1995. A foto extraída do Jornal Perfil é de autoria de Alceu Solano Peyerl.


O Jornal “Perfil” abre espaço em sua coluna GENTE NOSSA para homenagear uma profissão hoje quase em extinção em nossa região: O Ferreiro.


Desde os remotos tempos, quando o cavalo passou a fazer parte do uso doméstico no transporte, na guerra, nos passeios, no trabalho a correlação com o ferreiro foi de vital importância, seja nas atividades normais, com ferraduras, ferragens para carroças e similares, consertos de arados e até a fabricação em escala artesanal de ferramentas para agricultura.

A profissão começou a declinar a partir de momento em que os veículos automotores, seja com automóveis, caminhões, começaram a tomar lugar das tradicionais charretes ou carroças puxado à cavalo. Por outro lado, a industrialização das ferramentas para agricultura se avolumou, fazendo com que a ferramenta artesanal se tornasse cara, sem competitividade. Mas assim mesmo teve a sua importância primordial no desenvolvimento do município.

Baseado neste fundo de quadro conversamos com um dos poucos representantes desta profissão, o Sr. Carlos Pscheidt, o ferreiro Pscheidt, como é conhecido. Homem profundamente honesto, religioso, apolítico, com 81 anos de idade, mas muito lúcido, residente no bairro Cruzeiro, em nossa cidade.

Nascido em 05 de maio de 1914, na localidade de Sertãozinho, no município de São Bento do Sul, neto do alemães, filho de pais agricultores – João e Rosalia Pscheidt, enfrentou desde pequeno a dura vida do agricultor, ajudando com os demais irmãos no plantio e colheita.  Frequentou durante 05 anos a escola de língua alemã, sendo apenas uma vez por semana, ministrado na língua portuguesa.

Ferreiro Carlos Pscheidt (Foto do acervo do Jornal Perfil
 de autoria de Alceu Solano Peyerl)


Constatando ser quase impossível sobreviver da agricultura, com apenas 15 anos, convidado por um parente, mudou-se para Guarapuava (PR), para trabalhar como aprendiz de ferreiro, onde permaneceu por 03 anos.  Retornando a Sertãozinho continuou o seu trabalho na agricultura, durante 03 anos, quando em 1935 empregou-se junto a ferraria de José Fink, em Oxford, onde trabalhou até 1940. Foi nesse período em 1939, que casou-se com Erna Fleischmann. A partir de 1940 partiu para o seu próprio empreendimento, em sociedade com Carlos Gessner, abrindo uma ferraria na localidade de Mato Preto, até a sua vinda para Rio Negrinho, em 04 de julho de 1952, onde se estabeleceu no bairro Cruzeiro, à rua Adolfo Olsen, que na época era apenas um carreiro estreito, em que não havia espaço para duas carroças se cruzarem.  Aqui encontrou como colegas de ofício o Sr. Rodolfo Liebl, estabelecido na Estrada Dona Francisca, o Sr. José Zipperer Sobrinho, na rua do Seminário e o Sr. Otto Rudnick, na rua Pedro Simões de Oliveira (então denominada rua Irani). Poucos moradores havia no bairro Cruzeiro, como a igreja Protestante (depois destruída por um vendaval), Germano Panneitz, André Bachal, Max Froehner, Carlos Jung, José Kling, Carlos Neppel, Sebastião Ferreira da Veiga, Pedro Bail, Roberto Reinhold e João Pscheidt. Era tão precária a situação da época, que a energia elétrica foi ligada apenas por volta de 1960.

Apesar da vida dura e trabalho incessante diário, conseguiu criar 09 filhos: Leopoldo, Leonardo, Elisabeth, Teodoro, Irene, Raulindo, Irineu, Francisco e Marcelino.

Muito religioso, logo ao chegar em Rio Negrinho, ligou-se em uma das congregações católicas, a Congregação Mariana, movimento crescente na época no Brasil, liderado em nossa cidade pelo vigário – Padre Celso Michels e o Professor Arnaldo Almeida de Oliveira. Contava na época, o movimento mariano com 38 participantes, com reuniões mensais, visitas aos doentes, confissão e comunhão mensais, influenciou inúmeros jovens em suas vidas. Sob a inspiração do Padre Luiz Gonzaga Steiner foram construídas 03 capelas que percorreriam a cidade, sendo que uma delas o “ferreiro” Pscheidt tomou a si a responsabilidade, de levar de casa em casa a novena em homenagem a Nossa Senhora, certamente trazendo alento espiritual para inúmeras famílias, já à 41 anos. A segunda capela ficou sob a responsabilidade de Paulino de Almeida e a terceira com João Tomas Pereira (já falecido).  Sua longa caminhada de novenas foi acompanhada durante muitos anos por Juvencio da Silva (já falecido) e atualmente por Osvaldo Schutzler e Carlos Guilherme Pilz.

Hoje viúvo, um pouco adoentado, infelizmente ao pouco serviço existente, torna-se difícil a sobrevivência, nenhum filho seguiu os passos do pai, somente o velho ferreiro teima em permanecer nesta profissão.

Para finalizar, relatou-se um fato pitoresco, ligado aos primórdios de Rio Negrinho, por volta de 1916, que determinou novos rumos a cidade.  Seu pai para complementar os rendimentos do sustento da casa, trabalhava para a firma “Zipperer” então situada na localidade de Salto, quando um determinado dia, Jorge Zipperer o convocou em companhia de Joaquim Simões de Oliveira, para se deslocarem até o futuro centro de Rio Negrinho. Lá segundo Jorge Zipperer já estava determinado o local da futura estação ferroviária e os marcos que delineavam os contornos da estrada de ferro, sendo necessário então encontrar um local para construção da futura indústria. Ao se depararem com o mato cerrado, começaram a roçar a picada na direção do futuro centro, e a sapiência antiga, não seguida por muitos, fez Jorge Zipperer procurar um local longe das enchentes, a exemplo da estrada de ferro, projetada acima do nível da grande enchente de 1891.  Foi assim que se deparam com o rio Negrinho, próximo ao prédio da ACIRNE, tendo que derrubar um pinheiro, para servir de pinguela, na travessia do rio, encontrando um local ideal, onde está situado ainda hoje o velho casarão da família Zipperer, nas esquinas das ruas Jorge Zipperer e Carlos Weber e longe das enchentes. Estava delineado o futuro de Rio Negrinho.

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Nota complementar do Blog: O ferreiro Carlos Pscheidt veio a falecer em 06 de setembro de 1996, com a idade de 82 anos, e está enterrado no Cemitério Parque da Colina, em Rio Negrinho.

domingo, 25 de março de 2018

GENTE NOSSA: GRUPO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE RIO NEGRINHO

Nota do Blog: No mês de agosto de 1995 o administrador deste Blog teve uma tratativa com João Paulo Ferreira, Diretor/proprietário do Jornal Perfil de Rio Negrinho, na qual foi-lhe apresentado um projeto de publicar-se uma coluna quinzenal, na qualidade de colaborador, denominada de GENTE NOSSA, no qual seria apresentada uma biografia de personagens de nossa comunidade, que sem serem autoridades municipais, por seus méritos e suas qualidades, a grande maioria anonimamente, mereciam um reconhecimento público. O Diretor/proprietário do Jornal Perfil prontamente concordou com a publicação, que com certeza despertou um grande interesse dos seus leitores. Por sugestão de Alceu Solano Peyerl, então repórter do Jornal Perfil, a coluna projetada preliminarmente como quinzenal foi publicada semanalmente, sob minha responsabilidade durante mais de 30 edições, entre 01 de setembro de 1995 a 14 de junho de 1996. Ressalte-se que a época o Jornal Perfil era publicado apenas semanalmente. Depois do meu afastamento voluntário, a coluna GENTE NOSSA, permaneceu por mais algum tempo sob a responsabilidade do próprio Perfil. Passo, a partir deste momento a reproduzir as publicações de GENTE NOSSA, que com certeza reproduzirá a vida e as ações de muitos de nossa terra, alias de vários que já não se encontram nós.


GRUPO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Nota do Blog: Este foi o primeiro texto da coluna GENTE NOSSA, publicado originalmente no Jornal Perfil – ano III, edição nº 121, em 01/09/1995. O texto original publicado no PERFIL trouxe apenas a foto de autoria de Alceu Solano Peyerl. O texto original foi atualizado em 03/04/2018, com uma Nota Complementar do Blog e fotos, do arquivo pessoal de Dioni Schoeffel, a quem agradecemos.


Em pleno final do século XX, no meio das brumas e borrascas da corrupção, da imoralidade e do materialismo, há alguns focos de espírito cristão que ousam em permanecer, como se fosse um rochedo diante do vai e vem das ondas do mar. Neste enfoque, tomamos contato, com um grupo de mulheres, das mais diversas idades, mas todas inspiradas em ajudar e minorar o sofrimento humano.

Sábado á tarde, horário de lazer e de descanso. Quem encontrasse reunidas em um salão de Igreja de São Roque, na divisa de Rio Negrinho e Mafra, levaria a imaginar que aquelas mulheres estariam apenas para um encontro social.  Muitas delas entrelaçadas com grau de parentesco, Martins e Schoeffel, tradicionais famílias, outras apenas amigas, unidas pior um ideal comum.

Tudo começou no distante maio de 1982, ou seja, á 13 anos, numa excursão a Aparecida do Norte, em visita a Imagem da Padroeira do Brasil, resolveram que no retorno ao nosso município, iniciariam um trabalho de ajuda aos carentes, principalmente aos idosos e crianças. Entre estas briosas senhoras que atuaram ou atuam, sob a invocação do Divino Espírito Santo, estão: Lourdes Pscheidt, Aurea Jantsch, Dioni Schoeffel, Almira Martins, Silvane Alberton, Laurinda Martins, Ines F. Schoeffel, Leonilda Gonçalves, Emilia Schutzler, Sueli Jantsch, Arlene Treml, Elenir Martins Schoeffel, Cleusa Petris, Marlene T. Pscheidt e Claudia Maria Schoeffel.


Grupo do Divino Espírito Santo 
(Foto do extraída do Jornal Perfil, de autoria de Alceu Solano Peyerl)


Com uma reunião mensal, junto a Igreja de São Roque, ou nas residências dos participantes, toda 2ª quarta-feiras do mês, primeiro rezando a novena do Divino Espirito Santo e posteriormente em reunião, coletam a mensalidade e discutem quais são as solicitações e famílias que poderão ser atendidas, principalmente as mais urgentes, com sacolões de mantimentos, medicamentos, passagens para tratamento de saúde, exames e consultas médicas, enfim um trabalho bastante diversificado de ajudas.

Este trabalho abrange várias famílias de vários bairros da cidade e nas localidades de Rio Preto e Bituvinha em Mafra, visto que as participantes residem parte em Rio Negrinho e outras em Mafra. Além do atendimento cotidiano, a atuação do Grupo do Divino Espírito Santo se avoluma nos finas de ano.  Quem ainda, não se compadeceu de uma criança pobre e carente, principalmente em véspera de Natal, nos festejos do nascimento do Menino-Deus e não procurar minorar com um brinquedo, comida ou roupa. A mobilização do Grupo na arrecadação de fundos se dá com rifas, doações, bingos, fazendo com que pelo menos 100 famílias e 250 crianças estampem um sorriso mais alegre.

No meio dos inúmeros casos atendidos, de tantos infortúnios atendidos, nestes 13 anos, dois casos aqui relatados resumidamente, para termos uma idéia da ação deste Grupo.  Um deles foi o atendimento de uma criança – Juliano – de nascença com problemas de pés tortos, necessitando de uma complicada cirurgia junto a especialista.  Filho de pais de pouca posses, sem a mínima possibilidade, este Grupo chamou a si o caso, contatou com médicos, ajudou com passagens e estadias, realizando por fim a cirurgia. Hoje a criança com seis anos, é o retrato vivo da frutificação do desvelo de um ideal.  Outro caso, bem recente, foi a visita de uma idosa – Francisca – viúva, que vive junto com uma excepcional, que foi encontrada praticamente abandonada, e esquecida pelos familiares, com um resto de comida, comendo fubá com água, sem sal, pois o mesmo faltava à mais de 03 meses. Hoje está sendo assistida.

Esta é a situação de muitas famílias em nosso Município que necessitam, dentro de critérios o apoio físico e moral.

O exemplo do Grupo do Divino Espírito Santo de amor e ajuda ao próximo, não é único entre nós, muitas associações e pessoas praticam este comportamento, mas para poder ser ampliado e difundido, fica o convite para que outras voluntárias se juntem e se unam a este Grupo.

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Nota complementar do Blog (atualizado em 03/04/2018):

Tudo é vaidade, tudo é vaidade,

Mas caminhar com Deus é cultivar,

Sementes no terreno da eternidade,

Tudo é vaidade, tudo é vaidade,

O meu patrimônio está no céu,

Estou plantando pra colher na eternidade.

(trecho de Tudo é Vaidade – Anderson Freire)

Os homens não são eternos. Os homens se perenizam através de seus feitos. Eles plantam sementes para a eternidade.

Neste contexto devemos olhar para o trabalho caritativo realizado por mais de 30 anos pelas beneméritas senhoras do Grupo do Divino Espírito Santo.

Gradativamente, com o correr destes anos, muitas já nos deixaram, outras foram impedidas por doenças. Outras tiveram outros impedimentos... porém, sementes foram plantadas.


Parte das componentes do Grupo do Divino Espírito Santo, a partir da esq.: Dioni Schoeffel, Silvane Alberton, Cleusa Petris (Papai Noel), Lindaura Muehlbauer e Lourdes Pscheidt (foto do acervo de Dioni Schoeffel)


Dona Lourdes Pscheidt e suas filhas Silvane e Dioni na entrega de presentes no final de ano (foto do acervo de Dioni Schoeffel)


Dona Lourdes Pscheidt, filhas Silvane e Dioni, e netas Cláudia e Elaine, na entrega de presentes no final de ano (foto do acervo de Dioni Schoeffel)


Dona Lourdes Pscheidt, suas filhas Silvane e Dioni e netos, na entrega de presentes no final de ano (foto do acervo de Dioni Schoeffel)


Dentre essas guerreiras e beneméritas está Maria de Lourdes Pscheidt, que até o fim de sua vida carregou este espírito, ajudado pelas filhas e netos. Suas obras, suas sementes, estão sendo colhidas na eternidade. Faleceu aos 85 anos, em 04/10/2015.


Dona Lourdes Pscheidt, ao centro, na entrega de presentes no final de ano
(foto do acervo de Dioni Schoeffel)