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domingo, 1 de março de 2015

RIO NEGRINHO: COMO ERAM REALIZADOS OS FUNERAIS E OS SERVIÇOS DE CEMITÉRIOS AO LONGO DOS TEMPOS!

Nota do Blog: O presente artigo é fruto de conversas mantidas com o jornalista Douglas Dias, que buscava as origens do carro fúnebre, que foi utilizado por mais de 3 décadas, em nossa cidade. Para elaboração do presente artigo foram entrevistados: Afonso Weiss, 82 anos, aposentado, morador da rua Jorge Lacerda, em Rio Negrinho; Ivo Antonio Liebl, empresário, morador do bairro no Bairro São Rafael; Reinaldo Treml, empresário, 76 anos, natural de São Bento do Sul, e morador de nossa cidade, desde 1967; Izilda Treml, natural de Canoinhas, moradora de Rio Negrinho, desde 1967; Adalberto Eurico Pruess (Bubi), músico, 70 anos; Humberto Piccinini, representante comercial, morador no bairro São Rafael; e, Bibi Weick, fotógrafo; as fotos do carro fúnebre são de autoria do jornalista Douglas Dias, a quem agradecemos.

Reinaldo Treml fundador e proprietário da primeira funerária de Rio Negrinho, a partir de 1972 (Foto: acervo do autor do Blog)
Izilda Treml, fundadora e proprietária da primeira empresa funerária de Rio Negrinho, a partir de 1972 (Foto: acervo do autor do Blog)
Afonso Weiss, 82 anos, mecânico aposentado e músico (Foto: acervo do autor do Blog)
Introdução
Diz um velho ditado que “a única certeza que temos na vida é a morte”. Com a vinda dos primeiros moradores de Rio Negrinho, ainda no final do século XIX até a formação da Vila de Rio Negrinho, a partir de 1910, os serviços funerários e de cemitério foram sendo implantados e se aprimorando ao longo destes mais de 150 anos. O presente estudo, ainda de caráter preliminar, certamente será enriquecido com outras informações, após a presente publicação.

Cemitérios
O sepultamento dos falecidos na região de Rio Negrinho, a partir de 1875, certamente eram realizados no Cemitério do Lençol. Neste local foram enterrados os falecidos até julho de 1923.
Naquela data foi construído o primeiro cemitério da cidade de Rio Negrinho, num terreno doado pelo pioneiro José Brey e pela empresa Ehrl & Cia. Desde setembro de 1999 este cemitério é denominado “Jardim da Saudade”.
Ele está localizado rua Pedro Simões de Oliveira, e o primeiro sepultamento se deu com a morte de Max Raschke, realizado em 03/07/1923.
Anos mais tarde, em 1981, por iniciativa do então prefeito Paulo Beckert, foi construído o Cemitério Municipal Parque da Colina.
Outros cemitérios se localizam em nosso município de cunho particular, como o de Colônia Olsen, Queimados e Caunal, implantados em datas ainda não devidamente levantadas.
As sepulturas seguiam a moda antiga, onde as sepulturas deviam ser abertas com 7 palmos, equivalente a 1,50 metros.
Um dos mais lembrados coveiros do Cemitério Jardim da Saudade é Alfredo Sandri, gaúcho de Passo Fundo, falecido com 68 anos, em 02/10/1966. 

Carro Fúnebre e Enterro
O translado dos defuntos nos primeiros tempos era feito pela alça das urnas funerárias ou em carroças puxadas por cavalos, improvisadas para esta finalidade.
O que sabemos é que a primeira carroça fúnebre em Rio Negrinho foi construída em 1954, por José Zipperer Sobrinho, contratado pela Prefeitura Municipal, recém desmembrada de São Bento do Sul.
José Zipperer Sobrinho e sua ferraria então situada à rua D. Pio de Freitas, esquina com a rua Jorge Lacerda (Foto: acervo de Alois Augustin)
José Zipperer Sobrinho tinha como de profissão ferreiro e era fabricante de carroças. Ele era natural de São Bento do Sul, casado com Elisabeth Brey, filha do pioneiro José Brey, falecido com 56 anos de idade, em 28/11/1954, deixando na oportunidade 8 filhos. A sua morte causou grande comoção na cidade.
Muitos ainda lembram que este carro fúnebre, ficou muito tempo estacionado na rua Carlos Weber, ao lado do antigo prédio da antiga Delegacia de Polícia e mais tarde no galpão, edificado no terreno do Sindicato Rural, no bairro Bela Vista, onde está localizado o atual prédio da Polícia Militar e do Bombeiros. Mais tarde, ficou sob a guarda da família de Engelberto Furst e seus descendentes, onde permanece até a presente data.
Um dos condutores do carro fúnebre ao longo de muitos anos foi Engelberto Furst, seguido mais tarde neste trabalho pelos seus filhos Pedro e Leo.
Na prestação dos serviços os condutores do carro fúnebre, eram contratados diretamente pelos familiares do falecido.
Enterro do agricultor Jorge Ruckl, ocorrido em 25/07/1957 (Foto: acervo de Leoni e Ernesto Tureck)
O serviço de transporte funerário através da carroça fúnebre foi sendo abandonado gradativamente pelo uso do transporte funerário automotivo, a partir de 1972, com a criação da primeira empresa funerária.
Os enterros lembrados como os maiores realizados com o uso do carro fúnebre dos últimos anos foi o do empresário Martim Zipperer, ocorrido em 24/11/1971 e o Evaristo Stoeberl, ocorrido em 12/11/1995.
Martin Zipperer, empresário e um dos diretores da antiga Móveis Cimo (Foto: acervo do Arquivo Municipal de Rio Negrinho)
Aliás, segundo informações, o enterro do empresário e tradicionalista Evaristo Stoeberl foi o último realizado pelo carro fúnebre.
A cor preta predominava, dos cavalos ornamentados com penachos ou fitas pretas. O condutor com seu terno escuro, e até a própria carroça toda, ornamentada tendo como ornamento principal uma cruz no teto.
E como em outras cidades, como Blumenau, São Bento do Sul e Pomerode, possuíam também seus carros fúnebres, no mesmo estilo, presume-se que tenham tido inspiração europeia.
O séquito do enterro era formado primeiro do padre ou do pastor, seguido dos familiares mais próximos, e logo após, pelos amigos e conhecidos.
Engelberto Furst, agricultor e carroceiro, era natural de Rio Negrinho, nascido em 07/11/1905, faleceu nesta cidade, com 84 anos, em 15/07/1990, casado com Rosa Anton, deixou 11 filhos.
Engelberto e Rosa Furst, ladeados pelos 11 filhos, em 1949 (Foto: acervo de Laércio Furst)
Carro Fúnebre Preservado
Atualmente, raríssimos exemplares ainda existem, em São Bento do Sul, a carroça fúnebre que serviu a cidade por muitos anos foi restaurada e hoje está em exposição permanente em frente ao cemitério municipal.
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias)
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias)
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias)
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias)
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias)
Já em Rio Negrinho, a família de Füerst tem preservado a carroça que serviu por décadas para transporte dos falecidos.
Laercio Fürst, 34 anos, conta que o veículo está sob a guarda da família há décadas, primeiro ficou aos cuidados de seu avô, de um tio, depois, quando este foi morar em outra cidade, seu pai, Leo Fürst, assumiu o trabalho.
“Devido uma doença degenerativa meu pai não pode mais conversar, e meu tio já é falecido, com isso, boa parte desta história não possa ser resgatada, nossa expectativa é que alguém que leia esta reportagem possa contribuir com alguma história e fotos desta época.”
Leo Furst, agricultor e tradicionalista, por muitos anos um dos condutores do carro fúnebre em Rio Negrinho (Foto: acervo da família)
Judita Maria Furst, esposa de Leo (Foto: acervo do autor do Blog)

Laércio Furst, filho de Leo (Foto: acervo do autor do Blog)
Empresa Funerária e Transporte Funerário Automotivo
Em 1967, Reinaldo Treml e sua esposa Izilda, oriundos de São Bento do Sul, se estabeleceram em Rio Negrinho, e criaram uma marmoraria. Em 1972, Reinaldo aconselhado pelos empresários Alberto Franz Muller e Evaristo Stoeberl, criou a empresa Funerária Nossa Senhora de Fátima, a primeira neste ramo em Rio Negrinho, que passou a prestar os serviços de fornecimento de urnas e o transporte funerário automotivo, até então inédito na cidade.
Segundo Reinaldo Treml, o primeiro veículo motorizado no transporte funerário foi uma Kombi e posteriormente por uma Caravan.
Reinaldo Treml seguiu na direção da empresa Funerária Nossa Senhora de Fátima até 1989, quando transferiu para outros proprietários.

Urnas Mortuárias
As urnas funerárias até 1972, antes do estabelecimento da primeira empresa funerária, eram fabricadas na empresa de Martin Schauz e posteriormente pela fábrica de Alberto Franz Muller, apelidado carinhosamente de Zé do Caixão, situado à rua Roberto Lampe.
A partir daquela data, Alberto Franz Muller e outros sócios fundaram a Móveis Muller, atual Milamóveis, situada no bairro Indl. Norte, abandonando este ramo de serviço.
As urnas funerárias após 1972, após o estabelecimento da primeira empresa funerária, começaram a serem adquiridas de empresas especializadas de outros municípios.
A própria Prefeitura fabricou durante muitos anos urnas mortuárias destinado aos menos favorecidos, através dos seus servidores Mauro Rodrigues, Sebastião Cavalheiro, Paulo Anton e Manoel Pereira.
Enterro realizado em 1982, saído da Igreja São Pedro de Colônia Olsen, rumo ao cemitério daquela localidade (Foto: acervo de Laércio Furst)
Capela Mortuária
Os velórios na cidade até a inauguração, em 02/11/1988, pelo prefeito Dr. Romeu Ferreira de Albuquerque da Capela Municipal Mortuária da Ressureição, eram realizadas nas moradas dos familiares dos mortos, e a partir daquela data, gradativamente aquele espaço foi sendo utilizado pela comunidade.
Atualmente, quase 100% dos velórios são realizados nas Capelas Mortuárias mantidas pela municipalidade.

Luto
Atualmente os sinais externos de luto por falecimento dos parentes mortos estão praticamente esquecidos.
Alguns sinais de luto eram externados por fita preta no braço, ou ainda uma pequena tira preta de pano na lapela. Muitas das senhoras enlutadas se utilizavam de saias ou vestidos pretos.
O luto era guardado por um ano e por alguns meses, dependendo do grau de parentesco.

Sinos
Por quem os sinos dobram? Rio Negrinho, sendo uma cidade ainda pequena, era comum, o falecimento ser anunciado pela batidas do sino da Igreja Matriz, nas mãos de Ignácio Gonchorowki ou do Leonardo Szostak, carinhosamente conhecido por Chico Bobo. Ignácio Gonchorowki e Leonardo Szostak eram requisitados e se prontificavam gratuitamente a fazer este trabalho pois moravam bem próximos da Igreja Matriz.
Com as batidas do sino da Igreja as pessoas se certificavam de quem havia falecido através do anúncio pelos familiares na Rádio Rio Negrinho, então a única existente.
Como quase 100% dos velórios eram realizados nas residências, os católicos após o velório transladavam o corpo até Igreja Matriz Santo Antonio, onde era feito as rezas próprias para o evento, e em seguida levado ao Cemitério Municipal. Tanto na chegada como na saída do funeral da Igreja os sinos eram repicados.
Este costume tradicional, atualmente é pouco usual, pois as rezas aos mortos são realizadas nas próprias Capelas Mortuárias e após são transladados diretamente aos cemitérios.
O sineiro Leonardo Szostak, mais conhecido por Chico Bobo, era natural de Itaiópolis, morou por anos em Rio Negrinho, acolhido na generosidade da sra. Angela Mallon, faleceu aos 69 anos, em 15/09/1987.
O sineiro Ignácio Gonchorowki, era natural de São Bento do Sul, seleiro de profissão, faleceu aos 88 anos, em 24/12/1991.
Enterro realizado na década de 1980, conduzido por Léo Furst, na esquina das ruas Arnaldo Almeira Oliveira e Luiz Scholz (Foto: acervo de Laércio Furst)

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