Nota do Blog: O presente artigo é fruto de conversas mantidas com o jornalista Douglas Dias, que buscava as origens do carro fúnebre, que foi utilizado por mais de 3 décadas, em nossa cidade. Para elaboração do presente artigo foram entrevistados: Afonso Weiss, 82 anos, aposentado, morador da rua Jorge Lacerda, em Rio Negrinho; Ivo Antonio Liebl, empresário, morador do bairro no Bairro São Rafael; Reinaldo Treml, empresário, 76 anos, natural de São Bento do Sul, e morador de nossa cidade, desde 1967; Izilda Treml, natural de Canoinhas, moradora de Rio Negrinho, desde 1967; Adalberto Eurico Pruess (Bubi), músico, 70 anos; Humberto Piccinini, representante comercial, morador no bairro São Rafael; e, Bibi Weick, fotógrafo; as fotos do carro fúnebre são de autoria do jornalista Douglas Dias, a quem agradecemos.
Reinaldo Treml fundador e proprietário da primeira funerária de Rio Negrinho, a partir de 1972 (Foto: acervo do autor do Blog) |
Izilda Treml, fundadora e proprietária da primeira empresa funerária de Rio Negrinho, a partir de 1972 (Foto: acervo do autor do Blog) |
Afonso Weiss, 82 anos, mecânico aposentado e músico (Foto: acervo do autor do Blog) |
Introdução
Diz um velho ditado
que “a única certeza que temos na vida é
a morte”. Com a vinda dos primeiros moradores de Rio Negrinho, ainda no
final do século XIX até a formação da Vila de Rio Negrinho, a partir de 1910,
os serviços funerários e de cemitério foram sendo implantados e se aprimorando
ao longo destes mais de 150 anos. O presente estudo, ainda de caráter
preliminar, certamente será enriquecido com outras informações, após a presente
publicação.
Cemitérios
O sepultamento dos
falecidos na região de Rio Negrinho, a partir de 1875, certamente eram
realizados no Cemitério do Lençol. Neste local foram enterrados os falecidos
até julho de 1923.
Naquela data foi
construído o primeiro cemitério da cidade de Rio Negrinho, num terreno doado
pelo pioneiro José Brey e pela empresa Ehrl & Cia. Desde setembro de 1999 este
cemitério é denominado “Jardim da Saudade”.
Ele está localizado rua
Pedro Simões de Oliveira, e o primeiro sepultamento se deu com a morte de Max
Raschke, realizado em 03/07/1923.
Anos mais tarde, em
1981, por iniciativa do então prefeito Paulo Beckert, foi construído o Cemitério
Municipal Parque da Colina.
Outros cemitérios se localizam
em nosso município de cunho particular, como o de Colônia Olsen, Queimados e
Caunal, implantados em datas ainda não devidamente levantadas.
As sepulturas seguiam a moda antiga, onde as sepulturas deviam ser abertas com 7 palmos, equivalente a 1,50 metros.
Um dos mais lembrados
coveiros do Cemitério Jardim da Saudade é Alfredo Sandri, gaúcho de Passo
Fundo, falecido com 68 anos, em 02/10/1966.
Carro
Fúnebre e Enterro
O translado dos
defuntos nos primeiros tempos era feito pela alça das urnas funerárias ou em
carroças puxadas por cavalos, improvisadas para esta finalidade.
O que sabemos é que a primeira carroça fúnebre em Rio Negrinho foi construída em 1954, por José Zipperer Sobrinho, contratado pela Prefeitura Municipal, recém desmembrada de São Bento do Sul.
O que sabemos é que a primeira carroça fúnebre em Rio Negrinho foi construída em 1954, por José Zipperer Sobrinho, contratado pela Prefeitura Municipal, recém desmembrada de São Bento do Sul.
José Zipperer Sobrinho e sua ferraria então situada à rua D. Pio de Freitas, esquina com a rua Jorge Lacerda (Foto: acervo de Alois Augustin) |
José Zipperer
Sobrinho tinha como de profissão ferreiro e era fabricante de carroças. Ele era
natural de São Bento do Sul, casado com Elisabeth Brey, filha do pioneiro José
Brey, falecido com 56 anos de idade, em 28/11/1954, deixando na oportunidade 8
filhos. A sua morte causou grande comoção na cidade.
Muitos ainda lembram
que este carro fúnebre, ficou muito tempo estacionado na rua Carlos Weber, ao
lado do antigo prédio da antiga Delegacia de Polícia e mais tarde no galpão,
edificado no terreno do Sindicato Rural, no bairro Bela Vista, onde está
localizado o atual prédio da Polícia Militar e do Bombeiros. Mais tarde, ficou
sob a guarda da família de Engelberto Furst e seus descendentes, onde permanece
até a presente data.
Um dos condutores do carro fúnebre ao longo de muitos anos
foi Engelberto Furst, seguido mais tarde neste trabalho pelos seus filhos Pedro e Leo.
Na prestação dos
serviços os condutores do carro fúnebre, eram contratados diretamente pelos
familiares do falecido.
O serviço de
transporte funerário através da carroça fúnebre foi sendo abandonado
gradativamente pelo uso do transporte funerário automotivo, a partir de 1972,
com a criação da primeira empresa funerária.
Enterro do agricultor Jorge Ruckl, ocorrido em 25/07/1957 (Foto: acervo de Leoni e Ernesto Tureck) |
Os enterros lembrados
como os maiores realizados com o uso do carro fúnebre dos últimos anos foi o do
empresário Martim Zipperer, ocorrido em 24/11/1971 e o Evaristo Stoeberl,
ocorrido em 12/11/1995.
Aliás, segundo
informações, o enterro do empresário e tradicionalista Evaristo Stoeberl foi o
último realizado pelo carro fúnebre.
Martin Zipperer, empresário e um dos diretores da antiga Móveis Cimo (Foto: acervo do Arquivo Municipal de Rio Negrinho) |
A cor preta
predominava, dos cavalos ornamentados com penachos ou fitas pretas. O condutor
com seu terno escuro, e até a própria carroça toda, ornamentada tendo como
ornamento principal uma cruz no teto.
E como em outras
cidades, como Blumenau, São Bento do Sul e Pomerode, possuíam também seus carros
fúnebres, no mesmo estilo, presume-se que tenham tido inspiração europeia.
O séquito do enterro
era formado primeiro do padre ou do pastor, seguido dos familiares mais
próximos, e logo após, pelos amigos e conhecidos.
Engelberto Furst, agricultor e carroceiro, era natural de Rio Negrinho, nascido em 07/11/1905, faleceu nesta cidade, com 84 anos, em 15/07/1990, casado com Rosa Anton, deixou 11 filhos.
Engelberto Furst, agricultor e carroceiro, era natural de Rio Negrinho, nascido em 07/11/1905, faleceu nesta cidade, com 84 anos, em 15/07/1990, casado com Rosa Anton, deixou 11 filhos.
Engelberto e Rosa Furst, ladeados pelos 11 filhos, em 1949 (Foto: acervo de Laércio Furst) |
Carro Fúnebre Preservado
Atualmente,
raríssimos exemplares ainda existem, em São Bento do Sul, a carroça fúnebre que
serviu a cidade por muitos anos foi restaurada e hoje está em exposição
permanente em frente ao cemitério municipal.
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias) |
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias) |
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias) |
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias) |
Carro Fúnebre de Rio Negrinho, sob a guarda da família de Léo Furst, na localidade de Rio Casa de Pedra (Foto: acervo do jornalista Douglas Dias) |
Laercio Fürst, 34
anos, conta que o veículo está sob a guarda da família há décadas, primeiro
ficou aos cuidados de seu avô, de um tio, depois, quando este foi morar em outra cidade,
seu pai, Leo Fürst, assumiu o trabalho.
“Devido uma doença
degenerativa meu pai não pode mais conversar, e meu tio já é falecido, com
isso, boa parte desta história não possa ser resgatada, nossa expectativa é que
alguém que leia esta reportagem possa contribuir com alguma história e fotos
desta época.”
Leo Furst, agricultor e tradicionalista, por muitos anos um dos condutores do carro fúnebre em Rio Negrinho (Foto: acervo da família) |
Judita Maria Furst, esposa de Leo (Foto: acervo do autor do Blog) |
Laércio Furst, filho de Leo (Foto: acervo do autor do Blog) |
Em 1967, Reinaldo
Treml e sua esposa Izilda, oriundos de São Bento do Sul, se estabeleceram em
Rio Negrinho, e criaram uma marmoraria. Em 1972, Reinaldo aconselhado pelos
empresários Alberto Franz Muller e Evaristo Stoeberl, criou a empresa Funerária
Nossa Senhora de Fátima, a primeira neste ramo em Rio Negrinho, que passou a
prestar os serviços de fornecimento de urnas e o transporte funerário
automotivo, até então inédito na cidade.
Segundo Reinaldo
Treml, o primeiro veículo motorizado no transporte funerário foi uma Kombi e
posteriormente por uma Caravan.
Reinaldo Treml seguiu
na direção da empresa Funerária Nossa Senhora de Fátima até 1989, quando
transferiu para outros proprietários.
Urnas
Mortuárias
As urnas funerárias
até 1972, antes do estabelecimento da primeira empresa funerária, eram
fabricadas na empresa de Martin Schauz e posteriormente pela fábrica de Alberto
Franz Muller, apelidado carinhosamente de Zé do Caixão, situado à rua Roberto
Lampe.
A partir daquela
data, Alberto Franz Muller e outros sócios fundaram a Móveis Muller, atual
Milamóveis, situada no bairro Indl. Norte, abandonando este ramo de serviço.
As urnas funerárias
após 1972, após o estabelecimento da primeira empresa funerária, começaram a
serem adquiridas de empresas especializadas de outros municípios.
A própria Prefeitura
fabricou durante muitos anos urnas mortuárias destinado aos menos favorecidos,
através dos seus servidores Mauro Rodrigues, Sebastião Cavalheiro, Paulo Anton
e Manoel Pereira.
Enterro realizado em 1982, saído da Igreja São Pedro de Colônia Olsen, rumo ao cemitério daquela localidade (Foto: acervo de Laércio Furst) |
Capela
Mortuária
Os velórios na cidade
até a inauguração, em 02/11/1988, pelo prefeito Dr. Romeu Ferreira de
Albuquerque da Capela Municipal Mortuária da Ressureição, eram realizadas nas moradas
dos familiares dos mortos, e a partir daquela data, gradativamente aquele
espaço foi sendo utilizado pela comunidade.
Atualmente, quase
100% dos velórios são realizados nas Capelas Mortuárias mantidas pela
municipalidade.
Luto
Atualmente os sinais externos de luto por falecimento dos parentes mortos estão praticamente esquecidos.
Alguns sinais de luto eram externados por fita preta no braço, ou ainda uma pequena tira preta de pano na lapela. Muitas das senhoras enlutadas se utilizavam de saias ou vestidos pretos.
O luto era guardado por um ano e por alguns meses, dependendo do grau de parentesco.
O luto era guardado por um ano e por alguns meses, dependendo do grau de parentesco.
Sinos
Por quem os sinos
dobram? Rio Negrinho, sendo uma cidade ainda pequena, era comum, o falecimento ser
anunciado pela batidas do sino da Igreja Matriz, nas mãos de Ignácio
Gonchorowki ou do Leonardo Szostak, carinhosamente conhecido por Chico Bobo. Ignácio
Gonchorowki e Leonardo Szostak eram requisitados e se prontificavam
gratuitamente a fazer este trabalho pois moravam bem próximos da Igreja Matriz.
Com as batidas do
sino da Igreja as pessoas se certificavam de quem havia falecido através do
anúncio pelos familiares na Rádio Rio Negrinho, então a única existente.
Como quase 100% dos
velórios eram realizados nas residências, os católicos após o velório transladavam
o corpo até Igreja Matriz Santo Antonio, onde era feito as rezas próprias para
o evento, e em seguida levado ao Cemitério Municipal. Tanto na chegada como na
saída do funeral da Igreja os sinos eram repicados.
Este costume
tradicional, atualmente é pouco usual, pois as rezas aos mortos são realizadas
nas próprias Capelas Mortuárias e após são transladados diretamente aos
cemitérios.
O sineiro Leonardo Szostak,
mais conhecido por Chico Bobo, era natural de Itaiópolis, morou por anos em Rio
Negrinho, acolhido na generosidade da sra. Angela Mallon, faleceu aos 69 anos,
em 15/09/1987.
O sineiro Ignácio
Gonchorowki, era natural de São Bento do Sul, seleiro de profissão, faleceu aos
88 anos, em 24/12/1991.
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