Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho (em 2013).
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. A cada página de Rio Negrinho antigo publicada, embarcamos na máquina
do tempo e viajamos para o passado há muitos anos atrás para vislumbrar como
era nossa cidade, como era a vida das pessoas em casa, no trânsito, na escola,
no trabalho, no lazer, na sociedade, na religião, no comércio e em todos os
setores atuantes no dia a dia do cidadão. Aos poucos vamos descobrindo nosso
passado e dele podemos tirar lições para melhorar nosso futuro. Hoje contaremos
algumas histórias interessantes. Uma delas é da década de 60, acontecida na Rua
do Sapo (Rua Jorge Lacerda). O nome de Rua do Sapo foi dada naturalmente para
esta via pública da cidade devido à grande quantidade de sapos existentes nos
banhados e nas valetas que ladeavam a rua nos dois lados de ponta a ponta. As
valetas escoavam as águas vindas dos morros, pois a Rua Jorge Lacerda foi
traçada no meio de dois morros que formam um vale entre eles proporcionando um
lugar ideal para a proliferação do simpático animal comedor de insetos. À noite
inteira podia-se acompanhar as serenatas orquestradas das rãs e dos sapos por
todos os cantos. Eu nasci e morei ali e lembro como era bom escutar o canto dos
bichinhos que induzia a um bom sono. Por exemplo, mais tarde quando casei,
minha filha Virgínia só pegava no sono quando eu a levava no colo, lá fora,
para escutar o “foi não foi” dos sapos. Em poucos minutos ela adormecia
profundamente. E nunca ninguém reclamou da sinfonia batráquia.
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RUA JORGE LACERDA EM 1976. Reapresentamos
esta foto com a finalidade de mostrar como era a Rua Jorge Lacerda (Rua do Sapo). Naquela casa, lá
em baixo na esquina, construída pelo meu avô Fernando Tureck, foi onde nasci e
morei em boa parte da minha vida. Nesta data da foto (1976) as valetas já
estavam entubadas e, com isso, a rua ficou mais larga. Note que a rua foi
traçada entre os dois morros (um em cada lado da rua). No início tudo aquilo
era banhado (terreno lodoso) que aos poucos foi sendo aterrado à medida que se
construíam as casas. Há tempos atrás não havia muros. As casas eram cercadas
com cerca de ripas de madeira como mostra a foto seguinte.
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RUA JORGE LACERDA EM 1969. Observe que
estão faltando algumas ripas na cerca que permaneceu assim até ser desmanchada
há muitos anos depois. Aqui vai uma das histórias que abrange a cerca de ripas.
Na região havia dois bares onde os cidadãos embebedavam-se: o do Walfrido
Carvalho, na referida casa da primeira foto e, uns quatrocentos metros dali, o
do Boelitz, em frente à Oficina Mecânica Rio Negrinho. Era domingo à tarde. Os
bebuns já tinham tomado todas e, com os ânimos alterados, iniciaram duas brigas
ao mesmo tempo, uma em cada bar. Vale lembrar que não havia telefone para chamar
a polícia e até que alguém fosse até a delegacia e os policiais viessem até o
local, passava-se de meia hora até uma hora. Nesse tempo as brigas já tinham
evoluído para pior. Quando já tinham quebrado as cadeiras, garrafas e banquetas
dentro dos bares, os valentões rolaram para a rua onde a pancadaria tomou
volume à base de pedradas e socos. Uns corriam prá cá, outros corriam prá lá de
modo que os dois grupos foram se movendo e se aproximando um do outro. Alguém
dos combatentes teve a idéia de arrancar uma ripa da cerca para atacar e se
defender. Acontece que a rua inteira era ladeada de cercas desse material
então, em poucos minutos, cada “soldado” já empunhava uma espada de madeira. “Vapts”
(ruído das ripas silvando no ar) e “Pás” (barulho das pancadas nos lombos dos
adversários) eram escutadas lá e cá, até que as duas gangues – uns dez homens
em cada uma - se encontraram no meio do trajeto. Aí a maior confusão ficou
estabelecida: não mais se sabia quem brigava com quem, aquele que estivesse
mais próximo levava ripada. De vez em quando alguns bêbados caíam nas valetas e
ficavam atolados até os joelhos na lama do fundo. Difícil era sair de lá e
quando saiam já tinham comido meio quilo de barro! Um espetáculo desses nunca
mais se repetirá em Rio Negrinho e eu tive o privilégio de apreciá-lo assim
como a mulherada escondida atrás das cortinas das casas. Esse encontro
histórico dos “heróicos combatentes” da Rua do Sapo aconteceu nos idos anos 60,
mais ou menos no lugar que a fotografia mostra, onde, hoje, está sendo
construído um edifício. Muita gente saiu bem machucada pelas ripadas que
recebeu. Alguns apanharam mais que as surras que levavam com o pau de macarrão
da mulher quando chegavam bêbados em casa. A polícia, que locomovia-se de
bicicleta ou jipinho, quando chegou nada mais encontrou, pois os dois bandos
inteiros haviam evaporado como que por encanto. No outro dia a Prefeitura teve
o trabalho de recolher os cacos de ripas espalhados ao longo da rua. Nestes
dois bares as disputas no braço eram constantes, às vezes com armas brancas e
de fogo. Contam que numa dessa brigas a polícia foi chamada, mas, enquanto
locomovia-se para o local, os bandalheiros fugiram. Os policiais apenas
encontraram um bêbado dormindo debaixo de um banco. Acordaram o cachaceiro e
deram voz de prisão. Ele defendeu-se dizendo nada ter visto e nem ter participado
da peleja. Aí os policiais concluíram: -“você tem razão, mas vai preso do mesmo
jeito, alguém nós temos que levar, pô!”. Aproveitemos a máquina do tempo e
vamos dar um passeio pelo bairro Vila Nova.
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BAIRRO VILA NOVA EM 1967. Foto clicada
em cima da ponta do morro, que não mais existe, ao lado da BR 280, próximo uns
100 metros do Posto Naceo. Vila Nova era uma pequena vila. Bem ao fundo, na
foto, o campo do Grêmio Esportivo Vila Nova lá no alto do morro que não tinha
grama e os times de futebol jogavam sobre o cascalho levantado poeira do chão.
Cá em baixo, a BR 280 com um único veículo trafegando nela. Que diferença 46
anos depois (hoje) quando fica difícil para atravessá-la de uma margem para
outra. Já cogitou-se muito em desviar esta Rodovia para fora dos quadros da cidade,
mas até agora nada foi feito e, pelo jeito, os acidentes e as mortes, que são
constantes, continuarão acontecendo na extensão do perímetro urbano,
principalmente nos trevos, que não acompanharam o crescimento da frota
veicular. Subi no que resta da ponta do morro, mas não mais foi possível
fotografar do mesmo ângulo devido ao matagal que cresceu no local ao longo
destes 46 anos.
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CAMPO
DE FUTEBOL DO GRÊMIO ESPORTIVO VILA NOVA - 1967.
Naquele tempo a bola rolava no chão de cascalho. Os jogadores cobriam-se de pó
dos pés à cabeça. Na foto, da esquerda para a direita os quatro jogadores
emprestados do OMERI F.C. para o Grêmio Esportivo Vila Nova disputar um campeonato
intermunicipal em 1967: João Pereira (J. Silva), Traudio Antonio Tureck, Orlando Tureck (Landi) e Celso Crispim Carvalho (eu). |
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O MORRO, ATUALMENTE, (A PONTA DELE FOI REMOVIDA). Em cima havia um grande
espaço com grama onde eu levava um violão e com uns 20 ou 30 jovens cantávamos
canções da Jovem Guarda que estava na moda naqueles anos (60 a 70). Era uma diversão
sadia sem bebida alcoólica e nem drogas. Lembro que sobre drogas nem se falava.
Esse mal do Século XXI ainda não havia chegado até nossa cidade. A AIDS não
existia. Tudo girava na maior tranqüilidade.
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NO FINAL DA DÉCADA DE 60 RIO NEGRINHO ERA
ASSIM. O centro da cidade, em 1970, vista de cima do morro onde hoje está a Pousada João de Barro.
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BAIRRO VILA NOVA – 1967. Hoje, neste
terreno vazio logo em frente, está uma loja de construção e, no outro lado do
asfalto, logo a frente, o Posto Naceo. A fotografia seguinte do mesmo ângulo da
anterior, mostra o progresso às margens da rodovia e, nela o trânsito intenso.
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RODOVIA
BR 280 ATUALMENTE.
Provavelmente, quando foi construída, não pensou-se na sua projeção para o
futuro. E a tendência é piorar muito nos próximos anos. Há momentos, durante o
dia em que os engarrafamentos param o trânsito nos dois sentidos desde o trevo
com a rua Willy Jung até o alto do bairro Vila Nova dificultando a vida dos
motoristas. É um grave problema que deveria ser resolvido, mas não está sendo
feito! Se bobear, qualquer pessoa a pé ou de carro corre risco de acidentar-se.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS. É certo que o progresso apareceu naturalmente. É errado que as
autoridades não tomem medidas eficazes para corrigir problemas acumulados em
função do progresso ao longo do transcorrer dos anos. É certo que pessoas
comprem carros para locomover-se mais cômoda e rapidamente. É errado que com
isso tenham que expor suas próprias vidas ou dirigirem mal preparadas. Quantos
saem de casa e não voltam mais com vida! É certo que pessoas, carros e cargas
de mercadorias ganhem tempo na locomoção de um lugar para outro, mas é errado
que tenham que sofrer transtornos com isso! Rio Negrinho vem crescendo
merecidamente e, nesse crescimento, acumulando vários dissabores que não
deveriam estar na pauta do progresso. Há o que se fazer! Por hoje é só! Estamos
felizes e agradecidos por você ter lido nossa reportagem. Um forte abraço de
Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!
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