Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. VIAGEM NO TEMPO. Admirando fotos antigas pode-se
fazer uma linda e sensacional viagem no tempo. Basta comprar um ingresso no
trem da imaginação e deixá-lo rodar livremente nos trilhos do passado rebuscando
os sabores visuais, auditivos e sensitivos dos tempos que não voltam mais! Aliás,
voltam sim, na sua viagem imaginária! E se forem boas lembranças o passeio será
bem mais gostoso! Muitas pessoas dizem que, quando viajam ao passado pelos
caminhos da imaginação, conseguem sentir perfumes e sensações de algumas coisas
de tempos longínquos ou, também, quando no presente aspiram um perfume, por
exemplo, resgatam automaticamente recordações muito nítidas de uma pessoa com a
qual tiveram contato há muitos anos atrás. Tudo isso emerge junto com uma boa
dose de saudade: o corpo permanece mas o espírito voa no tempo! Nosso cérebro é
uma máquina incrível: com estímulos específicos externos ou internos consegue
trazer à tona fulgentes imagens e sensações remotas consideradas perdidas no
tempo. Em outras palavras, o cérebro resgata o passado longínquo para o tempo
presente em sensações reais. Este é um forte motivo para que não se rebusque
passados turbulentos sob pena de sofrimento atual e real.
RIO NEGRINHO NA DÉCADA DE 60. Na foto meio
desfocada vemos a Igreja Matriz Santo Antonio ainda sem torre; vemos os morros não
ocupados por construções; vemos a chaminé da fábrica de móveis Afonso Klaumann
que ainda era ativa – perto da Igreja de Confissão Luterana. Nossa cidade era pequena e tranqüila. Poucas
ações violentas de qualquer ordem aconteciam e quando aconteciam sempre
causavam surpresa e estranheza devido à pacatez reinante. Rio Negrinho era
assim: de manhã, boa parte dos habitantes ia para o trabalho na Móveis Cimo, em
outras indústrias, nas oficinas e no comércio. No final do dia voltava para
casa com seus familiares para conversar e escutar rádio que era a principal
atração nos dias de semana, pois não havia TV. Nos finais de semana sempre
rolava um bom jogo de futebol nos campos de um ou dois dos quatro principais times
de futebol de nossa cidade - Omeri, Continental, Ipiranga e Vila Nova - onde a
torcida, numa gritaria adoidada, se descabelava toda e torcia frenética e
fanaticamente pelo seu time do coração. Os bons jogadores eram bem vistos na
sociedade e ganhavam bons empregos. As meninas andavam “de olho” neles porque
eram famosos na região. A moça que conseguia namorar ou casar com um deles era
invejada pela patota feminina. Também havia cinema nas Quartas, Quintas,
Sábados e Domingos. Os filmes do Mazzaropi atraiam multidões que lotavam a sala
do Cine Rio Negrinho que tinha 550 poltronas. Fato interessante: quem ficava em
pé durante duas horas durante o filme, por falta de lugar para sentar, não reclamava.
Pelo contrário, saía satisfeito e elogiando muito o filme. Às vezes as filas
para a compra de ingressos contornavam a esquina em frente à praça do avião e o
mesmo acontecia no outro lado com a fila que se estendia em direção à Ponte
Péricles Virmond, próximo ao Hotel e Salão Dettmer. Nos finais de semana mais
atrações divertidas completavam o lazer e o prazer das pessoas: teatros,
circos, parques de diversões, corridas de cavalos nas raias (isto mais
antigamente), grandes e animadas festas no pátio da Igreja Matriz; a Rádio Rio
Negrinho promovia shows musicais no palco do cinema – naquele tempo a Rádio
tinha seu próprio auditório onde o público podia ver e aplaudir de perto os
cantores e violeiros que lá se apresentavam nos domingos de manhã. A nossa
querida Rio Negrinho era divertida, boa e prazerosa para se viver! Já perto dos
anos 70 a TV em preto e branco entrou nos lares e as famílias estagnaram para
ver o que as emissoras de televisão apresentavam. Daí em diante, gradativamente,
os costumes e o modo de vida mudaram, porque os modelos nefastos da mídia
fizeram reféns as pessoas que, aqui e ali, os copiavam e faziam suas cabeças. O
futebol de campo foi acabando, assim como os freqüentadores do cinema. Até as
igrejas perderam muito com o avanço inexorável do comodiso dentro de casa para
ver TV. Muita coisa boa se salvou do tiroteio da mídia, mas encurralou-se em
trincheiras que, aos poucos, o tempo esmoreceu.
BAILADO. (foto
extraída do Blog Rio Negrinho no Passado). Note um senhor próximo ao palco
usando suspensórios, aquelas tiras elásticas por sobre os ombros. Havia um
tempo em que este aparato para segurar as calças era comum e moda entre os
homens. Vemos, também, outros usando chapéu. Também o chapéu era moda e sempre
acompanhava o resto da vestimenta masculina. Os mais educados, ao entrar nas
igrejas ou nas casas alheias e quando sentavam à mesas para cear, tiravam o
chapéu em sinal de respeito. Aliás, o tal de respeito era praticado como norma
obrigatória em todos os segmentos da sociedade. Existia bom senso e
cavalheirismo! Maus costumes e hábitos eram corrigidos severamente! Seria muito
bom e vantajoso que regras modeladoras para formar pessoas bem educadas
voltassem aos nossos modernos tempos que desandaram ao inconseqüente! Nota do Blog: Este bailado, realizado ao início da década de 1950, vai merecer por parte deste Blog uma matéria especial.
PONTE CENTENÁRIO. (foto extraída do Blog Rio Negrinho no Passado) Esta foto é muito antiga e provavelmente você não reconhece o
lugar que hoje está muito mudado, mas é a ponte sobre o rio Negrinho, situada à rua Capitão Osmar Romão da Silva, ao lado do Colégio São José. Veja só como era estreita – mal cabia uma carroça! Chegou a ser interditada para o tráfego de veículos, sendo permitido a travessia a pé. O caminho não
era muito mais que um carreiro! A maioria das pontes era feita com o material
mais abundante da época: a madeira. Além da facilidade prática e da rapidez na
sua construção o custo compensava! Nota do Blog: As obras de retificação do rio e da construção da nova ponte foi durante o transcorrer de 1979 e início de 1980, e foi inaugurada em 24/04/1980, obra do Governo do Estado de SC, pelo então Governador Jorge Konder Bornhausen, no governo municipal do então prefeito Paulo Beckert.
PRIMÓRDIOS. As
casas dos primeiros imigrantes eram feitas nesse estilo. Em muitas delas, de
tábuas e troncos, não se usava um único prego. Era tudo construído na base do
encaixe. Até as telhas eram fabricadas de pequenas chapas de tábuas também
encaixadas umas nas outras. Tudo, mas tudo mesmo, o colono tinha que fazer com
as próprias mãos! Desde arrancar cepos até a última peça da casa! Em São Bento
do Sul ainda há algumas casas desse tipo que sobreviveram às intempéries.
HISTÓRICA FOTO DOS OPERÁRIOS DA MÓVEIS CIMO EM MEADOS DA DÉCADA DE 1930 (foto do Blog Rio Negrinho no
Passado, cedida por Ivone Rodrigues). Não
me dei ao luxo de contar quantas pessoas há na foto, mas calculo umas
quatrocentas! A Móveis Cimo de Rio Negrinho chegou segundo estimativa, nos áureos tempos a mil e
quinhentos empregados diretos. Nas pilhas de madeira havia estoque entre 10 e 13 mil
metros cúbicos. Como foi que a Cimo foi à falência e para onde foi tanta
madeira?
PALÁCIO DE ESPORTES JOSÉ BRUSKY JR "BRISKÃO" SENDO CONSTRUÍDO, EM 1979. Terraplenagem e aterro do terreno.
Ali foram instaladas 371 luminárias de 400 watts. O Briskão foi o primeiro ginásio de esportes coberto de Rio Negrinho, inaugurado em 1980. Foi uma obra do Governo de SC, através do Governador Jorge Konder Bonhausen.
ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR RICARDO HOFFMANN. Assim foi o começo da escola que hoje está muito ampliada
devido ao grande aumento da clientela. O bairro Industrial Norte aumentou e a escola obrigou-se
a acompanhar a demanda. Hoje, próximo dali, já há outra escola e com o passar
do tempo mais outras serão construídas.
AMPLIAÇÃO DA ESCOLA MUNICIPAL LUCINDA MAROS
PSCHEIDT. Também no Bairro Vista Alegre foi necessário ampliar a escola. O
progresso do bairro aumentou o número de crianças. E assim vai ser sempre. Tudo
se modifica por força natural da evolução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS. Olhando para trás
sentimo-nos privilegiados. Os avanços trouxeram facilidades. Hoje, em cada
bairro há uma unidade de saúde. Construíram-se novas escolas, algumas de grande
porte. As ruas estão quase todas asfaltadas. As viaturas policiais fazem rondas
pelas ruas visando a segurança pública. Enfim, apesar dos problemas que vieram
junto com o progresso, a vida está mais fácil para quem realmente deseja viver
melhor! Por hoje é só! Muito obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de
Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!
Ainda me lembro da ponte do Centenário quando era daquele jeito. Era um dos meus caminhos do colégio pra casa, no bairro Alegre.
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