Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Cada um de nós tem histórias para contar. Criança, jovem, adulto ou velho, todos temos lembranças boas e ruins de experiências que aconteceram em nossas vidas e que marcaram o momento pela importância ou pela peculiaridade, e essas recordações permanecem vivas e grudadas em nossas personalidades. Em cada vez que recordamos aqueles momentos especiais, automaticamente voltamos no tempo e, de certo modo, vivemos novamente as cenas do passado. Vamos embarcar na máquina do tempo e recordar um pouco do Rio Negrinho antigo. Aproveito a viagem no tempo ao passado para contar uma das minhas histórias de menino, um momento mágico que vivi nos meus sete anos de idade. Era o ano de 1957. Eu (Celso), até então, nunca tinha saído de casa, sempre protegido pelas asas da minha mãe. Não conhecia nada além da cerca de ripas que rodeava o terreno da minha casa e da valeta funda que passava bem em frente.
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CASA ONDE NASCI E VIVI, NA RUA JORGE LACERDA (RUA DO SAPO) - Foto de 1976. Foi aqui que minha mãe, de repente, num belo
dia de domingo, comunicou-me que no dia seguinte, segunda-feira, eu iria para a
escola. Eu estava matriculado no colégio das irmãs religiosas, o Educandário Santa
Teresinha, hoje Colégio Cenecista São José. Na segunda-feira lá fui de mãos dadas com
minha mãe e quando chegamos próximo ao colégio fiquei impressionado com o
tamanho daquela casa, nunca tinha visto uma com tantas janelas empilhadas para
cima e para os lados. Entramos por um portão de madeira num grande pátio onde
muita gente grande conversava e a criançada corria e brincava. Fiquei animado,
pois aquilo mais parecia um paraíso muito alegre e o melhor de tudo: para
qualquer direção que eu olhava via muitas meninas bonitas. Uau! Tô nessa! Minha
mãe nunca tinha me contado que Rio Negrinho tinha tantos “chuchuzinhos”.
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PÁTIO DO EDUCANDÁRIO SANTA TERESINHA EM
1957. Nele não havia nenhuma construção, apenas uma quadra circular de
educação física, e duas pilhas de tijolos, no lado oposto ao colégio, que
provavelmente seriam destinados à construção de muros. Foi ali, que tive minha
primeira experiência de coletividade integrando-me aos grupos de roda, de
peteca, de pula-pula e de outras brincadeiras da época. Em certo momento,
ouviu-se uma sineta e todos correram para formar fila em frente uma porta que
dava acesso a um grande corredor que por sua vez levava às salas de aula.
Também entrei na fila e logo fomos conduzidos, cada grupo de alunos às
respectivas salas de aula.
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SALA DE AULA ONDE ESTUDEI NO PRIMEIRO ANO
PRIMÁRIO (1957). Esta foto foi clicada antes de entrarmos na sala,
provavelmente por minha mãe no ano de 1957. Na frente, logo acima do
quadro-negro, a imagem de Santa Teresinha que dava nome ao colégio e um
crucifixo acima da cabeça dela enfeitavam a parede. Entrei na sala de aula com
grande expectativa pelo que viria acontecer, sentei com um coleguinha no
primeiro banco da frente –as carteiras escolares eram duplas-, olhei para aquele
quadro preto na frente da sala e fiquei imaginando para que serviria aquilo. Todos
esperavam ansiosos pela professora e, nas conversas com alguns coleguinhas,
soube que nossa professora seria a Irmã Umbelina. De repente a porta- que
aparece na foto - se abriu e apareceu um enorme dinossauro vestido de preto,
com um círculo branco ao redor do pescoço, um pano preto sobre a cabeça, uma
faixa branca na testa e dois olhões verdes de bicho feroz que me fixaram e me
fizeram gelar até o último osso do corpo. Era a Irmã Umbelina que parou no vão
da porta e nos cumprimentou com voz grave: “Bom Dia”! Aí, não me contive: para
salvar a pele arredei minha carcaça dali a toda velocidade, acho que bati o
recorde dos cem metros rasos. Como passei pela porta não sei! Penso que foi por
baixo da saia dela, pois pelos lados não havia espaço. Sumi do recinto em
poucos segundos. Procuram-me por todos os cantos e nada! Depois de meia hora de
frenética busca sem sucesso minha mãe foi chamada porque conhecia bem meus
hábitos e meus truques. Ela chegou, escutou os relatos, deu uma olhada ao redor
e – a amiga da onça - levou um bando de dinossauros vestidos de preto direto
para as pilhas de tijolos que aparecem na segunda foto. E não vai que ela
acertou meu esconderijo?! Lá estava eu, tremendo de medo, espremido bem no
fundo de um pequeno vão de difícil acesso entre as pilhas de tijolos! Difícil
foi arrancar-me de lá. Agarrei-me com unhas e dentes nos tijolos e foi preciso
desmanchar boa parte das pilhas para que eu fosse resgatado. Minha mãe levou-me
para casa e não foi fácil convencer-me que aquele dinossauro não era um bicho
feroz e sim uma simpática freira que iria me ensinar muitas coisas
interessantes. Essa foi minha primeira aventura fora de casa! No colégio a
disciplina e o ensino eram rigorosos! Todo mundo tinha que estudar mesmo, senão
entrava na vara de marmelo em casa! Ai de que proferisse um palavrão. Veja que
diferença nos dias atuais: os palavrões são fartamente diccionados e aplaudidos
nos programas de TV sob o escudo do “direito da livre expressão”! Naquele tempo
os pais colaboravam estreitamente com os professores no andamento dos estudos
dos filhos. Um regime disciplinar como aquele faria um grande bem aos bandos de
moleirões que nada querem com o estudo e pensam que são donos do mundo.
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IRMÃ UMBELINA, EM PRIMEIRO PLANO. Ela até que não era tão gorda, tão feia e tão
ruim assim como eu a havia imaginado. Naquele pé de pêra que aparece na foto,
na frente das pessoas, eu subia todos os dias até que uma menina (tinha que ser
menina!) caiu de lá e, daquele dia em diante, foi proibida sua escalada. Lembro
que todos os meninos “olharam torto” em mais de um mês para a “sirigaita” que
nos tirou a principal diversão. Ao fundo aparece a construção dos banheiros e,
perto, os ranchos onde as freiras guardavam ferramentas e outros pertences
úteis. Um deles era galinheiro e atrás daquelas construções as freiras
cultivavam uma belíssima horta. Elas tinham até uma roça de milho naquele
local. Em edições futuras pretendemos mostrar como era o galpão nos fundos, o
salão de reuniões com palco e tudo para teatros e outras apresentações e as
imediações do colégio.
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ENCHENTE NO CAMPO DO OMERI EM 1964. Aproveitemos
a máquina do tempo e façamos uma pequena viagem pelos campos de futebol de Rio
Negrinho. Em 1964, meu marido, Celso, jogava no Omeri F.C. com sede (campo)
situado à beira do Rio dos Bugres, chamado Estádio Max Anton, na localidade de
Rio dos Bugres, próximo onde hoje está o atual campo do Esporte Clube Continental. Bastava uma
chuvarada intensa para que o campo ficasse alagado como mostra a foto acima.
Esse tipo de inundação era comum em tempos chuvosos porque o campo estava a
pouco mais de um metro acima do nível normal do Rio dos Bugres. Foi nesse campo
que Celso iniciou, ainda aos 14 anos de idade, a carreira de goleiro no time do
Omeri. OMERI era a abreviação de Oficina Mecânica Rio Negrinho. A foto seguinte
mostra o time inteiro.
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TIME DO OMERI FUTEBOL CLUBE, NA
OPORTUNIDADE DA INAUGURAÇÃO DOS MACACÕES, EM 20/02/1966. De
frente para trás: Alcides (Barbosa) José (treinador), Traudio Antonio Tureck, Vitor Buchmann, José Padilha, Silvio da Silva, Eugenio (Orge) Tureck, Lula, Raul Fernandes de Lima, Alvino Maros, Joaquim Vicente, Nelson Barbosa, Pedro, Mario Bolduan, Pacheco, Antonio Barbosa (Nico), Celso Carvalho,
Deque, Itamar Simões (Puio), João Pereira (J. Silva) e o Hugo Vieira Martins (massagista). Eu (Mariana) era menina, mas gostava de ir aos campos
de futebol para ver o jogador Celso que era chamado de goleiro voador pela
agilidade e o grande impulso que tomava quando “voava” de encontro à bola. Veja
a foto seguinte.
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CELSO, O GOLEIRO VOADOR. Foto obtida
depois de muitas tentativas do fotógrafo que ficou o jogo inteiro batendo fotos
dele até que conseguiu este magnífico instantâneo em uma das voadas que
caracterizou esta espetacular defesa de um chute da risca da grande área. Eu e
a torcida ficamos eletrizadas com este lance, mas nem de longe poderia imaginar
que aquele belo rapaz voador seria meu futuro marido! Bem! Eu (Mariana) era muito jovem,
mas confesso que já pensava em tal possibilidade nos meus sonhos de menina.
Assim como ele agarrava a bola e não a soltava, eu, mais tarde, o agarrei e não
mais o soltei! Ele está nas minhas
garras até hoje! Não foi fácil porque tinha mais umas trinta “zoiudas” afiando
as unhas para fisgá-lo!
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CONSIDERAÇÕES FINAIS. As histórias que
estamos relatando não são mera fantasia. São fatos que estão muito vivos em
nossas memórias e que servem para rechear e tornar mais saborosa nossa viagem
de volta no tempo. Por hoje é só! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana!
Fique com Mamãe e Papai do Céu!
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