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sábado, 17 de maio de 2014

UM OLHAR SOBRE RIO NEGRINHO ! (18)

Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. UMA ATENÇÃO ESPECIAL PARA RIO NEGRINHO. Se focarmos com aplicação cuidadosa o nosso pedacinho de Brasil, veremos que Rio Negrinho no presente é um bom lugar para morar, graças a todos que, ao longo do tempo, lutaram por esta cidade. Tijolo por tijolo, tudo foi construído com esforço de muita gente que se empenhou, às vezes com grande sacrifício, para que tudo evoluísse e ficasse agradável como está hoje. A maioria das ruas pavimentadas facilita a integração entre bairros por ônibus, carros, motos, bicicletas e mesmo a pé. Apesar de alguns problemas, nossa cidade ainda é um lugar bem tranqüilo. Se comparado com uma cidade grande, esfumaçada, agitada e violenta, Rio Negrinho é um paraíso! E bonito! Na Edição da semana passada fizemos o convite para que você saia um pouco por aí, num domingo de sol, e aprecie com calma nossas paisagens dentro e fora da cidade e perceba lugares e coisas que antes não se notara. Detenha-se e foque sua atenção nos detalhes, nas diversidades, na arquitetura de algumas construções, nas cores e formas de tudo o que se encontra ao seu redor. Serão momentos bem aproveitados e dotados de lazer, satisfação e orgulho pelo lugar onde você mora. Iniciamos a amostra de fotografias de hoje repetindo e aproveitando o retrato da Rua Jorge Lacerda (Rua do Sapo) de muitas décadas para narrar uma fenomenal briga de bêbados travada nesta rua a 56 anos atrás.
RUA JORGE LACERDA (RUA DO SAPO), EM 1940 (DATA APROXIMADA). A flecha e o círculo mostram o local exato da briga, que aconteceu dezoito anos depois que esta fotografia foi clicada, entre dois exércitos de paus-d’água. Naquele tempo (1958), eu tinha oito anos de idade; duas valetas, uma de cada lado da rua, escoavam as águas vindas dos morros que ladeavam a rua pelos dois lados. Acontece que as valetas e os poucos bueiros existentes ao longo da via não eram suficientes para dar vazão às enxurradas das chuvas que desciam dos morros e que já mostramos em outras reportagens passadas, por isso as enchentes eram comuns. Dava até para andar de canoa e nadar em plena via. Este problema persiste ainda hoje e não vai ser resolvido tão facilmente! Foi nesta mesma rua, numa tarde cinzenta de domingo, que presenciei uma espetacular briga de dois grupos embriagados que partiram de dois bares diferentes e distantes um do outro e se encontraram, em pleno combate, no meio do caminho. Um era o bar do Boelitz, cito em frente à Oficina Mecânica Rio Negrinho na esquina com a Rua do Sapo; o outro, a 500 metros dali, era o bar de Walfrido Carvalho, cito na Rua do Sapo. No bar do Carvalho, uns quinze elementos pinguços, depois de “encher a cara de cachaça”, resolveram “tirar a limpo” todas as dúvidas que queimavam seus neurônios, se é que ainda os tinham. E a solução para aliviar a “carga psicológica” foi “sair no braço”. Nove guerreiros de um lado e seis de outro iniciaram uma peleja de fazer inveja à Guerra do Iraque. Depois de quebrarem os móveis dentro do bar, e por falta de espaço para dar umas voadeiras, pois o bar era pequeno até para dar um bom soco, pois se alguém esticasse o braço demais para trás, a fim de pegar impulso para dar maior força ao sopapo naquele que estava na frente, podia até acertar num amigo da retaguarda que dava-lhe cobertura, resolveram, então, rolar para o meio da rua, mas para isso tiveram que atravessar uma pinguela que ligava a rua ao bar. Havia chovido e o estreito tablado estava liso, uns dois ou três perderam o equilíbrio, abandonaram a tropa e foram beijar o fundo da valeta. Na rua sim, tinha até pedras que serviam como “soco inglês”. Em certo momento vi um dos “atletas” correndo morro acima gritando que ia buscar uma espingarda, só que não mais foi visto durante o pugilato. Acho que ele bateu em “retirada estratégica”! E este pertencia ao grupo menor que agora ficou com apenas cinco defensores contra nove. Então o grupo menor foi cedendo espaço ao grupo maior que ganhava terreno, coice por coice. Pancada prá cá, pancada prá lá e lá foi aquele bolo de gente rolando em direção ao antigo Cartório do Jablonski, na direção do bar do Boelitz. Teve “cabra” que esgotou sua lista de palavrões umas dez vezes. Lembro-me bem, alguns gritavam mais que cego em tiroteio. Lindo de ver era a torcida por trás das cercas de ripas de madeira que cercavam as casas. Nesse mesmo tempo, no bar do Boelitz, outro grupo, também uns quinze malucos com o “sangue cozido”, resolveu “acertar os ponteiros” e extravasar o estresse. A cena foi idêntica ao bar do Carvalho: móveis quebrados e o lugar também era pequeno para tantos “guerreiros” por isso resolveram ocupar a rua para continuar o embate. Às pedradas, socos e pontapés, foram avançando em direção aos heróicos lutadores do bar do Carvalho que, ao mesmo tempo, também ganhavam terreno em direção ao bar do Boelitz. Alguns do bar do Carvalho abandonaram a luta e fugiram em direção ao bar do Boelitz, mas tiveram que voltar porque do outro lado um paredão de aguerridos ainda mais furiosos e violentos vinha em sua direção. Não havia como escapar!  Mais ou menos em frente à Torrefação de Café, cita onde hoje é o Mercado Neidert, no meio do caminho, os dois grandes grupos se encontraram. Aí foi um “Deus nos acuda”. A Segunda Grande Guerra Mundial foi fichinha perto da Guerra da Rua do Sapo! Eram uns trinta valentões misturados em plena atividade discordante. Ninguém mais sabia quem era quem! Amigos se tornaram inimigos e vice-versa. O jeito era bater em quem estava mais perto. Alguém teve a “feliz” idéia de arrancar uma ripa de cerca para atacar e se defender. Quase todos fizeram o mesmo! Os “espadachins e samurais” distribuíam cacetadas prá todo lado, mesmo porque naquele momento ninguém mais sabia quem era amigo ou inimigo. “Vapt”, “vupt”, “flapt” e muitos outros sons aterradores eram o barulho das ripas nas costas e nas cabeças. Pior eram os carecas que não tinham nenhuma mecha para amaciar a cacetada no próprio “telhado”. Alguns mais arrojados caíam nas valetas e quando conseguiam sair de lá cuspindo barro levavam outra bordoada e voltavam para a valeta. Algumas ripas tinham pregos que machucavam feio! Dentro das casas, por trás das cortinas, a mulherada apavorada apreciava a “Guerra da Rua do Sapo”. No entanto, algumas davam risada. Cena engraçada foi a de um baixinho  que, se viu “amarelo” quando levou umas cinco ripadas dos grandões, correu para dentro de uma casa que estava com a porta aberta. Não deu prá contar até três, saiu de lá voando depois de ter levado uma rodada de vassouradas de uma senhora que, apavorada e furiosa, tentava defender seu território. E todo mundo sabe que mulher com medo vira bicho perigoso! O baixinho voltou para o campo de batalha porque lá era mais confortável. Uma delas, ao reconhecer seu marido no meio da luta, saltou para fora da casa com uma vassoura na mão, embrenhou-se no meio dos brutamontes para defender o amado. Só sei dizer que ela era a que mais gritava e a que mais apanhava! E olha que o rosário de “santas palavras” da “Anita Garibaldi” não era dos menores! Homens bêbados e de “sangue quente” não diferenciam se o que está na sua frente é homem ou mulher, amigo ou inimigo – “sai que lá vai cacetada!” Não lembro o que aconteceu com a heroína, mas lembro como foi o final da briga. Alguém gritou: - “Lá vem a polícia”!... e em poucos segundos não havia mais ninguém na rua, salvo alguns retardatários que tentavam sair das trincheiras (valetas) cobertos de barro. Estes foram levados de braços dado com dois soldados para a delegacia e, provavelmente, pagaram a conta de todo mundo na cadeia, que naquele tempo era onde hoje está a Praça do Avião. Os outros conseguiram fugir porque naquele tempo a polícia perseguia os bandidos de bicicleta! Uma música gaucha diz assim: “...No lugar daquela briga nunca mais nasceu capim...” E eu completo rimando: “...E na Rua do Sapo acho que também foi assim!” Sabe que, no final das contas, Rio Negrinho antigo era bem animado, prá não dizer turbulento! A Rua do Sapo era uma festa! Noutro dia conto mais algumas!
DIPLOMA DE CIRURGIÃO DENTISTA DE LOTHÁRIO KLAUMANN. Emitido em 29/09/1932, pelo Instituto Politécnico de Florianópolis ao Sr. Lothário,  este diploma conferia-lhe todos os direitos de exercer a profissão de Dentista Cirurgião em qualquer parte do país. Assim, Rio Negrinho teve seu primeiro dentista diplomado. No tempo da Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas com sobrenomes de origem alemã eram presas, e até maltratadas, mesmo que nada tivessem a ver com a guerra. Assim foi com Lothário. Encarcerado num campo de concentração em Florianópolis, lá ficou preso por quase um ano. Nesse meio tempo, um amigo, companheiro de cela, pintou numa tela a paisagem do campo de concentração e presenteou-a para Lothário. Este guardou com carinho o quadro ganho do amigo. A tela, muito bem conservada, pode ser apreciada no Museu Carlos Lampe em Rio Negrinho. É só ir até lá e vê-la!
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO EM FLORIANÓPOLIS ONDE LOTHÁRIO KLAUMANN FOI CONFINADO (foto cedida pelo Museu Municipal Carlos Lampe). Não só lá, mas até em Rio Negrinho, conta-se muitas histórias de maltratos aos “alemães” que aqui viviam. Tempos difíceis! Agora, mais algumas imagens de Rio Negrinho antigo.
MORADORES DA LOCALIDADE DE RIO CASA DE PEDRA EM 1975. Esta foto foi obtida durante a comemoração de Natal na Escola Isolada de Rio Casa de Pedra. São todos agricultores locais e seus filhos. Nesta festa, cada família trazia comida e bebida e fazia-se um grande banquete em homenagem ao Menino Jesus. Coisa linda que deveria ser praticada por todo mundo!
ALUNOS DO 3º ANO PRIMÁRIO DA PROFESSORA VERA GRIMM EM 1959 NO GRUPO ESCOLAR MARTA TAVARES. A turma era grande, mas a professora Vera, que aparece na foto, no alto e no meio, dava conta do recado, e muito bem!
COMPANHIA INDUSTRIAL DE MÓVEIS DE RIO NEGRINHO (CIMO) EM 1950.

CONSIDERAÇÕES FINAIS. Sobre vários assuntos, os quais anunciamos na semana passada, falaremos em próximas edições. São muitas histórias interessantes. Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!

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