Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da
série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto e as respectivas fotos de autoria
dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos,
e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho (em 2013).
ANTIGO X ATUAL.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Com o passar do tempo, Rio Negrinho modificou-se em quase todos os aspectos: na sociedade, no modo de vida, na religião, na escola, no trabalho, nas indústrias, no comércio, nas paisagens naturais, nas ruas, nos rios, na saúde, na segurança, na diversão, na situação financeira dos seus habitantes, no trânsito, na comunicação, na tecnologia, na política, no transporte... na verdade, em tudo. Quem saiu de Rio Negrinho em alguns anos atrás, se voltar hoje não mais o reconhecerá. Os bairros cresceram e criaram-se novos, a periferia cresceu muito. Nas décadas de 50 e início de 60 até manadas de bois passavam pelas ruas centrais da cidade tocadas por tropeiros, fechando por completo as ruas sob o som dos berrantes. Durante os dias de semana, os colonos estacionavam suas carroças ao lado das calçadas (passeios) para venderem seus produtos no comércio local, e comprarem outros produtos para seu sustento. Não se passaram muitos anos desde que os desfiles de aniversário da cidade e da Independência do Brasil eram abrilhantados por ruidosas e fantásticas fanfarras das escolas estaduais, municipais e particular.
|
DESFILE DE 7 DE SETEMBRO DE 1960. Alunos do Ginásio São José passando na ponte da matriz que ainda não denominava-se Ponte Péricles Virmond, porque o mesmo era vivo. O Educandário Santa Terezinha, hoje Colégio São José, era dirigido por irmãs religiosas sob rígido regime disciplinar (note-se uma irmã acompanhando o desfile no lado direito) e o Ginásio São José funcionava nas dependências do Educandário. Note, também, a placa fixada no corrimão da ponte. Na foto, vemos os alunos atravessando a ponte Péricles Porto Virmond, próximo a Igreja Matriz Santo Antonio. Um aspecto que nos chama a atenção, dado ao período eleitoral que estamos vivendo, é a placa de propaganda para as eleições majoritárias de SC, de Celso Ramos e Doutel de Andrade. Naquela eleição realizada em 03 de outubro de 1960, foi vitoriosa a coligação Social-Trabalhista, representada por Celso Ramos, candidato a governador pelo PSD, coligados naquela eleição com Doutel de Andrade, como vice-governador, oriundo do PTB. |
|
RUA JORGE ZIPPERER EM FRENTE À PRAÇA TENENTE OLDEGAR OLSEN SAPUCAIA, EM 1967 (conhecida como Praça do Avião). Em pleno centro da cidade podia-se até fazer pose para fotografias no meio da rua com o maior sossego, pois raramente passava um automóvel. Na foto vemos os amigos Valdemar Benício (esq.) e Francisco Amaral. |
|
O MESMO LOCAL EM FRENTE À PRAÇA DO AVIÃO NOS DIAS ATUAIS. Agora, até para atravessar a rua há
regras rígidas, como utilizar a faixa de segurança e esperar o sinal do
semáforo abrir para o pedestre não ser atropelado. Há super lotação nos
estacionamentos que não acompanharam o crescimento da cidade. Antes, quase
ninguém tinha garagem para automóveis em suas casas, mesmo porque pouca gente possuía
um veículo motorizado.
|
|
FÁBRICA DE MÓVEIS CIMO NA DÉCADA DE 50. Aqui chegaram a trabalhar mais de 1.500 operários. A madeira estocada no seu patio girava entre 10 e 13.000m3.
|
|
EDUCANDÁRIO SANTA TEREZINHA NAS DÉCADAS DE 50-60, ATUAL COLÉGIO CENECISTA SÃO JOSÉ. Ainda com a inscrição em latim, na sua entrada "INITIUM SAPIENTIAE, TIMOR DOMINI" - "INICIO DA SABEDORIA É O TEMOR DE DEUS". |
|
RUA AO LADO DO MUSEU CARLOS LAMPE. Aqui era a entrada para o pátio da Móveis Cimo onde
centenas de operários com suas bicicletas se apressavam para bater cartão no
relógio-ponto da fábrica. Quem atrasasse cinco minutos perdia um dia de
trabalho no pagamento. Hoje, este local liga a rua Jorge Zípperer à Avenida dos
Imigrantes. É muito carro para pouco espaço! Às vezes o trânsito torna-se
caótico. Portões eletrônicos nem em sonho, na maioria das casas eles eram de
ripas de madeira trancados à taramelas. As casas ainda possuíam jardins de
flores na frente da varanda e ao lado, no quintal, muita gente cultivava belas
hortas. Até a pouco tempo, em frente a uma casa na rua Willy Jung, havia uma
roça de milho e quando o milho estava no ponto para ir para a panela, muita
gente que passava por lá arriscava “garfear” algumas espigas suculentas quando
o dono da roça não estava olhando. A casa ainda está lá, mas o milharal
desapareceu. Muitas casas possuíam cercados onde criava-se galinhas e até
porcos. Como era bom o tempo que não
havia televisores dentro nas residências porque sobrava tempo para praticar o
futebol nos campinhos por aí espalhados! Em cada rua tinha um time de futebol
infantil e juvenil. Era possível nadar nos rios que cortam a cidade, pois a
água não era poluída. As fofocas entre as “comadres” e até dos “compadres”
rolavam soltas e todo mundo se conhecia; Não havia roubos e nem crimes, dava
para andar sossegado à noite sem medo de ser assaltado. Lembro (eu, Celso) que em
certa noite fui ao cinema de bicicleta e a encostei na calçada, em frente à
Igreja Matriz Santo Antonio. Depois do filme voltei para casa a pé e esqueci a
“magrela”. Noutro dia, lembrei da “bendita”. Ansioso, corri até o local e não
vai que ela estava lá do jeito que a deixei?! Se fosse hoje, antes mesmo de
terminar a sessão de cinema, “já teria duas bicicletas no local”! Todo mundo
tinha dinheiro porque a Móveis Cimo, onde trabalhava a maioria dos
rionegrinhenses, pagava assiduamente e muito bem seus operários. Na cidade, o
Cine Rio Negrinho, em vários dias da semana, exibia bons filmes em sua grande
tela cinemascope. Nos dias dos filmes de Mazzaropi as filas para comprar
ingressos quase davam a volta no quarteirão. A sala de cinema ficava
simplesmente entupida de gente. Havia, também, muitos shows de calouros no
próprio cinema e nos salões do centro. De vez em quando para cá vinham bons
circos e parques de diversão. O povo se divertia para valer com os combates
futebolísticos entre as principais equipes que suavam a camisa por amor ao
clube. Os bons jogadores eram venerados pela população. Era uma verdadeira
guerra de futebol que levava os torcedores ao delírio!
|
|
SALÃO DETTMER VISTO DO ALTO DOS ANDAIMES DA TORRE DA MATRIZ EM
CONSTRUÇÃO. Eu mesmo
(Celso) escalei os andaimes de varas de madeira para bater a foto do alto.
Vemos aqui o salão que mais tarde foi queimado por violento incêndio. Só
ficaram as cinzas. Ainda mais tarde, o Prefeito Romeu Albuquerque construiu a atual
Prefeitura Municipal nos moldes parecidos com os do Salão Dettmer. Pelo menos
ficou uma lembrança parecida com a antiga construção. Nos bailes, o Salão Dettmer,
onde se apresentavam boas bandas, ficava repleto de dançarinos, era o tempo em
que os casais dançavam abraçados, respeitosamente e sem a fumaceira e gritaria
ensurdecedora dos dias de hoje. Ah, velhos tempos que não voltam mais! Pena que
os bons e prazerosos costumes foram engolidos pela feroz modernidade onde “quem
pode mais chora menos”. A primeira rua a ser pavimentada com paralelepípedos
foi a Jorge Zípperer. Todo mundo queria andar nela para sentir sob os pés o
avanço da modernidade. Era um luxo! Naquele tempo (década de 60) os prefeitos
tinham que ser “peitudos” para pavimentar uma rua pois a arrecadação era pouca e
tudo era bem limitado. A primeira rua que recebeu pavimentação asfáltica foi a
“Rua do Kaminski”. A polícia perseguia alguns vândalos ou briguentos de
bicicleta ou com um velho jeepe dirigido pelo Cabo Amazonas. É! Vândalos já
existiam, mas poucos! Dava para contá-los com os dedos de uma só mão! Tem o
interessante caso de um rapaz que ia ao cinema com foguetes (fogos de
artifício), subia na galeria da sala de cinema e, em plena sessão, fazia-os
explodir levando a galera à loucura. Imagine, você assistindo a uma fita de
guerra e de repente um canhão dá aquele tirambaço na sua direção e no mesmo
instante explode uma bomba de verdade sobre sua cabeça! É de morrer do coração
ali mesmo! E olha que demorou para que a polícia “grunhasse” o “terrorista do
cinema”. Se não me falha a memória só o pegaram porque foi delatado por um
“amigo” (da onça).
|
CONSIDERAÇÕES FINAIS. Rio Negrinho antigo tem muitas histórias curiosas para contar.
Pretendemos fazer mais comparações entre o antigo e o atual, pois muita gente
não conheceu nossa simpática cidade de outrora. Há muito que dizer sobre como
era e como é! Por hoje é só! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana!
Fique com Mamãe e Papai do Céu!
Nenhum comentário:
Postar um comentário