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sábado, 28 de abril de 2018

GENTE NOSSA: ESTER ZIPPERER


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando ESTER ZIPPERER, publicado originalmente no Jornal Perfil, edição nº 130, pág. 10, em 03 de novembro de 1995.



GENTE NOSSA destaca na pessoa de Ester Zipperer os primórdios  da radiodifusão em nosso Município. Os fatos relatados são lembranças de fatos históricos em nossa cidade.

Ester Silva Zipperer (foto do acervo de Jussara Zipperer)


       
Rio Negrinho, década de 1940. Pequena Vila, distrito de São Bento do Sul. Imaginamos que as fontes de informações e notícias eram bastante precárias, com poucos leitores de jornais. Televisão, nem  cogitava-se. Havia sim, um pequeno número de habitantes com rádio, ponto de curiosidades e aglomeração da vizinhança para ouvir notícias e música. Isto sem contar, o fato muito relevante que foi a 2ª Guerra Mundial, pois inúmeros habitantes eram descendentes de alemães, e o conflito poderia atingir de uma certa maneira a todos.

Ao findar a guerra a necessidade de acompanhar os fatos de modo mais rápido e trazer a população um lazer, fez quatro moradores de Rio Negrinho se unissem. Foi o caso que juntou – Arthur Meyer, Péricles Porto Virmond (Didi), Bernardo Olsen Neto (Bernardinho), e Egon Hussmann (gerente do Banco INCO e radioamador), num empreendimento inédito. Para termos uma idéia o município sede de São Bento do Sul, somente 30 anos depois implantou a sua rádio. Portanto, uma obra pioneira na região. Ao iniciar a obra não com objetivos de ganhar dinheiro, mas para trazer diversão à laboriosa população de Rio Negrinho, isto em 1948.

A ZYR-4, prefixo com que ficou conhecida a Rádio Rio Negrinho, entra em caráter experimental transmitindo primeiro as noites da semana e durante todos os dias de domingo, tendo como primeiros locutores – Euclides Ribeiro (Quito) e Irene Hussmann (esposa de Egon), esta por sinal, mulher de uma grande cultura e música, que abrilhantava os programas tocando ao vivo com vários instrumentos musicais.

Passado algum tempo, tanto Didi como Bernardinho resolvem desistir da sociedade e Egon Hussmann foi transferido para São Bento do Sul, ficando somente o sócio remanescente Arthur Meyer, expandindo as atividades iniciais.

Vários locutores e apresentadores marcaram a fase inicial da rádio, como por exemplo, Otto Weiss Filho (Otinho), que mantinha um programa musical, com acordeon, instrumento musical, coqueluche da época; a Orquestra da Móveis Cimo com apresentação aos sábados; outro programa ficou famoso e perdurou muitos anos, o chamado “Cortesias”, onde era de praxe os amigos, parentes e conhecidos homenagear-se uns aos outros, pelos aniversários, casamentos e festejos, que era apresentado todos os dias, na parte da tarde.

A equipe de locutores foi se formando, alguns permaneceram por mais tempo e outros não, mais marcaram época, como Léo Silva – expedicionário, provindo de Rio Negro, que fazia o programa sertanejo; Nelson Rosembrock – que fazia o programa noticioso e mais tarde projetou-se em Blumenau; Hanz Bann, que fazia o programa alemão, com patrocínio do Laboratório Catarinense; Ester Silva (depois Zipperer), técnica de locução e posteriormente locutora; as irmãs Georgina e Célia Kaminski; João Fernando Luckow e Maria José Duarte (Zezé).


Imagem de Ester Silva na locução da Rio Negrinho, ao final da década de 1940 (foto reproduzida do Jornal Perfil)


Imagem de Ester Silva na locução da Rio Negrinho, ao final da década de 1940 (foto do acervo de Jussara Zipperer) 


Cantores famosos no Brasil também sucesso por aqui como Emilinha Borba, Isaurinha Garcia, Marlene, Angela Maria, Chico Alves, Carlos Galhardo, Pedro Vargas e os inesquecíveis Tonico e Tinoco.

Como a moda da época, nossa Rádio, também tinha um auditório, para aproximadamente 60 lugares, onde realizados alguns programas famosos na época, que como o de calouros, onde os inscritos cantavam ou declamavam, principalmente músicas sertanejas, acompanhados de viola e acordeon. 

O auditório ficava lotado, pois era realizado aos domingos, as 10:00 horas, com apresentação de Léo Silva, principalmente depois do término da missa, ficando pessoas do lado de fora para ouvir as apresentações.

Ester (Silva) Zipperer, nascida em 1932 em Rio Negrinho, filha do popular José Lino (de saudosa memória), iniciou as atividades na Rádio Rio Negrinho, aos 16 anos, permanecendo no período de 1948 a 1952, quando casou-se com Ingomar Zipperer. Residiu no interior do nosso Município, mudando-se posteriormente para Rio dos Cedros, onde manteve atividade com hotel.

Ester Silva Zipperer (foto do acervo de Jussara Zipperer)


De volta a Rio Negrinho estabeleceu-se com o bar e lanchonete “Ponto Chic”, o qual durante muitos anos foi “senadinho” da cidade.

Hoje recolhida aos afazeres do lar, e com atividades comunitárias junto à Casa da Amizade.

Outras lembranças – Guarda lembrança alegre do cinema local, onde desde criança, já no inicio dos anos 40, assistia filmes, no prédio onde está atualmente o Banco do Brasil e posteriormente a rua Jorge Zipperer, hoje infelizmente desativado.

Fato pitoresco, foi a de que uma assídua  frequentadora do cinema, muito obesa, ocupava a quase duas cadeiras da sala de sessões e, quando posteriormente no novo prédio, o proprietário “seu Nono” mandou confeccionar uma poltrona especial, mas espaçosa para a citada senhora.

Outra lembrança diz respeito a Marta Mlynarczyk, grande incentivadora do teatro do município, junto ao Grêmio Ipiranga, cujo trabalho cultural foi merecidamente reconhecido pela Câmara de Vereadores de Rio Negrinho, ao aprovar projeto de lei em 07 de dezembro de 1992, denominando a Fundação Municipal de Cultura em sua homenagem (projeto de autoria do vereador Ignaur J. Wantowski).

  
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Nota complementar do Blog:

* A Rádio Rio Negrinho comemora a sua fundação em 25/08/1948 e funcionou até 23/11/2017 como rádio AM, ocupando primeiro como ZYR-4, posteriormente com a frequência 1570 AM, quando por exigência legal concluiu a migração de AM para FM, e passando a ocupar o dial 97,9 FM, concluindo o processo de Migração AM-FM. Atualmente Rio Negrinho, conta com mais duas emissoras de radiodifusão. A segunda foi fundada no dia 12/12/2008 pelo empresário e radialista Romildo Lima, denominada de Rádio Vitória de Rio Negrinho – Vitrine Fm. A terceira, denominada de rádio comunitária Energia FM 87.9 de Rio Negrinho, iniciou as suas atividades em 2012.


Prédio da Rádio Rio Negrinho - FM (foto do acervo do autor do Blog)


 ** Arthur Meier, natural de Jaraguá do Sul, filho de Alberto e Mathilde Kaunemberger Meier, nascido em 24/12/1910, foi alfaiate e comerciante, estabeleceu-se em Rio Negrinho, por volta de 1932. Foi um dos sócios/fundadores da Rádio Rio Negrinho. Faleceu em 20/03/1975. Casou-se em 18/09/1937, com Eugenia Kwitschal, nascida em 18/04/1917 e falecida em 22/03/1975.  Tiveram 3 filhos: Margit, Elfi e Goldwin. A Rádio Rio Negrinho – FM permanece de propriedade dos seus herdeiros.

Arthur Meier (foto do acervo do autor do Blog)


*** Ester Silva Zipperer, mais conhecida como Dona Ester, é filha de José Lino da Silva e Amalia Correa, nasceu em 28/12/1932 e faleceu 08/08/2010 e, está sepultada no Cemitério da Paz de Rio Negrinho. Foi casada com Ingomar Zipperer, filho de Afonso e Rosina Diener Zipperer, nascido em 25/09/1931 e falecido em 08/05/1975, e tiveram como filhos Yara, José Afonso, Jussara e Rodrigo, e ainda, Samuel (adotivo).

Foto do casamento de Ester Silva e Ingomar Zipperer, ocorrido em 1952 (foto do acervo de Jussara Zipperer)


Amalia Correa e Jose Lino da Silva (foto do acervo de Jussara Zipperer)


**** Em 1996 a agencia do Banco do Brasil estava localizada à rua Luiz Scholz.

***** O bar e lanchonete “Ponto Chic”, estava situado na rua Jorge Zipperer.

Imagem do prédio que abrigou o Bar e Lanchonete Ponto Chic, atual Loja Passo Certo (foto do acervo do autor do Blog)


****** A Fundação Municipal de Cultura de Rio Negrinho foi denominada de FUNDAÇÃO CULTURAL MARTA MLYNARCZYK, através da Lei nº 550, de 08/12/1992. Apesar desta mudança oficial da denominação, não houve nenhuma providencia concreta no sentido da alteração da nova nomenclatura, até que através da Lei nº 1091, de 11/08/1998, foi revogado a mencionada Lei nº 550/1992  e, sim, denominado o Edifício sede da Fundação Municipal de Cultura de Rio Negrinho, localizado à rua Carlos Hantschel, bairro Bela Vista, de "Edifício Marta Mlynarczyk - Dona Martinha", que permanece até a presente data.

Prédio da Escola de Música Profº Valdeci Maia, antes sede da Fundação Municipal de Cultura (foto extraída da internet)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

GENTE NOSSA: HIPOLITO BRINIAK


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando Hipolito Briniak, publicado originalmente no Jornal Perfil, edição nº 126, pág. 8, em 06 de outubro de 1995. A foto reproduzida no texto original do Perfil é de autoria do repórter Alceu Solano Peyerl.


GENTE NOSSA não poderia deixar de homenagear os heróis da classe operária, na figura de um imigrante que adotou Rio Negrinho a 65 anos. Trata-se do ucraíno-brasileiro Hipolito Briniak.

Imigrantes – Filho de pequeno proprietário rural, com cerca de 12 morgos, correspondendo a 30.000 m2, seu pai – Teodoro, foi soldado na 1ª Guerra Mundial, durante 4 anos, falecendo por ironia em plena 2ª Guerra Mundial, vítima de bala perdida. 

Nasceu Hipólito na Ucrânia, próximo a divisa polonesa, à 14 de março de 1910, numa família de 7 irmãos. Estudou durante 03 invernos de 05 meses, nas línguas polonesa, russa e ucraína, conforme a dominação que se encontrava o país.


Hipólito Briniak (foto do acervo do Jornal Perfil, de autoria de Alceu Solano Peyerl)



Atestado de vacinação e saúde de Hipólito Briniak, expedido em 14/11/1929,
pelo Consulado do Brasil em Varsóvia (do acervo de Lourival Briniak)


Definindo-se como curioso e corajoso, em companhia de 2 amigos, deixou a terra natal, para ganhar dinheiro no Brasil e posteriormente retornar.

Chegou de navio ao Rio de Janeiro em 05 de fevereiro de 1929, dirigindo-se a São Paulo, onde tinham cartas de conhecidos como referência. Aí começa a proeza para se fixar no País.

Ao encontrar o endereço conhecido o mesmo havia se mudado.  Imagine 3 jovens imigrantes, com costumes e línguas diferentes, tentando fazer algum contato numa metrópole como São Paulo.

Como alternativa então se encaminharam para Ponta Grossa, pois tinham notícias de outros imigrantes conterrâneos que lá moravam.  Trabalharam em Ponta Grossa, na Estrada de Ferro durante 6 meses, quando terminou a empreitada, se deslocaram para Erval, localidade próxima a Porto União, dali partindo para Paranaguá, localidade onde trabalharam na construção de um túnel para estrada de ferro, durante 09 meses.

Terminada esta empreitada, se dirigem a Jaraguá do Sul, Blumenau e Itajaí a procura de trabalho. Nesta última cidade tiveram o dissabor na espera de um suposto trabalho, durante 2 meses, quando acaba o dinheiro. Resolveram ir a Florianópolis, onde pretendem pedir passagens de navio se deslocarem ao Rio Grande do Sul. Foram atendidos numa repartição pública, onde foram bem tratados, mas apenas receberam pernoite, comida e alguns trocados para a viagem, pois resolveram ir a Rio Grande do Sul a pé.

Caminharam neste rumo cerca de 50 km., quando encontram-se com 3 imigrantes que vinham em sentido contrário, desaconselhando o percurso. Retornam então a Blumenau, Pomerode, Jaraguá do Sul, subindo pela estrada férrea até chegar a Rio Negrinho, todo este trajeto feito a pé.

Chegaram em Rio Negrinho em 15 de abril de 1930, onde pernoitaram num galpão próximo a Estação ferroviária.  Acordaram no dia seguinte ao som de um apito de fábrica, da firma “Zipperer”, onde resolveram solicitar emprego, sendo imediatamente contratados.

Trabalharam então durante algum tempo numa seção conhecida como descascadeira, transferido mais tarde para a seção de serra-fita, sendo mais tarde promovido a encarregado da seção de sala-máquinas onde permaneceu por 25 anos.

Trabalho – Nesta época não havia legislação trabalhista em vigor, trabalhava-se cerca de 10 horas por dia, e mais 4 horas de serão, que eram pagas no mesmo valor. 

O pagamento mensal era na forma de vales, que eram recebidos num armazém da empresa, dirigido por Carlos Weber e José Zipperer Neto, e alguns trocados em moeda corrente para cobertura de outras necessidades.

Sentiu de perto a repercussão da implantação das leis trabalhistas como a jornada de 8 horas, o salário mínimo, junto com a empresa. Trabalhou na Móveis Cimo durante 45 anos.

Medalha comemorativa de lembrança dos 25 anos de trabalho concedido pela Móveis Cimo a Hipolito Briniak (acervo de Lourival Briniak)


Lembranças – Rio Negrinho, em 1930, lembra que havia 3 casas de alvenaria, a de Luiz Olsen, Carlos Lampe e Leopoldo Ribeiro. 

A rua Jorge Zipperer tinha poucos moradores como: Max Jantsch – sapateiro, Bernardo Wolff – alfaiate, Max Simm – botequim, Arthur Meyer – alfaiate e Inácio Gonchoroski (ao lado da ponte); do outro lado (em frente) tinha uma sapataria, Willy Beckert – açougue, Pedro Simões de Oliveira – barbearia e Francisco Araújo – intendente à época, Carlos Lampe e o comércio da firma “Zipperer”.

Os casos de pacientes doentes eram encaminhados a São Bento do Sul, levados por trem, deslocando-se num dia, pousando naquela localidade e retornando somente no dia seguinte. Eram as dificuldades de então.

Casamento – Hipólito casou-se em 1934, com Laura Witt (que veio a falecer em 1946) e teve como filhos: Vladimir, Félix e Olga (casada com Afonso Gruber); mais tarde casou-se com Zoraide Nascimento e teve como filhos: Mario e Lourival.

Hipolito e sua esposa Zoraide em 1995 (imagem do acervo de Lourival Briniak)


Estabeleceu-se em 1940, no bairro Bela Vista, onde havia poucos moradores como André Dums, Max Henning, Emilio Witt e José Hackbart. 

Dos amigos imigrantes, um retornou logo em seguida a Ucrânia, onde morreu como soldado na 2ª Guerra Mundial e o outro mudou-se para Curitiba, morrendo solteiro, prestes a retornar à terra natal. Sente-se feliz, pois dos 3 imigrantes, pode contemplar 5 filhos, 13 netos e 10 bisnetos.

Imagem da festa comemorativa dos 50 anos de casamento de Hipolito e Zoraide, ocorrida em 1996 (Imagem do acervo de Lourival Briniak)


De fato, não foi um curioso, mas um grande corajoso, hoje rio-negrinhense, que merece nossa admiração.


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Nota complementar do Blog:

* Hipólito Briniak, é nascido na localidade de Smyków (condado de Sokalski), Ucrânia. A aldeia está localizada na parte noroeste da região de Lviv e na parte oriental da região de Sokal. A localidade de Smyków está localizado a 22 km da cidade de Sokal e a 125 km de Lviv (fonte Wikipédia). Filho de Theodor e Maria Briniack, em 14 de março de 1910, faleceu em Rio Negrinho, em 26/01/2000, Hipólito, está sepultado no Cemitério da Paz de Rio Negrinho;

** Hipólito Briniak aposentou-se na Móveis Cimo em 01/01/1964 e trabalhou mais 10 anos na mesma empresa;

*** Hipólito foi casado em primeira núpcia com Laura Witt, nascida em 18/07/1913 e falecida em 09/11/1946, e tiveram como filhos Vladimir, Félix e Olga (casada com Afonso Gruber); viúvo, casou-se com Zoraide de Souza Nascimento, nascida em 04/04/1914 e falecida em 10/12/2009, e tiveram como filhos Mario e Lourival;

**** Nos festejos de 07 de setembro de 1994, após a denominação oficial de Avenida dos Imigrantes, a via pública situada defronte ao prédio da Prefeitura, o então prefeito Dr. Romeu Albuquerque fez uma justa homenagem a vários imigrantes, entre eles, o sr. Hipólito Briniak.

Imagem do palanque dos festejos cívicos de 07/09/1994, no momento da homenagem ao imigrante Hipólito Briniak, pelo então prefeito Dr. Romeu Albuquerque (imagem do acervo de Lourival Briniak)

sábado, 14 de abril de 2018

GENTE NOSSA: WALCIR VIDAL SENNA


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando Walcir Vidal Senna, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano IV, edição nº 146, pág. 8, em 01 de março de 1996. A foto reproduzida no texto original do Perfil é de autoria do repórter Alceu Solano Peyerl.



GENTE NOSSA apresenta a figura de Walcir Vidal Senna, (então) chefe do escritório da CELESC, ex-vereador, ex-presidente da Câmara de Vereadores e ex-radialista. Casado com Nanci Liebl, pai de 2 filhas – Cintia e Luciana.

Walcir Vidal Senna 
(imagem do acervo do administrador do Blog)



INFÂNCIA – Filho de João Lucio e Auta Bernardino de Senna, naturais de Porto Belo (SC), Walcir Vidal Senna nasceu em Rio Negrinho em (28) de abril de 1940.  Fez o curso primário e o curso normal regional (equivalente ao magistério) junto ao Grupo Escolar Marta Tavares. 

Walcir Vidal Senna 
(imagem do acervo do Jornal Perfil, da autoria de Alceu Solano Peyerl)


Sua infância foi pelas brincadeiras e banhos no rio Negrinho, junto ao poço do Cipó (fundos do Banco do Brasil), poço do Ziprinha (fundos da Prefeitura), e do poço do Dums. Isto sem contar a pesca da tarrafa, nas tocas ou nas latas na lagoa do “Engel”, situada no final da rua Otto Dettmer, sempre contando com os resmungos e chingamentos da velha “Baia”.  
O porão do Werna era um caso a parte. Situado no local onde está o Mercado Municipal, prédio grande de madeira, com 2 pisos, alugado em vários quartos, para 4 ou 5 famílias, formava um simpático cortiço, com um grande número de moleques, sempre entregues a traquinagem. No porão do Willy Werner havia o espaço para a barbearia e a sua famosa verdureira. 
Com a construção da ponte nova e o aterro da rua, o porão ficou prejudicado, posteriormente adquirido pela prefeitura e demolido.

VIDA PROFISSIONAL – Aos 14 anos, Walcir inicia juntos aos correios como praticante de telegrafista sem remuneração, onde fica 4 anos.  Ainda antes dos 18 anos, começa a trabalhar como locutor na rádio Rio Negrinho, nos programas sertanejos vespertino e matutino, além do programa noturno “Boa Noite para Você”.  Com 18 anos vai para o serviço militar, retornando continua por mais um breve período junto à Rádio, de onde demite-se, empregando-se na Empresul*, em 1961.

Festa junina realizada ao início da década de 1960, na então sede do Ipiranga, na qual foram apresentados conjuntos musicais de música caipira. Nesta foto vemos a partir da esq. Walcir Vidal Senna, animador do baile, que mantinha um programa deste gênero musical na Rádio Rio Negrinho, com o nome artístico de Nhô Bento; e o trio caipira Osvaldo Maia - Osvaldinho, Jose Vieira Lemos - Juquinha e Pedro Schier – Penoso. (Foto cedida por Ana Alves de Andrade)


Na Empresul, empresa particular de energia elétrica, mais tarde encampada pela CELESC, inicia a profissão de eletricista. A agencia local da Empresul contava apenas com 3 empregados, 1 pessoa no escritório – Theodoro Junctum e outros 2 – Ervino Tascheck e Gabriel Pereira, que eram ao mesmo tempo eletricista, leiturista, consertador de rede, colocador de postes para extensão, enfim “pau pra toda obra”.  

Fato pitoresco, que os postes eram ainda todos de madeira e eram levados até o destino final numa gaiota, com rodas de carroça, puxados pelos 03 funcionários, morro abaixo e ac ima. Levantar um poste era outro drama, só no braço, contando com a ajuda espontânea dos empregados da Móveis Cimo.  Os pedidos de ligações eram poucos, de 1 a 2 mensais. Além de tudo, e Empresul ainda tinha uma loja para a venda à varejo de material elétrico. Em 1974, a Empresul é encampada pela CELESC, melhorando sensivelmente a qualidade da energia, atendimento ao público e conservação de redes de distribuição.  

Somente em 1970, Walcir reinicia os estudos de 2º Grau, com o Curso Técnico em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio, junto ao Colégio Manoel da Nóbrega.  Dentro da empresa é requisitado durante 8 meses para a central em Florianópolis, no setor contábil e posteriormente remanejado para o mesmo setor na Agência Regional de São Bento do Sul, onde atua durante 5 anos. 

Retorna ao escritório local em 1981, para assumir a chefia, com a aposentadoria do velho companheiro Theodoro Junctum, onde permanece até hoje na função**.

POLITICA – Com a atuação na rádio e as ligações partidárias como o ex-vereador Theodoro Junctum, lança-se a vereador, elegendo-se para o mandato de 1970 a 1973, tendo como prefeito à época – Alvaro Spitzner.  

Convive com as turbulentas divisões da ARENA, partido aliás oriundo da UDN e PSD, que originavam inúmeras e intermináveis questões. É neste período novas indústrias no município, entre elas a Famorine e Móveis Capi e um hotel de maior porte, o Park Hotel***. 

Neste período foram criados o hino, o brasão e a bandeira de Rio Negrinho; além de ser fixado a data comemorativa da fundação do município.  Eleito como presidente da Câmara para o período de 1/02/72 a 31/01/73, onde foi concedido o 1º Título Honorífico de Rio Negrinho, ao Governador – Colombo Salles. Tenta a reeleição em 1982 e é eleito pelo PDS, tendo como prefeito – Dr. Romeu F. Albuquerque, onde foi presidente da Câmara para o período de 1/02/83 a 10/02/85. 

Câmara de Vereadores, após a eleição na presidência do vereador Wilson Luiz Veiss, em 01/02/1987, para o 3º biênio da direção da Câmara de Vereadores, onde se vê, a partir da esq.  Vitor Reichwald, Elias Graboski Filho, Lauro Anton, Ermelinda Tenfen Borella, Walcir Vidal Senna, Wilson Luiz Veiss, Olavo do Prado, Ilario Schneider, Osmail Joaquim Nunes,  José Euclides Carvalho e José Kormann (foto do acervo de Ismael do Prado)


Guarda entre as inúmeras recordações, a amizade e fidelidade do colega e vereador José Euclides Carvalho, destacando como marco, a indicação da denominação de Professora Selma T. Graboski para a escola no bairro São Rafael.

TEATRO – Em 1968 participa da formação da Sociedade Teatral Rio Negrinho em companhia de Norberto Murara, Pedro Jablonski, Luterina Lehner, Vagemiro Jablonski, Adélia da Luz Souza, Magali (Souza) Szabunia, Alfredo Girardi e de Jussara Zipperer.  

Para ensaios e apresentações foi utilizado o Salão Paroquial da Igreja Matriz, que para isto, foi exigido a instalação elétrica, pintura e montagem do palco, como está atualmente.  

A Sociedade Teatral teve o momento de glória em 1969, quando o ator Walcir Senna foi eleito o 1º ator coadjuvante do estado, no Teatro Carlos Gomes em Blumenau.  Infelizmente a Sociedade Teatral desativou-se em 1970.  GENTE NOSSA futuramente trará matéria sobre esta brilhante entidade.

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Nota complementar do Blog:

* A Empresul - Empresa Sul-Brasileira de Eletricidade S/A foi fundada em Joinville, em 6 de abril de 1929, e era controlada pela AEG (Allgemeine Elektrizitäts Gesellschaft) e depois pela “Berliner Handels-Gesellschaft”, ambas de Berlim.
A Empresul foi encampada pelo governo brasileiro em 1944, em plena 2ª Guerra Mundial. Foram nomeados interventores e após o conflito, a empresa foi passada para o governo catarinense. Em 9 de dezembro de 1955 – o então governador de Santa Catarina – Irineu Bornhausem, criou a Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. - Celesc, com a função de planejar, construir e explorar o sistema de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica no Estado. Depois, assumiu o papel de holding até começar a incorporar, gradativamente, o patrimônio das antigas empresas regionais, ao longo da década de sessenta, passando de canalizadora de recursos públicos para uma Holding atuante no setor elétrico, adquirindo várias empresas do ramo, dentre elas a Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A. – Empresul, com base em Joinville. A incorporação dessas empresas foi realizada com base em um levantamento patrimonial detalhado, em que instalações e propriedades foram transformadas em ações da Celesc e repassadas aos sócios das antigas empresas. (Texto com base nos sites "Noticias do Dia" e "Didaticativa")
** Walcir Vidal Senna aposentou-se da CELESC em novembro de 1997.
*** O Park Hotel é atualmente denominado de Hotel e Pousada João de Barro.

domingo, 8 de abril de 2018

GENTE NOSSA: FRAU MAROS


Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando Luiza Pscheidt Maros – a Frau Maros, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano IV, edição nº 158, pág. 10, em 31 de maio de 1996. A foto reproduzida no texto original do Perfil foi em preto e branco.



Com Luiza Maros, GENTE NOSSA, homenageia a figura afável da primeira pessoa, com que temos contato aos nascermos, a parteira.


Missão – A tendência natural do ser humano é achar que um fato é importante, quando envolve um grande estrondo publicitário ou estardalhaço. Porém, muitas vezes, um fato pequeno reveste-se de um simbolismo de grande importância.  Esta comparação cabe também as pessoas.  

Dá-se muitas vezes importância aos líderes políticos, esportistas, religiosos etc. que projetam-se ao estrelato, porém, outros, na singeleza diária, tem um papel fundamental, este é o caso da missão da parteira, a qual destacamos – Luiza Maros, mais conhecida como Frau Maros.

Luiza Maros, ladeada pela irmã Guisela Anton e a amiga Maria Pscheidt


Nascida à 27 de junho de 1920, na localidade de Lençol (São Bento do Sul), filha de José e Catarina Pscheidt, mudam-se para Rio Negrinho, residindo primeiro em Corredeira e posteriormente em Colônia Olsen, quando Luiza, em 1942, casa-se com Alfredo Maros.

Sonho – Ainda menina, Luiza acalentava o sonho de ser irmã de caridade, mas estes anseios não se realizam, porque na região não havia religiosas que a encaminhassem. 

Uma vez casada, começa a sentir que além de dona de casa, deveria ajudar os mais necessitados, e aos poucos, atende principalmente crianças doentes, com remédios caseiros e “esfregações”.  Aos poucos começava entender a sua vocação.

Partos – Rio Negrinho, da década de 1950 tinha apenas um médico, que atendia os casos de doença. Para os casos de gravidez, não havia acompanhamento médico, como nos dias atuais, sendo na maioria das vezes, segredo entre marido e mulher.  Os partos eram feitos diretamente nas casas das famílias, por parteiras, chamando-se o médico só nos casos mais graves. 

Além do mais, Rio Negrinho, na época, uma cidade operária, as famílias não tinham condições financeiras de pagar o tratamento médico e o parto, só pessoas de posses davam-se ao “luxo” de fazer em hospitais.  

Outro costume, era que as parturientes, logo após o parto, ficavam os primeiros nove dias na cama, alimentando-se da tradicional sopa de galinha, que era comida obrigatória.  

As parteiras, verdadeiras abnegadas, faziam como vocação, chamadas, deslocavam-se a pé, de dia ou a noite, com sol e chuva, calor ou frio, praticamente sem nenhuma remuneração. Dentre estas abnegadas, citamos entre outras -  Alvine Luize Boelitz, Mônica Galikoski, Verônica Virgoch e Luiza Maros.

– Especificamente, Frau Maros, começa a atividade de parteira, por volta de 1950, quase por acaso, quando uma vizinha em véspera do parto, solicita sua companhia, até a vinda da parteira Verônica Virgoch, moradora próxima ao Cemitério Municipal.  Como esta era idosa e o deslocamento feito a pé, o parto deu-se antes da chegada da parteira, obrigando a Frau Maros a atende-la. 

Imagem de Nossa Senhora do Bom Parto (Foto extraída da internet)


A partir deste primeiro parto, por mais de 20 anos, outros 2.800 partos se sucederam, dos quais cerca de 12 casais de gêmeos, vários bairros e no interior do município.  Muito religiosa, afima com alegria, que todos os partos feitos por ela, nunca faleceu em suas mãos um recém-nascido ou parturiente, atribuído a este fato, a proteção de Nossa Senhora do Bom Parto, invocação que sempre fazia.  

Com a inauguração do novo prédio do Hospital do Município*, os partos passam lá serem feitos sendo assim mesmo, por diversas requisitada a sua presença, pela confiança das grávidas, nela depositada ao longo dos anos. 

Ainda como parteira, trabalha como funcionária do Hospital, de 1975 a 1978, quando encerra a sua missão. Hoje com 78 anos, viúva, com problemas de artrose que a impede de locomover-se, vive das lembranças, das alegrias do dever cumprido.  A ela nossos respeitos e admiração.

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Nota complementar do Blog:

A parteira Luiza Pscheidt Maros, mais conhecida como Frau Maros, foi casada com Alfredo Maros, e teve 4 filhos, Elvira, Lucinda, Alvino e Landila. Faleceu com 85 anos, em 27 de outubro de 2005, e encontra-se enterrada no cemitério da Colônia Olsen, em Rio Negrinho.


* O prédio hospitalar da então Associação Hospitalar Rio Negrinho foi inaugurado em 1966, e está localizado na rua Carlos Weber, hoje de propriedade da Prefeitura Municipal. As tratativas da construção do atual prédio hospitalar de Rio Negrinho deu-se somente a partir de 1997.