Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no
Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador
deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da
coluna GENTE NOSSA, homenageando Hipolito Briniak, publicado originalmente no
Jornal Perfil, edição nº 126, pág. 8, em 06 de outubro de 1995. A foto reproduzida
no texto original do Perfil é de autoria do repórter Alceu Solano Peyerl.
GENTE NOSSA não poderia deixar de
homenagear os heróis da classe operária, na figura de um imigrante que adotou
Rio Negrinho a 65 anos. Trata-se do ucraíno-brasileiro Hipolito Briniak.
Imigrantes – Filho de pequeno
proprietário rural, com cerca de 12 morgos, correspondendo a 30.000 m2, seu pai
– Teodoro, foi soldado na 1ª Guerra Mundial, durante 4 anos, falecendo por ironia
em plena 2ª Guerra Mundial, vítima de bala perdida.
Nasceu
Hipólito na Ucrânia, próximo a divisa polonesa, à 14 de março de 1910, numa família
de 7 irmãos. Estudou durante 03 invernos de 05 meses, nas línguas polonesa,
russa e ucraína, conforme a dominação que se encontrava o país.
Hipólito Briniak (foto do acervo do Jornal Perfil, de autoria de Alceu Solano Peyerl)
Atestado de vacinação e saúde de Hipólito Briniak, expedido em 14/11/1929,
pelo Consulado do Brasil em Varsóvia (do acervo de Lourival Briniak)
Definindo-se
como curioso e corajoso, em companhia de 2 amigos, deixou a terra natal, para
ganhar dinheiro no Brasil e posteriormente retornar.
Chegou de
navio ao Rio de Janeiro em 05 de fevereiro de 1929, dirigindo-se a São Paulo,
onde tinham cartas de conhecidos como referência. Aí começa a proeza para se
fixar no País.
Ao encontrar o endereço conhecido o mesmo havia se mudado. Imagine 3 jovens imigrantes, com costumes e
línguas diferentes, tentando fazer algum contato numa metrópole como São Paulo.
Como
alternativa então se encaminharam para Ponta Grossa, pois tinham notícias de
outros imigrantes conterrâneos que lá moravam.
Trabalharam em Ponta Grossa, na Estrada de Ferro durante 6 meses, quando
terminou a empreitada, se deslocaram para Erval, localidade próxima a Porto
União, dali partindo para Paranaguá, localidade onde trabalharam na construção
de um túnel para estrada de ferro, durante 09 meses.
Terminada
esta empreitada, se dirigem a Jaraguá do Sul, Blumenau e Itajaí a procura de
trabalho. Nesta última cidade tiveram o dissabor na espera de um suposto
trabalho, durante 2 meses, quando acaba o dinheiro. Resolveram ir a
Florianópolis, onde pretendem pedir passagens de navio se deslocarem ao Rio
Grande do Sul. Foram atendidos numa repartição pública, onde foram bem
tratados, mas apenas receberam pernoite, comida e alguns trocados para a
viagem, pois resolveram ir a Rio Grande do Sul a pé.
Caminharam
neste rumo cerca de 50 km., quando encontram-se com 3 imigrantes que vinham em
sentido contrário, desaconselhando o percurso. Retornam então a Blumenau, Pomerode,
Jaraguá do Sul, subindo pela estrada férrea até chegar a Rio Negrinho, todo este
trajeto feito a pé.
Chegaram
em Rio Negrinho em 15 de abril de 1930, onde pernoitaram num galpão próximo a
Estação ferroviária. Acordaram no dia
seguinte ao som de um apito de fábrica, da firma “Zipperer”, onde resolveram
solicitar emprego, sendo imediatamente contratados.
Trabalharam
então durante algum tempo numa seção conhecida como descascadeira, transferido
mais tarde para a seção de serra-fita, sendo mais tarde promovido a encarregado
da seção de sala-máquinas onde permaneceu por 25 anos.
Trabalho – Nesta
época não havia legislação trabalhista em vigor, trabalhava-se cerca de 10
horas por dia, e mais 4 horas de serão, que eram pagas no mesmo valor.
O
pagamento mensal era na forma de vales, que eram recebidos num armazém da
empresa, dirigido por Carlos Weber e José Zipperer Neto, e alguns trocados em
moeda corrente para cobertura de outras necessidades.
Sentiu
de perto a repercussão da implantação das leis trabalhistas como a jornada de 8
horas, o salário mínimo, junto com a empresa. Trabalhou na Móveis Cimo durante
45 anos.
Medalha comemorativa de lembrança dos 25 anos de trabalho concedido pela Móveis Cimo a Hipolito Briniak (acervo de Lourival Briniak)
Lembranças – Rio
Negrinho, em 1930, lembra que havia 3 casas de alvenaria, a de Luiz Olsen, Carlos
Lampe e Leopoldo Ribeiro.
A rua
Jorge Zipperer tinha poucos moradores como: Max Jantsch – sapateiro, Bernardo
Wolff – alfaiate, Max Simm – botequim, Arthur Meyer – alfaiate e Inácio Gonchoroski
(ao lado da ponte); do outro lado (em frente) tinha uma sapataria, Willy
Beckert – açougue, Pedro Simões de Oliveira – barbearia e Francisco Araújo –
intendente à época, Carlos Lampe e o comércio da firma “Zipperer”.
Os
casos de pacientes doentes eram encaminhados a São Bento do Sul, levados por
trem, deslocando-se num dia, pousando naquela localidade e retornando somente
no dia seguinte. Eram as dificuldades de então.
Casamento – Hipólito
casou-se em 1934, com Laura Witt (que veio a falecer em 1946) e teve como
filhos: Vladimir, Félix e Olga (casada com Afonso Gruber); mais tarde casou-se
com Zoraide Nascimento e teve como filhos: Mario e Lourival.
Hipolito e sua esposa Zoraide em 1995 (imagem do acervo de Lourival Briniak)
Estabeleceu-se
em 1940, no bairro Bela Vista, onde havia poucos moradores como André Dums, Max
Henning, Emilio Witt e José Hackbart.
Dos
amigos imigrantes, um retornou logo em seguida a Ucrânia, onde morreu como
soldado na 2ª Guerra Mundial e o outro mudou-se para Curitiba, morrendo
solteiro, prestes a retornar à terra natal. Sente-se feliz, pois dos 3
imigrantes, pode contemplar 5 filhos, 13 netos e 10 bisnetos.
Imagem da festa comemorativa dos 50 anos de casamento de Hipolito e Zoraide, ocorrida em 1996 (Imagem do acervo de Lourival Briniak)
De fato, não foi um curioso, mas um grande corajoso, hoje rio-negrinhense, que merece nossa
admiração.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Nota
complementar do Blog:
* Hipólito Briniak, é nascido na localidade de Smyków (condado de Sokalski),
Ucrânia. A aldeia está
localizada na parte noroeste da região de Lviv e na parte oriental da região de
Sokal. A localidade de Smyków está localizado a 22 km da
cidade de Sokal e a 125 km de Lviv (fonte Wikipédia). Filho de Theodor e
Maria Briniack, em 14 de março de 1910, faleceu em Rio Negrinho, em 26/01/2000,
Hipólito, está sepultado no Cemitério da Paz de Rio Negrinho;
** Hipólito Briniak aposentou-se na Móveis Cimo
em 01/01/1964 e trabalhou mais 10 anos na mesma empresa;
*** Hipólito foi casado em primeira núpcia com
Laura Witt, nascida em 18/07/1913 e falecida em 09/11/1946, e tiveram como
filhos Vladimir, Félix e Olga (casada com Afonso Gruber); viúvo, casou-se com
Zoraide de Souza Nascimento, nascida em 04/04/1914 e falecida em 10/12/2009, e
tiveram como filhos Mario e Lourival;
**** Nos festejos de 07 de setembro de 1994, após a denominação oficial de Avenida dos Imigrantes, a via pública situada defronte ao prédio da Prefeitura, o então prefeito Dr. Romeu Albuquerque fez uma justa homenagem a vários imigrantes, entre eles, o sr. Hipólito Briniak.
Imagem do palanque dos festejos cívicos de 07/09/1994, no momento da homenagem ao imigrante Hipólito Briniak, pelo então prefeito Dr. Romeu Albuquerque (imagem do acervo de Lourival Briniak)
Nenhum comentário:
Postar um comentário