Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.
MÓVEIS CIMO E SEUS DIRETORES.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Um dos maiores impérios moveleiros da
América do Sul, a Companhia Industrial de Móveis – CIMO – teve seu melancólico
final no início da década de 80, quando faliu, depois de um acentuado declínio
ao longo de alguns anos anteriores. Nada restou das imensas pilhas de madeira
que “ornamentavam” seu gigantesco pátio que tomava lugar da maior parte da área
central de Rio Negrinho. Nada sobrou do seu quase incalculável patrimônio
espalhado por várias cidades brasileiras, pois a Móveis Cimo possuía filiais em
São Paulo na Avenida Franklin Roosevelt,146-b, em Rio de Janeiro na Rua Maria
Tereza, 89, em Curitiba na Rua Barão do Rio Branco, 158, em Belo Horizonte na
Rua Carijós, 101 e em Joinville na Rua São Pedro, 160. Nosso objetivo de hoje é
mostrar as dificuldades financeiras das indústrias, através de uma transcrição
de um texto emitido no final do ano de 1955, quando Egon Renner, filho do
titular das Indústrias J. A. Renner, uma grande potência industrial de Porto
Alegre, e íntimo amigo do Sr. Martin Zípperer, este então Diretor
Superintendente de Moveis Cimo S.A., que publicou o referido texto no Jornal “A
Hora” de Porto Alegre em 22-12-1955. Os pareceres técnicos do texto, que
analisam a indústria no rol do processo inflacionário, mostram as grandes
dificuldades que, já naquela época, assolavam as indústrias e o comércio do
país. Durante o transcorrer do texto mostraremos alguns momentos particulares
dos Diretores da CIMO, Martin e Carlos, e aspectos da Grande fábrica.
PROVÁVEIS CONSEQUÊNCIAS DA SITUAÇÃO
FINANCEIRA. “É público e notório que
o nosso Estado está passando por uma crise financeira sem precedentes. O fato
preocupa a todos, e inúmeras pessoas tem alertado o governo para este
gravíssimo problema. Entendi, por isso, necessário chamar a atenção para certas
conseqüências que, se a crise não for debelada, por certo virão. Mas o que se
passa realmente na indústria e no comércio em virtude da crise financeira?
Admitimos, uma empresa industrial que tenha uma produção anual de 10 milhões de
cruzeiros, apurando no seu balanço um lucro líquido de um milhão de cruzeiros.
Essa empresa gasta em matérias primas e salários, por hipótese, duas terças
partes do valor da sua produção, ou sejam, seis milhões e seiscentos mil
cruzeiros. Se a matéria prima e os salários aumentarem em 20%, esta empresa
necessitará para manter, - notem bem manter e não aumentar – a sua produção, no
ano seguinte, uma importância maior de um milhão trezentos e vinte mil
cruzeiros, ou seja 20% sobre seis milhões e seiscentos mil cruzeiros. Do lucro
de um milhão ainda precisa descontar o imposto sobre a renda da pessoa
jurídica, no valor de cento e noventa mil cruzeiros, sendo, portanto, o total
necessário a mais para sustentar a produção, de um milhão quinhentos e dez mil
cruzeiros. Existe, daí, um déficit
financeiro de quinhentos e dez mil cruzeiros. É verdade que o desembolso
dessa importância não será imediato, porém, também é exato que a recuperação
dessa importância é lenta, porquanto a compra da matéria prima e o pagamento de
salários, impostos, etc., somente serão recuperados quando a empresa receber o
pagamento das manufaturas vendidas. E isto leva meses, dependendo, sempre, das
condições peculiares a cada indústria. O que, porém, se evidencia, e que
qualquer um pode compreender, é que o industrial precisa de recursos adicionais
a fim de poder financiar a sua produção. Esse crédito, todos nós sabemos, hoje
é difícil, mesmo quase impossível. O que fazer então? Restaria um único
caminho: diminuir a produção, adaptando-a às suas possibilidades financeiras.
Mas, reduzindo-se a produção aumenta-se o custo e havendo falta de mercadoria
sobem vertiginosamente os preços. Agrava-se, pois , a inflação. Outro aspecto
grave que em seguida se verificará, é a diminuição do número de empregados,
provocando-se desta forma, o desemprego com todas as desastrosas conseqüências.
Continua-se, portanto, um mesmo círculo vicioso. No comércio, alegam muitos, a
situação seria mais fácil, o que não me parece certo. O comércio poderá
resolver a sua situação mais rapidamente, diminuído as compras, porém as
conseqüências serão as mesmas. Diminuindo as compras, mais dia menos dia, vão
diminuir as vendas, e as despesas não se reduzirão na mesma proporção.
Resultado disso é o aumento da margem, provocando-se a alta e contribuindo-se
para a inflação. Se a situação continuar se agravando, há outro perigo para o
qual é preciso atentar. É de que a linha normal da indústria e do comércio de
vender muito com pouco lucro em cada unidade, seja substituída, nesta
emergência, pelo sistema de vender pouco ganhando mais em cada unidade. Espero
que este meu temor não se concretize mas, como digo, no caminho que vamos,
estamos correndo este risco. Para evitar estas conseqüências a produção precisa
ser amparada e deve-se emitir para elevá-la. Emitindo para pagar déficits, como
tem sido feito, estaremos inflacionando, mas emitindo para aumentar a produção,
estaremos combatendo a inflação.” (texto de Egon Renner).
CARLOS ZÍPPERER QUANDO ERA JUÍZ DE PAZ. Extraímos esta foto do livro “Dados Históricos do Município de Serra Alta” (São Bento do Sul), editado em 1948, por ocasião de seu 78º Aniversário de Fundação. |
SÃO PAULO NA DÉCADA DE 50. A Móveis Cimo mantinha filial naquela grande
metrópole que era assim a 70 anos atrás.
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RIO NEGRINHO NO FINAL DA DÉCADA DE 40. Vemos, aí, a cidade crescendo ao redor da
grande mãe Móveis Cimo.
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CARLOS ZIPPERER ERA MÚSICO. Aqui, com seu famoso pistão, Carlos dá um
show na festa em que ele foi coroado o Rei da Festa – veja a faixa.
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POLTRONA FABRICADA PELA MÓVEIS CIMO. Os móveis desta indústria abasteciam os
cinemas, salões e residências do país inteiro e até do exterior.
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POLTRONA FABRICADA PELA MÓVEIS CIMO. Os móveis desta indústria abasteciam os
cinemas, salões e residências do país inteiro e até do exterior.
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EMBLEMA DA MÓVEIS CIMO. Diariamente
era visto nas portas dos caminhões que transportavam toras e nos selos que a
indústria colava nos seus móveis.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS. Maravilhosa a
análise deste especialista em causas inflacionárias e procedimentos de produção
na indústria e no comércio. Quem leu o texto com atenção e “descolou” dele um
bom raciocínio certamente aprendeu uma ótima lição que um dia poderá livrá-lo
de encrencas inflacionárias no seu próprio negócio, como o fizeram Martin e
Carlos Zípperer. A grande Móveis Cimo, que levantou Rio Negrinho, também
deixou-nos pujantes lições que jamais serão esquecidas. À ela muito devemos!
Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique
com Mamãe e Papai do Céu!
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