Nota do Blog: A Diocese de Joinville, na qual a cidade de Rio Negrinho está inserida, teve Dom Gregório Warmeling como seu 2º bispo, durante 36 anos. Com espírito irrequieto, polêmico, do alto de sua estatura e seu vozeirão prestou grandiosos serviços em nossa região. A biografia de D. Gregório Warmeling foi redigida com base no artigo de autoria do Pe. José Artulino Besen, a quem agradecemos.
Imagem da Igreja Matriz Santo Antonio de Rio Negrinho, ao final da década de 1960 (Foto acervo de Laércio Furst) |
Esta imagem ao final da
década de 1960, mostra alguns aspetos interessantes da Igreja Matriz Santo Antonio
de Pádua, em nossa cidade. O prédio da Igreja ainda sem a torre, que foi
inaugurada em 1973. No pátio vê-se ainda os carvalhos, já edificado o Salão
Paroquial, inaugurado em 1965, com o antigo galpão de madeira, utilizado para
as festas. Ainda na parte frontal do pátio, vê-se estacionado um automóvel
Vemaguet, utilizado como táxi. Ainda na parte frontal da Igreja vê-se uma placa
com os dizeres “É TEMPO DE CAMINHAR JUNTOS” – Sínodo Diocesano – Joinville –
SC. Este tema foi utilizado por D. Gregório Warmeling, então bispo da Diocese
de Joinville, ao qual Rio Negrinho está inserido, para a realização de um
sínodo diocesano, sob a visão de Concílio Vaticano II, encerrado em dezembro de 1965. A palavra
Sínodo é uma conjunção de duas outras palavras da língua grega, cujo
significado é “fazer juntos o caminho” ou “caminhar juntos”. Trata-se de uma
série de encontros de representantes das diversas classes de fiéis para
tratarem de assuntos propostos por quem convocou o Sínodo e proporem
encaminhamentos para as questões discutidas. Um Sínodo acontece somente a
partir da convocação do bispo, quando se realiza em uma Diocese ou do Papa,
quando se realiza para tratar de assuntos relativos à Igreja Universal. No caso
daquele Sínodo Diocesano, a convocação do Bispo de Joinville ouviu os diversos
representantes de toda a diocese, sugestões de princípios e orientações que
nortearam a missão evangelizadora do rebanho, discutindo e apresentando
reflexões acerca de encaminhamentos necessários.
QUEM FOI
D. GREGÓRIO WARMELING
D. Gregório Warmeling, 2º bispo diocesano de Joinville, durante 36 anos, entre os anos de 1957 e 1993 |
Nasceu em São Ludgero, SC em 17
de abril de 1918. Ingressou no Seminário de Azambuja em 1929 e foi ordenado
presbítero em 5 de setembro de 1943. De setembro de 1943 a 12 de fevereiro de
1944 foi vigário paroquial do Santíssimo Sacramento, Itajaí.
Nos três anos seguintes,
dedicou-os à formação no Seminário de Azambuja: de 1944 a 1946 como professor,
em 1944 prefeito de disciplina, nos anos de 1945 e 1946 foi diretor espiritual.
Ao mesmo tempo, Pe. Gregório foi mestre de canto na Scholla musical
do Seminário: era regente e tinha habilidade para arranjos e composições
musicais. Criou a Banda de Música em Azambuja.
Em 18 de janeiro de 1947 foi
nomeado vigário paroquial de São José, em Criciúma, acompanhando o pároco, Pe.
Wilson Laus Schmidt.
Em 25 de janeiro de 1948 Pe.
Gregório Warmeling recebeu a provisão de pároco de Santo Antônio de Laguna
onde, por seus dotes humanos e sacerdotais, tornou-se um verdadeiro mito. No
plano administrativo foi o responsável pela colocação da imagem de Nossa
Senhora da Glória no Morro Pau-do-Sinai, hoje Morro da Glória. O monumento tem
14 metros de altura e foi inaugurado em 1953. É local de turismo e devoção.
Durante muitos anos Laguna viveu da lembrança desse grande pároco, de sua
oratória, zelo e simpatia. Como que recordava as glórias passadas da comunidade
lagunense.
Externamente, Dom Gregório
Warmeling poderia ser descrito como “uma imagem e uma voz”: com seu 1,85 de
altura e média de 120kg. causava profunda impressão. E essa era aumentada
quando soltava a voz: dicção impecável, belo timbre com inflexões seguras que
iam do profundo grave ao agudo. Um comunicador nato.
No dia 3 de abril de 1957 foi
eleito segundo bispo diocesano de Joinville. Como lema episcopal escolheu “Mihi
vivere Christus” (Fl 1,21): Para mim o viver é Cristo. Seu
longo episcopado foi uma busca séria, pessoal e eclesial, da centralidade de
Jesus Cristo.
A ordenação episcopal, grandiosa
sobre todos os pontos, foi na secular matriz de Laguna em 29 de junho de 1957,
sendo bispo ordenante Dom Joaquim Domingues de Oliveira e co-ordenantes Dom
Anselmo Pietrulla, OFM e Dom Inácio Krause, CM.
Assumindo Joinville, Dom Gregório
deparou-se com a difícil situação vivida pela renúncia por motivo de saúde do
primeiro bispo, o santo Dom Pio de Freitas, CM e pela experiência tumultuada de
dois bispos administradores apostólicos que dividiram o clero. Dom Gregório foi
recebido com muito entusiasmo e esperança. Parte do clero o tinha conhecido no
Seminário de Azambuja.
Para auxiliar o povo no canto e
nas orações durante a Missa e como devocionário, elaborou o livro ALELUIA,
usado por muitas paróquias do Brasil.
Um ponto que marcou a unidade
diocesana foi a construção da polêmica Catedral diocesana, um plano que se arrastou
45 anos, no qual optou-se a construção com simbologia moderna. A construção
teve início em 1960, foi inaugurada em 5 de junho de 1977 e só terminou em 24
de dezembro de 2005, quando foi concluída a torre do campanário de 24 metros de
altura.
Acompanhando a expansão
demográfica dos polos Joinville e Blumenau, criou 32 paróquias. Devido ao forte
crescimento populacional da diocese e à sua grande extensão geográfica, em 1968
teve parte desmembrada para a criação da Diocese de Rio do Sul. Passo seguinte,
mas tendo como bispo Dom Orlando Brandes, novo desmembramento no ano de 2000
para a criação da diocese de Blumenau.
O Concílio do Vaticano II
(1962-1965) despertou em Dom Gregório um entusiasmo incontido. Pode-se resumir
isso numa frase pronunciada por ele já no final da existência: “Incendeiem a
Diocese!”. Participou de todas as Sessões do Concílio e, ao final, fez parte do
grupo de bispos que nas Catacumbas de São Calixto assinaram o “Pacto das
Catacumbas”: ao retornarem às suas dioceses renunciariam a toda ostentação, a
tudo o que simbolizasse poder e prestígio.
Retornando à Diocese, Dom
Gregório abandonou vestes e ornamentos episcopais principescos, assumindo as
vestimentas dos padres e leigos. Alugou o Palácio episcopal e foi morar num
apartamento, mais tarde trocado por uma casa. Evidente que não foi pequeno o
escândalo e a revolta dos joinvillenses que, com tanto carinho, tinham
edificado o Palácio!
Teve uma grande preocupação
ecumênica mantendo um relacionamento fraterno com os pastores evangélicos,
fugindo a qualquer tipo de agressão confessional.
Dom Gregório era um pastor e não
um teólogo refinado: toda a sua atividade ecumênica, sua vida fraterna com
pastores evangélicos era conseqüência de um sonho: que estivessem unidos todos
os que crêem no Cristo.
Dom Gregório foi ao mesmo tempo amado
pelo povo cristão e, certamente, muito criticado pelas elites e certas esferas
religiosas e clericais. Sua atitude aberta, sua palavra nem sempre refinada e
que lembrava um colono de São Ludgero, foram motivos de incompreensão e geraram
calúnias diabólicas.
Foi acusado de ser rico, ser
proprietário de fazendas, empresa de ônibus, estar envolvido em tráfico de
drogas etc. Dom Gregório era efusivo, afetuoso com todos. Daí a caluniá-lo o
caminho era curto.
Completados os 75 anos de idade,
apresentou o pedido de renúncia em 17 de abril de 1993. No dia 9 de março de
1994 foi publicada a nomeação de seu sucessor, o Pe. Orlando Brandes, professor
de Teologia Moral no ITESC de Florianópolis e que assumiu no dia de sua
ordenação episcopal, em 5 de junho de 1994. Era o candidato de Dom Gregório e,
organizado, deu impulso a muitas intuições do antecessor. Os que fazem leituras
históricas ingênuas procuram fazer a diocese começar com Dom Orlando: na
Igreja, os grandes homens se sucedem e não se substituem!
Disposto a colaborar com o
sucessor, passou a residir em casa própria. Pouco depois foi surpreendido por
um câncer maligno de efeitos devastadores.
Faleceu em 3 de janeiro de 1997. Seus
restos mortais repousam na Catedral diocesana de Joinville.