sábado, 19 de maio de 2018

AS PRIMEIRAS ESCOLAS NA REGIÃO CENTRAL DE RIO NEGRINHO


Nota do Blog: O BLOG RIO NEGRINHO NO PASSADO publicou recentemente três textos sobre os professores Ricardo Hoffmann, Humberto Hermes Hoffmann e Freya Hoffmann Wettengel, pai e dois filhos, que estão ligados aos primórdios do ensino escolar de Rio Negrinho, nos meados da década de 1920.

A atuação destes três professores em nossa futura cidade tráz consigo várias interrogações, a exemplo: Como se deu o desenvolvimento do ensino regular em nosso município? Teriam sido eles os primeiros professores do ensino regular em nosso município? Aonde foram construídas primeiras escolas?

Este ensaio, sem maiores pretensões, procura fornecer alguns dados e informações sobre o ensino regular em nosso município, que por certo merecerá dos estudiosos um amplo estudo sobre o assunto.


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Para formarmos uma ideia das atividades escolares no atual território de Rio Negrinho é preciso termos noção de como se deu a sua ocupação territorial, e a formação de suas diversas localidades.  Obviamente a formação das diversas comunidades dentro do território de nosso município foi acontecendo paulatinamente, e na medida de suas formações buscava-se além do sustento e moradias das famílias, o auxilio espiritual e a formação escolar.

Nos vários escritos existentes que tratam do funcionamento escolar se dá a impressão que na futura região central de Rio Negrinho, a partir de 1917, foi a primeira escola existente em nosso município.

Escola Desdobrada Mista de Rio Negrinho, situada ao lado da Igreja Santo Antonio


Hora, escolas se constroem e se formam a medida que as comunidades vão se formando. Não existe escola sem aluno, essa é a lógica. O que se constata a existência de comunidades criadas, muito antes da comunidade da região central, a exemplo das comunidades de Lagoa Alto Rio Preto, Salto e Colônia Olsen.

A ocupação das terras de Rio Negrinho, então parte integrante do território de São Bento do Sul, se dá a partir do final do século XIX e do começo do século XX.

Em recentes pesquisas no acervo do Arquivo Histórico de São Bento do Sul, encontramos os registros abaixo descritos, que por certo ajudarão a dar uma luz inicial da construção das unidades escolares em nosso município.

Outras comunidades e escolas ainda não temos as informações, que merecerão outras pesquisas.


Localidade
Ano
Nº Alunos
Professor
Queimados
(?)
(?)
Quiliano Martins
Patrimonio Rio dos Bugres
(?)
(?)
Ladislau Mario Stachon
Lagoa Alto Rio Preto
1899
10
Serapião Marcondes da Fonseca
Salto
1913
26
1941 – Befreir Silveira; 1942 – Alice Carvalho; e, 1947 – Jacira Simoes da Maia
Colonia Olsen
1914
21
Antonio Schiessl
Rio Feio
1925
15
Pedro Fernando de Castilho
Rio da Veada (Escola Ministro Gaspar Dutra)
1943
30
Eloy Mariano Pereira
Corredeira
1946
22
Juvelina M. Nunes
Campo Lençol
1948
36
Leonita Brusky
Patrimonio do Salto
1948
(?)
Joana Alves de Lima

Partindo do pressuposto que várias outras comunidades já existiam antes da formação da comunidade da futura região central de nossa cidade, a partir de 1910, trabalho que requer uma amplitude maior, vamos a partir de agora tratar especificamente dos primórdios do ensino regular em nosso futuro centro de Rio Negrinho.

Segundo relato da primeira Ata Solene da Comunidade Católica de Rio Negrinho, lavrada em 07 de junho de 1924, foi relatado que a “localidade de Rio Negrinho existia lá cerca de 45 anos à margem da Estrada Dona Francisca Km. 103, contendo naqueles anos apenas três a quatro casas sem manifestar progresso; nos anos de 1910 a 1912 foi construída a Estrada de Ferro, ramal de São Francisco e o lugarejo doado da Estação de Rio Negrinho; logo o número de casas aumentou, de modo que, em 1918 existiam 12 a 15 casas, entre elas três casas comerciais”.

Portanto, entre 1879 a 1910, na futura região central de Rio Negrinho, entre os kms. 102 e 103 da antiga Estrada Dona Francisca, havia 3 a 4 casas.

Somente, a partir de 1910, com a construção da Estrada de Ferro que o número de casas aumentou, chegando em 1918 a 12 a 15 casas, e, em 1924, 80 e tantas casas, com 600 habitantes.

O futuro centro de Rio Negrinho entre 1910 e 1912, com a construção da Estrada de Ferro, teve muita vida, enquanto durou a construção da via férrea, declinando logo que foi finalizada esta importante obra, que foi inaugurada no ano de 1913.

Entre 1910 e 1917 não encontramos, até a presente data, nenhum registro de atividades escolares nesta incipiente comunidade. Como eram então atendidas as crianças em idade escolar?

Havia várias possibilidades, a primeira, o de não estudar, a segunda, as famílias mais abastadas de contratar um professor particular, e a terceira, de irem a outras localidades, como Lençol ou São Bento do Sul.

Dentro deste quadro populacional, o início das atividades escolares na área central da pequena Vila de Rio Negrinho, então parte integrante do território de São Bento do Sul, se dá em 1917, com a criação de uma escola pública, sendo nomeada Maria Dias de Olliveira como sua professora.

A professora Maria Dias de Oliveira, nascida em 15 de fevereiro de 1900, era filha de Antonio Dias de Oliveira e Maria Ignes de Oliveira, e casou-se com 25 de junho de 1918, com Alexandre de Almeida Milicio, agrimensor, empregado da Estrada de Ferro, na localidade de Rio Preto, para onde transferiu-se.

Infelizmente, esta escola, com a transferência da professora Maria Dias de Oliveira para a localidade de Estação de Rio Preto, município de Mafra, foi transferida para lá, a partir de junho de 1918, ficando a Vila sem o ensino escolar.

Neste vácuo, Martin Ilg, lecionava pela manhã e a tarde atuava como guarda-livros na firma Jung & Cia., isto até maio de 1920.

As tratativas para construção de um prédio escolar na Vila de Rio Negrinho somente veio a acontecer em meados de dezembro de 1919. Nesta reunião, Luiz Scholz, um dos pioneiros moradores da Vila de Rio Negrinho ofereceu um terreno com 3.500 metros quadrados, fazendo frente à rua da “Estação”, atual rua Jorge Zipperer, e ainda, cada um dos presentes se cotizaram para a construção da nova escola.

Iniciou-se a construção medindo 14 x 10 metros para sala de aulas e residência de professor e família, as despesas foram pagas dentro de um período de 3 anos. Organizou-se festas populares em benefício em benefício da obra e buscava-se donativos.

Em abril de 1920 o prédio escolar estava pronto e em 04 de maio foram iniciadas as aulas. Neste terreno doado por Luiz Scholz pouco mais tarde foi construída a primeira Igreja Católica.

Em 1923 o prédio escolar foi deslocado 16 metros em direção ao norte, no mesmo terreno, com o objetivo de alojar a projetada Igreja Católica. Esse deslocamento foi feito sem ser desmontado o prédio, conduzido em estaleiros de pau de prumo e teve duração de 3 dias.

Já em 1925 o prédio escolar original sofreu ampliação, na frente da escola e ligado este destinado a residência dos professores e familiares, cuja construção era de 2 andares, tudo de madeira.

Pronto o prédio escolar, foram contratados dois professores, o professor particular Roberto Hoffmann e como professora pública Adelaide Ferreira da Costa. A frequência inicial era de 25 alunos, que na medida do aumento populacional da Vila, tornou-se cada vez maior.

Prédio da Escola Mista de Rio Negrinho, antes de sua ampliação, onde se vê junto aos alunos a professora Adelaide Ferreira da Costa (centro) e a esq. o professor Roberto Hoffmann

A professora Adelaide lecionava de manhã em português e o professor Hoffmann que residia na própria escola, lecionava na parte da tarde e em alemão.

Nestes primórdios o alfaiate Bernardo Wolf, nesta escola, organizou um curso de ginástica.


O alfaiate "professor" de ginástica Bernardo Wolf e os alunos da Escola Desdobrada Mista de Rio Negrinho, depois da ampliação, situada ao lado da Igreja Santo Antonio

Uma sociedade escolar tomou a si o encargo de organização e do financiamento dos custos gerais.

Na descrição de Jorge Zipperer, Adelaide Ferreira da Costa, oriunda de Itajaí, era viúva há pouco tempo, com duas filhinhas, tinha aula das 8 às 12 horas, porém, não tinha muito conhecimento da matéria, e praticou somente 15 dias no Grupo Escolar Itajaí. Procurou cumprir o seu dever a todo custo, porém, não conseguiu resultado satisfatório; e, era paga pelo Governo.

Enquanto, o Professor Roberto Hoffmann, é qualificado por Jorge Zipperer, com “meu amigo”, bom professor, um tanto fraco em português, e ainda “muito esquisito”, dava aulas das 13 às 17 horas e percebia a sua remuneração da Sociedade Escolar.

Segundo recentes pesquisas o Professor Carlos Frederico Roberto Hoffmann, ou simplesmente Roberto Hoffmann, é filho de Frederico Carlos Roberto e Elisabeth Hoffmann, nascido em 1876, no bairro de Lichterfelde, na cidade de Berlim, capital alemã. Imigrou para o Brasil em 1903, com 27 anos, em companhia de seu irmão Ricardo, com 23 anos, sua irmã Elisabeth, com 25 anos, e sua mãe Elisabeth, com 53 anos. Casou-se aos 40 anos de idade, em São Bento do Sul, em 29 de janeiro de 1916, com Ida Krause. Lecionou em São Bento do Sul até 1920, quando foi contratado pela Sociedade Escolar de Rio Negrinho, como professor particular.

O professor Roberto permaneceu como professor até dezembro de 1924, quando “renunciou” o cargo. A última notícia que temos dele foi de 06 de maio de 1928, como morador na localidade de Rio do Salto, por ocasião do registro do falecimento de um de seus filhos.  Após esta não temos outra informação do seu paradeiro.

Com a “renúncia” do professor Roberto Hoffmann de Rio Negrinho, em dezembro de 1924, e da remoção da professora Adelaide da Costa, no início de 1925, para a localidade de Avencal, município de Mafra, assumiu as atividades de magistério o professor Ricardo Hoffmann, em 04 de junho de 1925.

Professor Ricardo Hoffmann (foto do acervo de Yara Maria de Goss)


Professor Ricardo lecionou a partir de 04 de junho de 1925, aos 56 alunos, que até outubro desse ano, subiu para 80 alunos, quando a escola foi desdobrada. Além de professor do ensino regular, foi professor de língua alemã.

Professor Humberto Hermes Hoffmann (foto da EEB Humberto H. Hoffmann)

Em março de 1927 foi nomeado professor Humberto Hermes Hoffmann, então com 16 anos de idade, filho do professor Ricardo, da 2ª escola pública, que funcionava no mesmo prédio. O professor Humberto Hermes permaneceu em Rio Negrinho até 18 de abril de 1929, quando foi removido para Brusque, assumindo no seu lugar a sua irmã Freya, com apenas 15 anos de idade.

Professora Freya Hoffmann Wettengel (foto do acervo de Yara Maria de Goss)

As matrículas subiram em 1929 até 170 alunos, e em 1932 foi de 139 alunos.  Em 22 de maio de 1932, domingo, um tufão se abateu sobre a Vila, que prejudicou grandemente a comunidade, inclusive destruindo o edifício escolar. A escola funcionou no pequeno salão Brusky.

Escola destruída pelo tufão em 22/02/1932 (foto do acervo de Doris Piccinini)


Com o prédio escolar destruído o Governo do Estado tomou a decisão de estadualizar a escola, e construir um novo prédio, livre das enchentes, situado no atual bairro Cruzeiro, com 4 salas de aula, o futuro Grupo Escolar Professora Marta Tavares, inaugurado em 17 de setembro de 1933.

Imagem antiga do Grupo Escolar Professora Marta Tavares


Imagem da EEB Professora Marta Tavares


Em setembro de 1948, data do 75º Aniversário de São Bento do Sul, o número de alunos do Grupo Escolar Professora Marta Tavares era 400 a 500 alunos e era dirigido pelo Professor Arthur Sichmann.

Imagem externa do EEB Professor Jorge Zipperer (foto extraída da Rede Social)

Imagem interna do EEB Professor Jorge Zipperer (foto extraída da Rede Social)


A segunda unidade escolar da cidade de Rio Negrinho foi implantada no Bairro Vila Nova, que iniciou suas atividades em 07 de maio de 1945, com o nome de Escola Pública Mista Estadual de Vila Nova, na rua 21 de abril. Contava com apenas com uma professora chamada Leopoldina Rosa Soares, com duas turmas, num total de 45 alunos. Em 04/05/1958, a escola foi transferida para a rua Carlos Speicher, denominada: Escola Reunida Professor Jorge Zipperer, tendo como diretor o professor Alberto Tomelin. A escola atendia inicialmente aos alunos de 1ª a 4ª séries.

Imagem de uma das primeiras turmas de alunas do Educandário Santa Terezinha (foto do acervo de Glicia Neidert)

Imagem do Educandário Santa Terezinha (foto do acervo de Glicia Neidert)

A terceira escola, em 1947, foi o Educandário Santa Terezinha, incentivado pelo padre Celso Michels, primeiro vigário de Rio Negrinho, com objetivo de trazer uma nova opção educacional, através das irmãs da “Congregação das Irmãs de São José de Chambéry”, sediadas em Curitiba, se estabelecem em Rio Negrinho com a criação de um Jardim de Infância. Depois de uma série de transformações é o atual Colégio Cenecista São José.


Outras escolas foram sendo implantadas a medida que a cidade foi crescendo e se expandindo, como no Bairro Bela Vista, no Bairro São Pedro, no Bairro São Rafael, no Bairro Vista Alegre, e no Bairro Industrial Norte, entre outras, que merecerão um trabalho futuro mais acurado.


Fontes:

ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO BENTO DO SUL.
ATA SOLENE DA COMUNIDADE CATÓLICA DE RIO NEGRINHO, 1924
KORMANN José. Rio Negrinho que eu conheci, 1980, págs. 94 e 95 e 158 a 160.

SITE DO COLÉGIO CENECISTA SÃO JOSÉ DE RIO NEGRINHO.
SITE FAMILY SEARCH.

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