sábado, 7 de junho de 2014

UM OLHAR SOBRE RIO NEGRINHO ! (23)

Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.

MÓVEIS CIMO E SEUS DIRETORES.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Um dos maiores impérios moveleiros da América do Sul, a Companhia Industrial de Móveis – CIMO – teve seu melancólico final no início da década de 80, quando faliu, depois de um acentuado declínio ao longo de alguns anos anteriores. Nada restou das imensas pilhas de madeira que “ornamentavam” seu gigantesco pátio que tomava lugar da maior parte da área central de Rio Negrinho. Nada sobrou do seu quase incalculável patrimônio espalhado por várias cidades brasileiras, pois a Móveis Cimo possuía filiais em São Paulo na Avenida Franklin Roosevelt,146-b, em Rio de Janeiro na Rua Maria Tereza, 89, em Curitiba na Rua Barão do Rio Branco, 158, em Belo Horizonte na Rua Carijós, 101 e em Joinville na Rua São Pedro, 160. Nosso objetivo de hoje é mostrar as dificuldades financeiras das indústrias, através de uma transcrição de um texto emitido no final do ano de 1955, quando Egon Renner, filho do titular das Indústrias J. A. Renner, uma grande potência industrial de Porto Alegre, e íntimo amigo do Sr. Martin Zípperer, este então Diretor Superintendente de Moveis Cimo S.A., que publicou o referido texto no Jornal “A Hora” de Porto Alegre em 22-12-1955. Os pareceres técnicos do texto, que analisam a indústria no rol do processo inflacionário, mostram as grandes dificuldades que, já naquela época, assolavam as indústrias e o comércio do país. Durante o transcorrer do texto mostraremos alguns momentos particulares dos Diretores da CIMO, Martin e Carlos, e aspectos da Grande fábrica.

PROVÁVEIS CONSEQUÊNCIAS DA SITUAÇÃO FINANCEIRA.  “É público e notório que o nosso Estado está passando por uma crise financeira sem precedentes. O fato preocupa a todos, e inúmeras pessoas tem alertado o governo para este gravíssimo problema. Entendi, por isso, necessário chamar a atenção para certas conseqüências que, se a crise não for debelada, por certo virão. Mas o que se passa realmente na indústria e no comércio em virtude da crise financeira? Admitimos, uma empresa industrial que tenha uma produção anual de 10 milhões de cruzeiros, apurando no seu balanço um lucro líquido de um milhão de cruzeiros. Essa empresa gasta em matérias primas e salários, por hipótese, duas terças partes do valor da sua produção, ou sejam, seis milhões e seiscentos mil cruzeiros. Se a matéria prima e os salários aumentarem em 20%, esta empresa necessitará para manter, - notem bem manter e não aumentar – a sua produção, no ano seguinte, uma importância maior de um milhão trezentos e vinte mil cruzeiros, ou seja 20% sobre seis milhões e seiscentos mil cruzeiros. Do lucro de um milhão ainda precisa descontar o imposto sobre a renda da pessoa jurídica, no valor de cento e noventa mil cruzeiros, sendo, portanto, o total necessário a mais para sustentar a produção, de um milhão quinhentos e dez mil cruzeiros. Existe, daí, um déficit  financeiro de quinhentos e dez mil cruzeiros. É verdade que o desembolso dessa importância não será imediato, porém, também é exato que a recuperação dessa importância é lenta, porquanto a compra da matéria prima e o pagamento de salários, impostos, etc., somente serão recuperados quando a empresa receber o pagamento das manufaturas vendidas. E isto leva meses, dependendo, sempre, das condições peculiares a cada indústria. O que, porém, se evidencia, e que qualquer um pode compreender, é que o industrial precisa de recursos adicionais a fim de poder financiar a sua produção. Esse crédito, todos nós sabemos, hoje é difícil, mesmo quase impossível. O que fazer então? Restaria um único caminho: diminuir a produção, adaptando-a às suas possibilidades financeiras. Mas, reduzindo-se a produção aumenta-se o custo e havendo falta de mercadoria sobem vertiginosamente os preços. Agrava-se, pois , a inflação. Outro aspecto grave que em seguida se verificará, é a diminuição do número de empregados, provocando-se desta forma, o desemprego com todas as desastrosas conseqüências. Continua-se, portanto, um mesmo círculo vicioso. No comércio, alegam muitos, a situação seria mais fácil, o que não me parece certo. O comércio poderá resolver a sua situação mais rapidamente, diminuído as compras, porém as conseqüências serão as mesmas. Diminuindo as compras, mais dia menos dia, vão diminuir as vendas, e as despesas não se reduzirão na mesma proporção. Resultado disso é o aumento da margem, provocando-se a alta e contribuindo-se para a inflação. Se a situação continuar se agravando, há outro perigo para o qual é preciso atentar. É de que a linha normal da indústria e do comércio de vender muito com pouco lucro em cada unidade, seja substituída, nesta emergência, pelo sistema de vender pouco ganhando mais em cada unidade. Espero que este meu temor não se concretize mas, como digo, no caminho que vamos, estamos correndo este risco. Para evitar estas conseqüências a produção precisa ser amparada e deve-se emitir para elevá-la. Emitindo para pagar déficits, como tem sido feito, estaremos inflacionando, mas emitindo para aumentar a produção, estaremos combatendo a inflação.” (texto de Egon Renner).

CARLOS ZÍPPERER QUANDO ERA JUÍZ DE PAZ. Extraímos esta foto do livro “Dados Históricos do Município de Serra Alta” (São Bento do Sul), editado em 1948, por ocasião de seu 78º Aniversário de Fundação.                                                                                                       
MARTIN ZIPPERER, SUPERINTENDENTE DA MÓVEIS CIMO S. A., (NO CENTRO DA FOTOGRAFIA), GUIANDO VISITANTES DA MESBLA E EXPOSIÇÃO PERCORRENDO AS DEPENDÊNCIAS DA FÁBRICA DE RIO NEGRINHO. Uma das causas principais desta crise é a inflação, e conseqüente desvalorização constante do poder aquisitivo da nossa moeda, a qual se reflete no sempre crescente custo de todos os artigos, a começar pelas matérias primas, indo até os produtos manufaturados. Os salários, por sua vez, acompanham, como é natural, o mesmo ritmo.
SÃO PAULO NA DÉCADA DE 50. A Móveis Cimo mantinha filial naquela grande metrópole que era assim a 70 anos atrás.
RIO NEGRINHO NO FINAL DA DÉCADA DE 40. Vemos, aí, a cidade crescendo ao redor da grande mãe Móveis Cimo.
CARLOS ZIPPERER ERA MÚSICO. Aqui, com seu famoso pistão, Carlos dá um show na festa em que ele foi coroado o Rei da Festa – veja a faixa.
POLTRONA FABRICADA PELA MÓVEIS CIMO. Os móveis desta indústria abasteciam os cinemas, salões e residências do país inteiro e até do exterior.
POLTRONA FABRICADA PELA MÓVEIS CIMO. Os móveis desta indústria abasteciam os cinemas, salões e residências do país inteiro e até do exterior.
OUTRO ASPECTO DE RIO NEGRINHO NA DÉCADA DE 40  - BAIRRO BELA VISTA. Vemos ao fundo a Rua Hugo Fischer - a rua da Escola Aurora. Em primeiro plano, uma família em frente a casa, já demolida, que ficava à rua Carlos Hantschel, ao lado da Comercial Moreira. 
EMBLEMA DA MÓVEIS CIMO. Diariamente era visto nas portas dos caminhões que transportavam toras e nos selos que a indústria colava nos seus móveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS. Maravilhosa a análise deste especialista em causas inflacionárias e procedimentos de produção na indústria e no comércio. Quem leu o texto com atenção e “descolou” dele um bom raciocínio certamente aprendeu uma ótima lição que um dia poderá livrá-lo de encrencas inflacionárias no seu próprio negócio, como o fizeram Martin e Carlos Zípperer. A grande Móveis Cimo, que levantou Rio Negrinho, também deixou-nos pujantes lições que jamais serão esquecidas. À ela muito devemos! Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!

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