sexta-feira, 2 de maio de 2014

UM OLHAR SOBRE RIO NEGRINHO! (09)

Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Cada um de nós tem histórias para contar. Criança, jovem, adulto ou velho, todos temos lembranças boas e ruins de experiências que aconteceram em nossas vidas e que marcaram o momento pela importância ou pela peculiaridade, e essas recordações permanecem vivas e grudadas em nossas personalidades. Em cada vez que recordamos aqueles momentos especiais, automaticamente voltamos no tempo e, de certo modo, vivemos novamente as cenas do passado. Vamos embarcar na máquina do tempo e recordar um pouco do Rio Negrinho antigo. Aproveito a viagem no tempo ao passado para contar uma das minhas histórias de menino, um momento mágico que vivi nos meus sete anos de idade. Era o ano de 1957. Eu (Celso), até então, nunca tinha saído de casa, sempre protegido pelas asas da minha mãe. Não conhecia nada além da cerca de ripas que rodeava o terreno da minha casa e da valeta funda que passava bem em frente.
CASA ONDE NASCI E VIVI, NA RUA JORGE LACERDA (RUA DO SAPO) - Foto de 1976. Foi aqui que minha mãe, de repente, num belo dia de domingo, comunicou-me que no dia seguinte, segunda-feira, eu iria para a escola. Eu estava matriculado no colégio das irmãs religiosas, o Educandário Santa Teresinha, hoje Colégio Cenecista São José. Na segunda-feira lá fui de mãos dadas com minha mãe e quando chegamos próximo ao colégio fiquei impressionado com o tamanho daquela casa, nunca tinha visto uma com tantas janelas empilhadas para cima e para os lados. Entramos por um portão de madeira num grande pátio onde muita gente grande conversava e a criançada corria e brincava. Fiquei animado, pois aquilo mais parecia um paraíso muito alegre e o melhor de tudo: para qualquer direção que eu olhava via muitas meninas bonitas. Uau! Tô nessa! Minha mãe nunca tinha me contado que Rio Negrinho tinha tantos “chuchuzinhos”.
PÁTIO DO EDUCANDÁRIO SANTA TERESINHA EM 1957. Nele não havia nenhuma construção, apenas uma quadra circular de educação física, e duas pilhas de tijolos, no lado oposto ao colégio, que provavelmente seriam destinados à construção de muros. Foi ali, que tive minha primeira experiência de coletividade integrando-me aos grupos de roda, de peteca, de pula-pula e de outras brincadeiras da época. Em certo momento, ouviu-se uma sineta e todos correram para formar fila em frente uma porta que dava acesso a um grande corredor que por sua vez levava às salas de aula. Também entrei na fila e logo fomos conduzidos, cada grupo de alunos às respectivas salas de aula.
SALA DE AULA ONDE ESTUDEI NO PRIMEIRO ANO PRIMÁRIO (1957). Esta foto foi clicada antes de entrarmos na sala, provavelmente por minha mãe no ano de 1957. Na frente, logo acima do quadro-negro, a imagem de Santa Teresinha que dava nome ao colégio e um crucifixo acima da cabeça dela enfeitavam a parede. Entrei na sala de aula com grande expectativa pelo que viria acontecer, sentei com um coleguinha no primeiro banco da frente –as carteiras escolares eram duplas-, olhei para aquele quadro preto na frente da sala e fiquei imaginando para que serviria aquilo. Todos esperavam ansiosos pela professora e, nas conversas com alguns coleguinhas, soube que nossa professora seria a Irmã Umbelina. De repente a porta- que aparece na foto - se abriu e apareceu um enorme dinossauro vestido de preto, com um círculo branco ao redor do pescoço, um pano preto sobre a cabeça, uma faixa branca na testa e dois olhões verdes de bicho feroz que me fixaram e me fizeram gelar até o último osso do corpo. Era a Irmã Umbelina que parou no vão da porta e nos cumprimentou com voz grave: “Bom Dia”! Aí, não me contive: para salvar a pele arredei minha carcaça dali a toda velocidade, acho que bati o recorde dos cem metros rasos. Como passei pela porta não sei! Penso que foi por baixo da saia dela, pois pelos lados não havia espaço. Sumi do recinto em poucos segundos. Procuram-me por todos os cantos e nada! Depois de meia hora de frenética busca sem sucesso minha mãe foi chamada porque conhecia bem meus hábitos e meus truques. Ela chegou, escutou os relatos, deu uma olhada ao redor e – a amiga da onça - levou um bando de dinossauros vestidos de preto direto para as pilhas de tijolos que aparecem na segunda foto. E não vai que ela acertou meu esconderijo?! Lá estava eu, tremendo de medo, espremido bem no fundo de um pequeno vão de difícil acesso entre as pilhas de tijolos! Difícil foi arrancar-me de lá. Agarrei-me com unhas e dentes nos tijolos e foi preciso desmanchar boa parte das pilhas para que eu fosse resgatado. Minha mãe levou-me para casa e não foi fácil convencer-me que aquele dinossauro não era um bicho feroz e sim uma simpática freira que iria me ensinar muitas coisas interessantes. Essa foi minha primeira aventura fora de casa! No colégio a disciplina e o ensino eram rigorosos! Todo mundo tinha que estudar mesmo, senão entrava na vara de marmelo em casa! Ai de que proferisse um palavrão. Veja que diferença nos dias atuais: os palavrões são fartamente diccionados e aplaudidos nos programas de TV sob o escudo do “direito da livre expressão”! Naquele tempo os pais colaboravam estreitamente com os professores no andamento dos estudos dos filhos. Um regime disciplinar como aquele faria um grande bem aos bandos de moleirões que nada querem com o estudo e pensam que são donos do mundo.
IRMÃ UMBELINA, EM PRIMEIRO PLANO.  Ela até que não era tão gorda, tão feia e tão ruim assim como eu a havia imaginado. Naquele pé de pêra que aparece na foto, na frente das pessoas, eu subia todos os dias até que uma menina (tinha que ser menina!) caiu de lá e, daquele dia em diante, foi proibida sua escalada. Lembro que todos os meninos “olharam torto” em mais de um mês para a “sirigaita” que nos tirou a principal diversão. Ao fundo aparece a construção dos banheiros e, perto, os ranchos onde as freiras guardavam ferramentas e outros pertences úteis. Um deles era galinheiro e atrás daquelas construções as freiras cultivavam uma belíssima horta. Elas tinham até uma roça de milho naquele local. Em edições futuras pretendemos mostrar como era o galpão nos fundos, o salão de reuniões com palco e tudo para teatros e outras apresentações e as imediações do colégio.
ENCHENTE NO CAMPO DO OMERI EM 1964. Aproveitemos a máquina do tempo e façamos uma pequena viagem pelos campos de futebol de Rio Negrinho. Em 1964, meu marido, Celso, jogava no Omeri F.C. com sede (campo) situado à beira do Rio dos Bugres, chamado Estádio Max Anton, na localidade de Rio dos Bugres, próximo onde hoje está o atual campo do Esporte Clube Continental. Bastava uma chuvarada intensa para que o campo ficasse alagado como mostra a foto acima. Esse tipo de inundação era comum em tempos chuvosos porque o campo estava a pouco mais de um metro acima do nível normal do Rio dos Bugres. Foi nesse campo que Celso iniciou, ainda aos 14 anos de idade, a carreira de goleiro no time do Omeri. OMERI era a abreviação de Oficina Mecânica Rio Negrinho. A foto seguinte mostra o time inteiro.
TIME DO OMERI FUTEBOL CLUBE, NA OPORTUNIDADE DA INAUGURAÇÃO DOS MACACÕES, EM 20/02/1966. De frente para trás: Alcides (Barbosa) José (treinador), Traudio Antonio Tureck, Vitor Buchmann, José Padilha, Silvio da Silva, Eugenio (Orge) Tureck, Lula, Raul Fernandes de Lima, Alvino Maros, Joaquim Vicente, Nelson Barbosa, Pedro, Mario Bolduan, Pacheco, Antonio Barbosa (Nico), Celso Carvalho, Deque, Itamar Simões (Puio), João Pereira (J. Silva) e o Hugo Vieira Martins (massagista). Eu  (Mariana) era menina, mas gostava de ir aos campos de futebol para ver o jogador Celso que era chamado de goleiro voador pela agilidade e o grande impulso que tomava quando “voava” de encontro à bola. Veja a foto seguinte.
CELSO, O GOLEIRO VOADOR. Foto obtida depois de muitas tentativas do fotógrafo que ficou o jogo inteiro batendo fotos dele até que conseguiu este magnífico instantâneo em uma das voadas que caracterizou esta espetacular defesa de um chute da risca da grande área. Eu e a torcida ficamos eletrizadas com este lance, mas nem de longe poderia imaginar que aquele belo rapaz voador seria meu futuro marido! Bem! Eu (Mariana) era muito jovem, mas confesso que já pensava em tal possibilidade nos meus sonhos de menina. Assim como ele agarrava a bola e não a soltava, eu, mais tarde, o agarrei e não mais o soltei!  Ele está nas minhas garras até hoje! Não foi fácil porque tinha mais umas trinta “zoiudas” afiando as unhas para fisgá-lo!
CONSIDERAÇÕES FINAIS. As histórias que estamos relatando não são mera fantasia. São fatos que estão muito vivos em nossas memórias e que servem para rechear e tornar mais saborosa nossa viagem de volta no tempo. Por hoje é só! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu! 

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