domingo, 18 de maio de 2014

NUM OLHAR SOBRE RIO NEGRINHO ! (19)

Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. COMO É BOM SER CRIANÇA. Os tempos mudam, tudo evolui para melhor ou para pior, mas nada fica exatamente como está. Fui professor por quase quarenta anos e presenciei as enormes mudanças que aconteceram nesse tempo. Houve transformações radicais. Até uns trinta anos atrás, a maioria das escolas nem muro tinha ou, se tinha, os portões permaneciam abertos o tempo todo sem que houvesse nenhuma preocupação com vândalos, de qualquer espécie. As crianças brincavam livremente nos enormes pátios das escolas. Hoje, os pátios diminuíram de tamanho, tomados por construções como, novas salas de aula, quadras cobertas e os muros altos necessários para proteção contra atentados de toda ordem e, também, para suprir novas necessidades criadas pelo aumento gradativo da clientela. Além disso, o mundo criou novas ameaças que trazem real perigo à segurança mesmo dentro de uma escola. Criaram-se leis e costumes, muitos deles exagerados, que inibem a liberdade infantil. Por exemplo, quase não se vê mais árvores nos pátios escolares, pois pensa-se que, se alguém subir na árvore, poderá cair de lá e ferir-se. Lembro muito bem que apenas uma vez, uma menina caiu de um galho baixo de um pé de pêra que havia no pátio do Educandário Santa Teresinha e apenas arranhou-se um pouco e mesmo durante todo o longo período que lecionei em muitas escolas, nunca vi ninguém cair de uma árvore. Hoje é muito mais perigoso andar nas ruas! E olha que a molecada brincava adoidada nos barrancos e nas árvores. Que tempo maravilhoso quando se podia testar nossas habilidades de criança e melhorar a coordenação motora em todos os sentidos. Observe as duas fotos a seguir, que cliquei, lá pelos anos oitenta, na Escola Lucinda Maros Pscheidt, no bairro Vista Alegre. A escola nem muros tinha e as crianças improvisavam pequenos parques de diversões. Com tijolos e tábuas montavam um precário trampolim onde cada uma ficava numa extremidade da tábua. Uma delas saltava sobre sua extremidade da tábua e a outra, impulsionada pela tábua e pelas próprias pernas elevava-se aos ares num prazeroso, espetacular e fantástico salto. Quando esta caia de volta sobre sua extremidade o mesmo acontecia com a outra criança da outra extremidade. Isso é ser criança livre de influências bobas de adultos medrosos mal preparados para a vida e que impõem suas fraquezas às crianças viçosas que precisam expandir suas potencialidades físicas, mentais e espirituais!
PARQUE IMPROVISADO NA ESCOLA LUCINDA MAROS PSCHEIDT EM 1980. Note alegria e a criatividade das crianças de poder inventar suas próprias brincadeiras que dão de dez a zero naquelas que ficam o dia inteiro “vidradas” na frente de uma TV ou de um vídeo game amolecendo o corpo, espírito e a mente.
COM UMA SIMPLES TÁBUA E UM OU DOIS TIJOLOS AS CRIANÇAS FAZIAM A FESTA À SEU MODO. Para brincar assim, as crianças vinham meia hora antes do começo das aulas e divertiam-se prá valer! Nunca vi nenhuma machucar-se. Se isso acontecer hoje, logo aparecem pais medrosos acusando a escola de irresponsável e, quem sabe, até acionam o Conselho Tutelar! Engraçado: proíbe-se crianças de brincar sadiamente e de desenvolver suas habilidades, mas para vagar nas ruas quebrando vidraças e fazendo outras malandragens não há problema nenhum! E há pais que até defendem o filho diante do erro como, por exemplo, quando o vizinho reclama do vidro quebrado da janela, os pais, no lugar de repreender e castigar o filho, autor do incidente, ofendem-se e ainda xingam o vizinho como se fosse ele o culpado! Obviamente, não são todos que assim agem. Ainda bem! 
ESCOLA LUCINDA MAROS PSCHEIDT EM 1980. Já tinha cerca, mas era de tela simples. Hoje é cercada por muros e vigiada para proteger-se de vandalismos que são comuns contra as escolas.
ALUNOS DO 3º ANO DA PROFESSORA VERA GRIMM EM 1959 NO GRUPO ESCOLAR PROFESSORA MARTA TAVARES. A turma era grande, mas a professora Vera, que aparece na foto, no alto e no meio, dava conta do recado, e muito bem! Em 1957, meus pais matricularam-me no Educandário Santa Terezinha, uma escola de elite. Mas eu, pequeno e medroso, tinha muito medo das freiras que comandavam o colégio. Vendo o problema, meus pais transferiram-me para o “Marta Tavares” e, aí sim, me dei bem com a professora Vera que me tratava com maior flexibilidade que as freiras do colégio que eram muito rígidas com a disciplina. Mais tarde voltei ao Colégio das freiras! Num dia desses, conto como foi minha primeira experiência no colégio das freiras. É prá acabar!
RUA ADOLFO OLSEN EM 1958. Naquele tempo a rua Adolfo Olsen (ao lado do Colégio Estadual Profª Marta Tavares) não era muito mais que um carreiro por onde as pessoas que moravam no morro, onde hoje é o Bairro Cruzeiro, desciam até à cidade para passear ou fazer compras nos mercados e lojas que só existiam no centro ou nos seus arredores. A grande cruz que aparece foi erguida durante as missões dos padres missionários. O Grupo Marta Tavares, à esquerda, ainda tinha um grande pátio, logo após a cruz, onde os alunos passavam os recreios praticando esportes. Era, também, o lugar onde a saudosa professora Selma Teixeira Graboski, esposa do professor Elias Graboski, dava suas aulas de Educação Física. 
RUA ADOLFO OLSEN EM 2014. Vista de quase do mesmo ângulo da foto anterior. No lugar do pátio, o ginásio de esportes. A Cruz que era de madeira foi substituída por uma de concreto em 2007.
AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO EDUCANDÁRIO SANTA TERESINHA EM 1958 (DATA APROXIMADA). Este era um dia de inverno, às sete horas da manhã. Observe a rigidez no desenvolvimento das aulas. Todas as alunas de uniforme, sem proteção contra o frio; movimentos sincronizados, o que significa que as aulas eram bem sérias; o horário (7hs. da manhã) tinha que ser cumprido à risca. Para o pelotão feminino sempre uma professora ministrava as aulas e para o masculino, um professor. O estudo era cobrado com rigor. Ai de quem não soubesse a lição e de quem não trouxesse o dever de casa bem feito! Os estudos eram “fortes” e levados mesmo no sério! Nisso tudo as freiras eram rígidas e levavam tudo na “ponta do lápis!” E se fosse hoje? Não acha que alguns pais “cairiam de pau” em cima das freiras? Ah! tem também esses tais de “Direitos Humanos” que estragam mais que arrumam! Foi, aí nesse pátio, do jeito que a foto mostra, que obtive minhas primeiras impressões de uma escola. Assustado com aquela “casa grandona” – o colégio – inventei minha primeira peraltice fora de casa, e das boas! Conto a proeza noutra edição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS. No processo evolutivo sempre há avanços e retrocessos! Pessoas que viveram nos tempos passados, lembram de muitas coisas boas que não permaneceram, como cinema, teatros, parques, bons bailes, natação em rios limpos, viagens de trem com passagens baratinhas. Nos comboios lotados iam passageiros para Mafra, Corupá, Jaraguá, Joinville e São Francisco do Sul em gostosas e saudosas viagens pela Serra do Mar. Obviamente, hoje, o transporte é bem mais rápido, mas menos seguro. Na guerra do trânsito morre muita gente! É o alto preço que se paga pelo progresso! A impressão é que o ser humano não preparou-se devidamente para acompanhar a evolução! Por hoje é só! Muito obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Papai e Mamãe do Céu!

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