sábado, 24 de julho de 2021

NOSSA HISTÓRIA: ÍNDIOS EM NOSSA REGIÃO (2)

Nota do Blog: Apresentamos o texto publicado originalmente na coluna "Nossa História" em 09/07/2021, na edição nº 5.380, pág. 4, do Jornal Perfil Multi de Rio Negrinho. O Administrador deste Blog, a partir de 07/08/2020, passou a integrar a equipe de colaboradores daquele jornal, na apresentação de uma coluna semanal de abordagem de aspectos históricos do nosso município.

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Prosseguimos a apresentação da presença indígena em nossa região.  Não é nossa meta opinar quanto a forma desordenada da ocupação pelas colônias de terras por onde vagueavam os indígenas, assunto que desperta inúmeras interpretações e apaixonadas controvérsias.

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Diversas são as bibliografias históricas que apontam e comprovam a presença indígena em nossa região. Vamos apresentar alguns fatos:

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Encontro do Eng. Carlos Pabst com os índios em 1855 

“Em uma das planícies bastante isoladas que comunica entre si por estreitas aberturas pela própria natureza, nas fraldas das montanhas e cercados de espesso matto virgem, encontrei uma horda da tribu dos Bugres bravios. O inesperado encontro de nossa comitiva com a horda de índios fê-los fugir, sem déssemos um só tiro”. (São Bento do Sul: Subsídios para sua história, Carlos Ficker, págs. 19 e 20)

 

Ofício do diretor da Colônia Dona Francisca (atual Joinville) em 1874, dirigido ao Presidente da Província de SC, solicitando a proteção por soldados da Colônia de São Bento (atual São Bento do Sul) 

"Direção da Colonia Dona Francisca, aos 17 de julho de 1874.

Illmo. e Exmo. Snr. Presidente.

..... Neste respeito peço a V. Excia. digne-se mandar estacionar no novo nucleo colonial de S. Bento hum destacamento de soldados ...... contra os assaltos dos bugres, que nas vizinhanças do nucleo colonial se acham em maior numero.

 

Deos Guarde a V. Excia. O Director int.° O. Doerffel".

(São Bento do Sul: Subsídios para sua história, Carlos Ficker, pág. 72)

 

Expedição de combate aos “bugres”, em 1874

“Poucos antes, em 3/1/1874, o Jornal Kolonie Zeitung, de Joinville, noticiava que havia partido no dia 28 de dezembro de São Bento a maior expedição aprovada pelo presidente da província, para combater os “bugres” que circulavam nas imediações de Joinville e Blumenau. A expedição era formada por 31 homens e era dirigida pelo vaqueano João dos Santos Reis”. (Os índios Xokleng: memória visual, Silvio Coelho dos Santos, pág. 26)

 

Encontro dos primeiros colonos de São Bento com indígenas

Dentre as memórias do colono Josef Zipperer Senior, entre 1873 e 1904, abordando fatos e curiosidades da época da fundação e povoação do município de São Bento do Sul, cujas memórias estão reproduzidas do livro SÃO BENTO NO PASSADO, reproduzimos um encontro entre os colonos com os indígenas na região da localidade de Lençol, que acreditamos tenha ocorrido nos primeiros anos da colonização, num período entre 1873 e 1876, que reproduzimos:

“Sob a direção do engenheiro Alberto Kröhne, uma grande turma nossa, integrada também por mim, foi abrir uma extensa picada, rumo ao Sul, como divisa das terras da Cia. Colonizadora”.

“O ponto de partida foi onde hoje se ergue a localidade de Lençol e de lá, no rumo citado, abrimos a referida e larga picada”.

“No decorrer deste serviço encontramos, abandonados à beira de um riacho, dezesseis ranchos de bugres, com indícios evidentes de uma retirada destes, como fossem, brasas quentes, nas proximidades de um dos ranchos, além de arcos quebrados e flechas”.

“Como estávamos no inverno, havia, ao redor das palhoças, montões de casca de pinhão, fruto que servia de alimento aos indígenas. Também não faltaram ossos de anta e de pássaros, que vinham provar, que os bugres, com seus arcos e flechas, eram caçadores bem mais eficientes do que nós, que usávamos a pólvora e o chumbo. Das penas de aves, jogadas, constatamos, nitidamente, que em sua maioria eram as da jacutinga, que também já conhecíamos como caça bem saborosa”.

“De bugres vivos nada vimos, como também não nos molestaram durante todo o trabalho, que durou várias semanas”.

“As palhoças dos aborígenes consistiam numas armações muito primitivas e destinadas, ao que me parece, a uma utilização sempre temporária. Escolhiam quatro arvorezinhas apropriadas, distantes entre uns três metros, desgalhavam os troncos, vergavam-nos de encontro uns dos outros, com a taquara uniam os topes e cobriam com a folha de sapé, ou de Papanduva, esta espécie de pequena pirâmide, que mal abrigava contra intempéries. Agrupavam-nas de quatro e quatro, de maneiras que contamos quatro grupamentos distintos de palhoças, naquele aldeiamento a que me referi”.

“A meu ver, como já disse, tratava-se sempre de moradas temporárias, condizentes mesmo com a vida nômade dos índios, que passavam o inverno no planalto, na abundância do pinhão e da caça, e, provavelmente, no verão, desciam a serra, onde, nessa época, se deliciavam com o palmito e frutas”.

“Resumem-se nisto os meus contactos com os habitantes selvagens desta terra, que, aliás, nunca chegaram a incomodar ou molestar algum dos nossos”.

“Já de modo diverso aconteceu anos mais tarde, quando da fundação da colônia Lucena, hoje Itaiópolis, para onde muitos de nossos compatriotas se mudaram. Famílias inteiras foram ali massacradas pelos índios, entre eles uma família Neppel”. (São Bento no Passado, Josef Zipperer Sen., págs. 24 a 26)

Na próxima edição vamos continuar a publicação de aspectos dos primeiros ocupantes de nossas terras! Obrigado!

sábado, 3 de julho de 2021

NOSSA HISTÓRIA: ÍNDIOS EM NOSSA REGIÃO (1)

Nota do Blog: Apresentamos o texto publicado originalmente na coluna "Nossa História" em 02/07/2021, na edição nº 5.379, pág. 4, do Jornal Perfil Multi de Rio Negrinho. O Administrador deste Blog, a partir de 07/08/2020, passou a integrar a equipe de colaboradores daquele jornal, na apresentação de uma coluna semanal de abordagem de aspectos históricos do nosso município.

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Índios, os primeiros ocupantes de nossas terras (Foto: Reprodução)


Genericamente quando se trata da presença indígena fica a interrogação, houve a presença de índios em nossa região. Pretendemos, tratar da presença indígena em nossa região, tão bem estudados por estudiosos deste assunto. Não é nossa meta opinar quanto a forma desordenada da ocupação pelas colônias de terras por onde vagueavam os indígenas, assunto que desperta inúmeras interpretações e apaixonadas controvérsias.

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Aspectos Gerais - Segundo definição “habitante” é aquele que “reside habitualmente num lugar” ou “morador de um lugar”. Portanto, com base nesta definição gramatical, é de nossa opinião, não se aplica aos índios, como sendo os primeiros habitantes, mas como os primeiros ocupantes de nossas terras, que está inserida no contexto da ocupação no sul do Brasil.

As terras de nossa região eram ocupadas pelos índios Xokleng, que se estendiam do Rio Grande às proximidades dos campos de Curitiba e Guarapuava, os vales litorâneos e as bordas do planalto sul brasileiro.

Os índios Xokleng, são também conhecidos pelas denominações de Bugre, Botocudo, Aweikoma, Xokrén e Kaigang. O termo Bugre é usado no Sul do Brasil para designar qualquer índio, inclusive com aplicação muitas vezes de modo pejorativo.

Os Xokleng como um povo tinham sua língua, cultura e território que eram diferentes dos outros povos indígenas e viviam em grupos, não muito amistosos entre si. A tribo Xokleng era formada por diversos grupos, que variavam de 50 a 300 pessoas.

Eram nômades e suas rotas de perambulação eram realizadas de acordo um período sazonal, dependendo exclusivamente da natureza para sua sobrevivência, da caça de animais e aves e da coleta de mel, frutos e raízes silvestres, obrigando-se com isso a dominar um enorme território, com contornos não muito definidos. Passavam o inverno no planalto e no verão desciam para o vale. Os acampamentos não passavam de construções de simples para-ventos, ou, apenas dormiam do relento. O fogo aceso toda a noite, a todos aquecia.

Colonização Regional – Mais especificamente em nossa região, a ocupação de nossas terras se deu por vários fatores, como: por colonizadores vindos do Paraná, com o estabelecimento da Colônia de Rio Negro, a partir de 1829; com a concessão títulos de posse de terras pela Província do Paraná, e ocupação do planalto norte catarinense por paranaenses, na qual se inclui as terras do Brigadeiro Manoel de Oliveira Franco; e, por colonizadores vindos de Santa Catarina, com o estabelecimento da Colônia de São Bento, em 1873, a partir de Joinville, seguido das Colônias de Jaraguá, em 1879, Corupá, em 1897, e Rio dos Cedros, em 1876, entre outras.

Todas estas colonizações formalizadas no litoral ou no planalto, por inspiração governamental ou não, aumentou a área territorial ocupada pelos brancos, diminuindo drasticamente as terras ocupadas tradicionalmente ocupadas pelos Xokleng, os empurrando daqui para outras regiões.

Este movimento por um lado de um aumento das áreas colonizadas e a diminuição das área ocupadas pelos indígenas levou a colonizadores e índios ao confronto inevitável vitimados por uma política governamental equivocada ou na ausência de uma política indígena, pois os indígenas tinham uma vida nômade, dependendo exclusivamente da natureza, e com a ocupação das terras pelos colonos, a fome e a inanição passaram a serem ameaças constantes para eles, levando-os a depredar e de passar a se prover de alimentos em roças e pastos dos civilizados.

Entre os colonizadores criou-se um clima psicológico e ideológico no qual os índios foram apresentados como “selvagens desalmados”, “vadios”, “assassinos”, “ladrões”, e que não eram “exatamente humanos”, que tudo faziam para matar o branco, propagado aos quatro ventos, via oral ou alardeado pela imprensa. A narração de fatos envolvendo brancos e índios eram descritos em detalhes, com ampliação em regra desmesurada dos prejuízos causados em vidas, animais e propriedades. Tudo isso para legitimar e justificar um verdadeiro massacre e extermínio indígena pela ação dos colonos e de “bugreiros”.

O Governo Federal somente em 1910 criou um órgão denominado de Serviço de Proteção ao Índio (SPI), com o fim de pacificar os colonos e os indígenas. Aldeados, os índios tiveram oportunidade de sobrevivência, reduzindo-se assim os constantes conflitos.

Na próxima edição vamos continuar a publicação de aspectos dos primeiros ocupantes de nossas terras! Obrigado!