Nota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no
Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador
deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos mais um artigo da
coluna GENTE NOSSA, homenageando ROBERTO FERREIRA DE LIMA FILHO, publicado
originalmente no Jornal Perfil, edição nº 123, pág. 7, em 15 de setembro de
1995. A foto publicada originalmente no Jornal Perfil é de autoria do repórter
Alceu Solano Peyerl.
Sem querer suscitar posições favoráveis ou
contrárias, ou emitir opinião sobre o polêmico assunto de curas através de
benzeduras, e sim apresentar um personagem típico de nossa terra - GENTE NOSSA –
trás esta semana a figura do “seu” Robertinho Ferreira, ou melhor, Roberto
Ferreira de Lima (Filho).
O que
leva cerca de mais de 60 pessoas, ricos
ou pobres, portadores das mais diversas doenças e problemas, numa só tarde de
sábado procurar um homem para alguma reza ou benzedura, buscando alguma solução
de cura. Pessoas nervosas, com machucaduras, rasgaduras, deprimidas, uns
prestes a se submeter a cirurgias e outros ainda que tiveram objetos roubados
solicitando para que estes apareçam, todos pedindo um “passe”.
"seu" Robertinho em sua sala de atendimentos (foto extraída do Jornal Perfil,
de autoria de Alceu Solano Peyerl)
Foi
assim que encontramos o “seu” Robertinho, morador no alto bairro Vila Nova,
nascido na localidade do Salto, em nosso Município, em 24 de novembro de 1917.
Caminhando com certa dificuldade pelo peso da idade e dos efeitos de um
“derrame” sofrido a alguns anos, mas apesar disso muito ativo, lúcido e afável, recebendo-me na sala de
rezas de sua residência.
Filho
de Roberto Ferreira de Lima, que veio na idade de 17 anos com o pai Antonio
Ferreira de Lima de São José dos Pinhais (PR), um dos pioneiros desbravadores e
moradores do município, nasceu ao lado da pedreira do Salto, atuando até 1965
como agricultor. As localidades de Salto
e Patrimônio do Salto de hoje não espelham nem de longe o grande número de
moradores desta época. As terras impróprias para a agricultura e a
industrialização das cidades arrastaram as famílias do interior.
Casou-se
em 1935, com Antonia Ribeiro, teve como filhos: Maria – casada com Nivaldo Witt
(Mafra), Francisca – casada com Nivaldo Hiller, Iracema – casada com Jovino
Ferreira da Rocha e João Maria, que aos poucos sentiram as dificuldades de
conviver e sobreviver com a lavoura, mudando-se pouco a pouco os filhos para a
cidade, fazendo com que sozinho muda-se também para cá. “Seu” Robertinho lembra
com orgulho que exerceu o cargo de inspetor de quarteirão, de 1954 a 1960, a
quem cabia atender as ocorrências policiais, como brigas de vizinhos, roubos,
acompanhar bailes etc.; atuou ainda em 1960 recenseador no VII Recenseamento
Geral do Brasil nas localidades interioranas do Município.
Roberto Ferreira de Lima (Filho) e a sua esposa Antonio Ribeiro
(foto do acervo do autor do Blog)
Também
foi um dos sócios fundadores do Sindicato Rural de Rio Negrinho, guardando até
hoje a carteirinha de sócio nº 2; doou a bola de pedra, que encontrava-se junto
ao monumento em homenagem do desportista ao colono, inaugurado em julho de
1966, no estádio da Sociedade Esportiva Ipiranga, na presidência do sr. José
Flores de Souza, mais conhecido como Zé Polícia (hoje falecido).
Além
disso participou durante 04 anos da diretoria da Igreja Nossa Senhora
Aparecida, em Vila Nova.
Lembra-se
das festas e novenas de junho realizadas em épocas, dedicadas a Santo Antonio,
em que vinham pessoas de todas as redondezas, inclusive aqui da cidade, onde
havia o costume pitoresco de instalar-se um mastro com bandeira do santo
homenageado, costume infelizmente esquecido no tempo.
Devido
as dificuldades de locomoção, o transporte do Salto e vizinha Patrimônio do Salto,
principalmente dos doentes, fez que por acaso começasse os atendimentos, tendo
como primeiro socorro de mordida de cobra em um vizinho, posteriormente
passando a atender com remédios caseiros a base de plantas, a partir de 25 anos
de idade.
Quando
em 1965, mudou-se para a cidade, na localidade de Campo Lençol e depois para o
alto do bairro da Vila Nova, os pedidos de atendimentos aumentaram enormemente.
Sendo procurado por uma média de 600 pessoas por mês, vários até referenciados
por médicos, recebe sem distinção em sua modesta residência.
Diz
que recorrem a ele pessoas das diversas classes sociais, inclusive autoridades,
entre prefeitos, delegados, vereadores ou médicos; até os mais humildes, dos
mais esperançados ou quase sem esperanças. Para todos recomenda uma reza e dá
uma folha verde de árvore, como sinal de esperança de dias melhores,
aconselhando a rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria quando passar próximo a uma
Igreja. Resta a todos uma palavra de socorro e carinho.
Mostrando-me
um caderno de anotações com pedidos, muitos dos quais solicitam a condução de
Deus pelas mãos dos médicos nas cirurgias. Sem cobrar nada pelos atendimentos,
a não ser de livre vontade, “seu” Robertinho afirma ser católico e pratica as
rezas e benzedeiras, lembrando o fato de um dia consultando um padre, este
aconselhou que usasse aquele dom para praticar o bem e ajudar o próximo.
Benzedor,
s.m. - Curandeiro que usa de rezas e benção (cfe. Dicionário Escolar da Língua
Portuguesa – 11ª Edição – 1992)
Benzedura,
s.f. – Ação de benzer, acompanhada de rezas e orações (idem)
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Nota
complementar do Blog:
* Roberto Ferreira de Lima (Filho) – “seu”
Robertinho, natural de Rio Negrinho, é filho de Roberto Ferreira de Lima e
Valentina Carvalho Bueno, nascido em 24/11/1917 e faleceu em 23/11/2001 e está
enterrado no Cemitério da Paz em Rio Negrinho. Casou-se em 22/06/1937 com
Antonia Ribeiro.