quinta-feira, 29 de março de 2018

GENTE NOSSA: CARLOS PSCHEIDT, O “FERREIRO”


Nota do BlogNota do Blog: GENTE NOSSA foi uma coluna publicada no Jornal PERFIL de Rio Negrinho, nos anos de 1995 e 1996, no qual o administrador deste Blog por um período foi colaborador. Apresentamos o segundo artigo da coluna GENTE NOSSA, homenageando Carlos Pscheidt, publicado originalmente no Jornal Perfil, ano III, edição nº 122, pág. 7, em 08 de setembro de 1995. A foto extraída do Jornal Perfil é de autoria de Alceu Solano Peyerl.


O Jornal “Perfil” abre espaço em sua coluna GENTE NOSSA para homenagear uma profissão hoje quase em extinção em nossa região: O Ferreiro.


Desde os remotos tempos, quando o cavalo passou a fazer parte do uso doméstico no transporte, na guerra, nos passeios, no trabalho a correlação com o ferreiro foi de vital importância, seja nas atividades normais, com ferraduras, ferragens para carroças e similares, consertos de arados e até a fabricação em escala artesanal de ferramentas para agricultura.

A profissão começou a declinar a partir de momento em que os veículos automotores, seja com automóveis, caminhões, começaram a tomar lugar das tradicionais charretes ou carroças puxado à cavalo. Por outro lado, a industrialização das ferramentas para agricultura se avolumou, fazendo com que a ferramenta artesanal se tornasse cara, sem competitividade. Mas assim mesmo teve a sua importância primordial no desenvolvimento do município.

Baseado neste fundo de quadro conversamos com um dos poucos representantes desta profissão, o Sr. Carlos Pscheidt, o ferreiro Pscheidt, como é conhecido. Homem profundamente honesto, religioso, apolítico, com 81 anos de idade, mas muito lúcido, residente no bairro Cruzeiro, em nossa cidade.

Nascido em 05 de maio de 1914, na localidade de Sertãozinho, no município de São Bento do Sul, neto do alemães, filho de pais agricultores – João e Rosalia Pscheidt, enfrentou desde pequeno a dura vida do agricultor, ajudando com os demais irmãos no plantio e colheita.  Frequentou durante 05 anos a escola de língua alemã, sendo apenas uma vez por semana, ministrado na língua portuguesa.

Ferreiro Carlos Pscheidt (Foto do acervo do Jornal Perfil
 de autoria de Alceu Solano Peyerl)


Constatando ser quase impossível sobreviver da agricultura, com apenas 15 anos, convidado por um parente, mudou-se para Guarapuava (PR), para trabalhar como aprendiz de ferreiro, onde permaneceu por 03 anos.  Retornando a Sertãozinho continuou o seu trabalho na agricultura, durante 03 anos, quando em 1935 empregou-se junto a ferraria de José Fink, em Oxford, onde trabalhou até 1940. Foi nesse período em 1939, que casou-se com Erna Fleischmann. A partir de 1940 partiu para o seu próprio empreendimento, em sociedade com Carlos Gessner, abrindo uma ferraria na localidade de Mato Preto, até a sua vinda para Rio Negrinho, em 04 de julho de 1952, onde se estabeleceu no bairro Cruzeiro, à rua Adolfo Olsen, que na época era apenas um carreiro estreito, em que não havia espaço para duas carroças se cruzarem.  Aqui encontrou como colegas de ofício o Sr. Rodolfo Liebl, estabelecido na Estrada Dona Francisca, o Sr. José Zipperer Sobrinho, na rua do Seminário e o Sr. Otto Rudnick, na rua Pedro Simões de Oliveira (então denominada rua Irani). Poucos moradores havia no bairro Cruzeiro, como a igreja Protestante (depois destruída por um vendaval), Germano Panneitz, André Bachal, Max Froehner, Carlos Jung, José Kling, Carlos Neppel, Sebastião Ferreira da Veiga, Pedro Bail, Roberto Reinhold e João Pscheidt. Era tão precária a situação da época, que a energia elétrica foi ligada apenas por volta de 1960.

Apesar da vida dura e trabalho incessante diário, conseguiu criar 09 filhos: Leopoldo, Leonardo, Elisabeth, Teodoro, Irene, Raulindo, Irineu, Francisco e Marcelino.

Muito religioso, logo ao chegar em Rio Negrinho, ligou-se em uma das congregações católicas, a Congregação Mariana, movimento crescente na época no Brasil, liderado em nossa cidade pelo vigário – Padre Celso Michels e o Professor Arnaldo Almeida de Oliveira. Contava na época, o movimento mariano com 38 participantes, com reuniões mensais, visitas aos doentes, confissão e comunhão mensais, influenciou inúmeros jovens em suas vidas. Sob a inspiração do Padre Luiz Gonzaga Steiner foram construídas 03 capelas que percorreriam a cidade, sendo que uma delas o “ferreiro” Pscheidt tomou a si a responsabilidade, de levar de casa em casa a novena em homenagem a Nossa Senhora, certamente trazendo alento espiritual para inúmeras famílias, já à 41 anos. A segunda capela ficou sob a responsabilidade de Paulino de Almeida e a terceira com João Tomas Pereira (já falecido).  Sua longa caminhada de novenas foi acompanhada durante muitos anos por Juvencio da Silva (já falecido) e atualmente por Osvaldo Schutzler e Carlos Guilherme Pilz.

Hoje viúvo, um pouco adoentado, infelizmente ao pouco serviço existente, torna-se difícil a sobrevivência, nenhum filho seguiu os passos do pai, somente o velho ferreiro teima em permanecer nesta profissão.

Para finalizar, relatou-se um fato pitoresco, ligado aos primórdios de Rio Negrinho, por volta de 1916, que determinou novos rumos a cidade.  Seu pai para complementar os rendimentos do sustento da casa, trabalhava para a firma “Zipperer” então situada na localidade de Salto, quando um determinado dia, Jorge Zipperer o convocou em companhia de Joaquim Simões de Oliveira, para se deslocarem até o futuro centro de Rio Negrinho. Lá segundo Jorge Zipperer já estava determinado o local da futura estação ferroviária e os marcos que delineavam os contornos da estrada de ferro, sendo necessário então encontrar um local para construção da futura indústria. Ao se depararem com o mato cerrado, começaram a roçar a picada na direção do futuro centro, e a sapiência antiga, não seguida por muitos, fez Jorge Zipperer procurar um local longe das enchentes, a exemplo da estrada de ferro, projetada acima do nível da grande enchente de 1891.  Foi assim que se deparam com o rio Negrinho, próximo ao prédio da ACIRNE, tendo que derrubar um pinheiro, para servir de pinguela, na travessia do rio, encontrando um local ideal, onde está situado ainda hoje o velho casarão da família Zipperer, nas esquinas das ruas Jorge Zipperer e Carlos Weber e longe das enchentes. Estava delineado o futuro de Rio Negrinho.

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Nota complementar do Blog: O ferreiro Carlos Pscheidt veio a falecer em 06 de setembro de 1996, com a idade de 82 anos, e está enterrado no Cemitério Parque da Colina, em Rio Negrinho.

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