domingo, 21 de junho de 2015

IGREJA MATRIZ SANTO ANTONIO AO FINAL DA DÉCADA DE 1960 !

Nota do Blog: A Diocese de Joinville, na qual a cidade de Rio Negrinho está inserida, teve Dom Gregório Warmeling como seu 2º bispo, durante 36 anos. Com espírito irrequieto, polêmico, do alto de sua estatura e seu vozeirão prestou grandiosos serviços em nossa região. A biografia de D. Gregório Warmeling foi redigida com base no artigo de autoria do Pe. José Artulino Besen, a quem agradecemos.

Imagem da Igreja Matriz Santo Antonio de Rio Negrinho, ao final da década de 1960 (Foto acervo de Laércio Furst)
Esta imagem ao final da década de 1960, mostra alguns aspetos interessantes da Igreja Matriz Santo Antonio de Pádua, em nossa cidade. O prédio da Igreja ainda sem a torre, que foi inaugurada em 1973. No pátio vê-se ainda os carvalhos, já edificado o Salão Paroquial, inaugurado em 1965, com o antigo galpão de madeira, utilizado para as festas. Ainda na parte frontal do pátio, vê-se estacionado um automóvel Vemaguet, utilizado como táxi. Ainda na parte frontal da Igreja vê-se uma placa com os dizeres “É TEMPO DE CAMINHAR JUNTOS” – Sínodo Diocesano – Joinville – SC. Este tema foi utilizado por D. Gregório Warmeling, então bispo da Diocese de Joinville, ao qual Rio Negrinho está inserido, para a realização de um sínodo diocesano, sob a visão de Concílio Vaticano II, encerrado em dezembro de 1965. A palavra Sínodo é uma conjunção de duas outras palavras da língua grega, cujo significado é “fazer juntos o caminho” ou “caminhar juntos”. Trata-se de uma série de encontros de representantes das diversas classes de fiéis para tratarem de assuntos propostos por quem convocou o Sínodo e proporem encaminhamentos para as questões discutidas. Um Sínodo acontece somente a partir da convocação do bispo, quando se realiza em uma Diocese ou do Papa, quando se realiza para tratar de assuntos relativos à Igreja Universal. No caso daquele Sínodo Diocesano, a convocação do Bispo de Joinville ouviu os diversos representantes de toda a diocese, sugestões de princípios e orientações que nortearam a missão evangelizadora do rebanho, discutindo e apresentando reflexões acerca de encaminhamentos necessários.

QUEM FOI D. GREGÓRIO WARMELING

D. Gregório Warmeling, 2º bispo diocesano de Joinville, durante 36 anos, entre os anos de 1957 e 1993
Nasceu em São Ludgero, SC em 17 de abril de 1918. Ingressou no Seminário de Azambuja em 1929 e foi ordenado presbítero em 5 de setembro de 1943. De setembro de 1943 a 12 de fevereiro de 1944 foi vigário paroquial do Santíssimo Sacramento, Itajaí.
Nos três anos seguintes, dedicou-os à formação no Seminário de Azambuja: de 1944 a 1946 como professor, em 1944 prefeito de disciplina, nos anos de 1945 e 1946 foi diretor espiritual. Ao mesmo tempo, Pe. Gregório foi mestre de canto na Scholla musical do Seminário: era regente e tinha habilidade para arranjos e composições musicais. Criou a Banda de Música em Azambuja.
Em 18 de janeiro de 1947 foi nomeado vigário paroquial de São José, em Criciúma, acompanhando o pároco, Pe. Wilson Laus Schmidt.
Em 25 de janeiro de 1948 Pe. Gregório Warmeling recebeu a provisão de pároco de Santo Antônio de Laguna onde, por seus dotes humanos e sacerdotais, tornou-se um verdadeiro mito. No plano administrativo foi o responsável pela colocação da imagem de Nossa Senhora da Glória no Morro Pau-do-Sinai, hoje Morro da Glória. O monumento tem 14 metros de altura e foi inaugurado em 1953. É local de turismo e devoção. Durante muitos anos Laguna viveu da lembrança desse grande pároco, de sua oratória, zelo e simpatia. Como que recordava as glórias passadas da comunidade lagunense.
Externamente, Dom Gregório Warmeling poderia ser descrito como “uma imagem e uma voz”: com seu 1,85 de altura e média de 120kg. causava profunda impressão. E essa era aumentada quando soltava a voz: dicção impecável, belo timbre com inflexões seguras que iam do profundo grave ao agudo. Um comunicador nato.
 No dia 3 de abril de 1957 foi eleito segundo bispo diocesano de Joinville. Como lema episcopal escolheu “Mihi vivere Christus” (Fl 1,21): Para mim o viver é Cristo. Seu longo episcopado foi uma busca séria, pessoal e eclesial, da centralidade de Jesus Cristo.
A ordenação episcopal, grandiosa sobre todos os pontos, foi na secular matriz de Laguna em 29 de junho de 1957, sendo bispo ordenante Dom Joaquim Domingues de Oliveira e co-ordenantes Dom Anselmo Pietrulla, OFM e Dom Inácio Krause, CM.
Assumindo Joinville, Dom Gregório deparou-se com a difícil situação vivida pela renúncia por motivo de saúde do primeiro bispo, o santo Dom Pio de Freitas, CM e pela experiência tumultuada de dois bispos administradores apostólicos que dividiram o clero. Dom Gregório foi recebido com muito entusiasmo e esperança. Parte do clero o tinha conhecido no Seminário de Azambuja.
Para auxiliar o povo no canto e nas orações durante a Missa e como devocionário, elaborou o livro ALELUIA, usado por muitas paróquias do Brasil.
Um ponto que marcou a unidade diocesana foi a construção da polêmica Catedral diocesana, um plano que se arrastou 45 anos, no qual optou-se a construção com simbologia moderna. A construção teve início em 1960, foi inaugurada em 5 de junho de 1977 e só terminou em 24 de dezembro de 2005, quando foi concluída a torre do campanário de 24 metros de altura.
Acompanhando a expansão demográfica dos polos Joinville e Blumenau, criou 32 paróquias. Devido ao forte crescimento populacional da diocese e à sua grande extensão geográfica, em 1968 teve parte desmembrada para a criação da Diocese de Rio do Sul. Passo seguinte, mas tendo como bispo Dom Orlando Brandes, novo desmembramento no ano de 2000 para a criação da diocese de Blumenau. 
O Concílio do Vaticano II (1962-1965) despertou em Dom Gregório um entusiasmo incontido. Pode-se resumir isso numa frase pronunciada por ele já no final da existência: “Incendeiem a Diocese!”. Participou de todas as Sessões do Concílio e, ao final, fez parte do grupo de bispos que nas Catacumbas de São Calixto assinaram o “Pacto das Catacumbas”: ao retornarem às suas dioceses renunciariam a toda ostentação, a tudo o que simbolizasse poder e prestígio.
Retornando à Diocese, Dom Gregório abandonou vestes e ornamentos episcopais principescos, assumindo as vestimentas dos padres e leigos. Alugou o Palácio episcopal e foi morar num apartamento, mais tarde trocado por uma casa. Evidente que não foi pequeno o escândalo e a revolta dos joinvillenses que, com tanto carinho, tinham edificado o Palácio!
Teve uma grande preocupação ecumênica mantendo um relacionamento fraterno com os pastores evangélicos, fugindo a qualquer tipo de agressão confessional.
Dom Gregório era um pastor e não um teólogo refinado: toda a sua atividade ecumênica, sua vida fraterna com pastores evangélicos era conseqüência de um sonho: que estivessem unidos todos os que crêem no Cristo.
Dom Gregório foi ao mesmo tempo amado pelo povo cristão e, certamente, muito criticado pelas elites e certas esferas religiosas e clericais. Sua atitude aberta, sua palavra nem sempre refinada e que lembrava um colono de São Ludgero, foram motivos de incompreensão e geraram calúnias diabólicas.
Foi acusado de ser rico, ser proprietário de fazendas, empresa de ônibus, estar envolvido em tráfico de drogas etc. Dom Gregório era efusivo, afetuoso com todos. Daí a caluniá-lo o caminho era curto.
Completados os 75 anos de idade, apresentou o pedido de renúncia em 17 de abril de 1993. No dia 9 de março de 1994 foi publicada a nomeação de seu sucessor, o Pe. Orlando Brandes, professor de Teologia Moral no ITESC de Florianópolis e que assumiu no dia de sua ordenação episcopal, em 5 de junho de 1994. Era o candidato de Dom Gregório e, organizado, deu impulso a muitas intuições do antecessor. Os que fazem leituras históricas ingênuas procuram fazer a diocese começar com Dom Orlando: na Igreja, os grandes homens se sucedem e não se substituem!
Disposto a colaborar com o sucessor, passou a residir em casa própria. Pouco depois foi surpreendido por um câncer maligno de efeitos devastadores.
Faleceu em 3 de janeiro de 1997. Seus restos mortais repousam na Catedral diocesana de Joinville.