Nota do Blog: A presente coluna “Um Olhar Sobre Rio Negrinho”, de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, foi publicada originalmente em 26/09/2014, no "Jornal do Povo" de Rio Negrinho, a quem agradecemos.
CAUSOS
E BARBARIDADES!
CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Há
muitas formas de contar a história de um povo. Uma das mais importantes e
esquecidas é justamente através dos causos. E, olha que Rio Negrinho tem muitas
histórias para contar! Uma coleção de causos não é um livro de histórias em
linhas, presas em um único fio de tempo e, geralmente, mostrando apenas uma
versão dos fatos como se fosse um monólogo. São fragmentos colhidos aqui e ali
sem preocupação com a linearidade, o tempo e o espaço. Dispor-se a fazer uma
coleção de causos é construir uma colcha de retalhos onde as histórias são
vistas no mesmo espaço e no mesmo tempo. Neste jornal, já temos contado muitos
causos acontecidos em Rio Negrinho, como a Batalha da Rua do Sapo, Fúria no
Buraco Quente, Égua fujona, A Bicicleta Esquecida e tantos outros. Hoje,
aproveitando o assunto “bandas e conjuntos musicais”, contaremos alguns causos
relacionados ao primeiro conjunto de guitarra fundado em nosso município: Os
Temíveis.
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OS
TEMÍVEIS. Era 1967. O primeiro conjunto musical de guitarras de Rio Negrinho foi
inicialmente constituído pelos quatro rapazes que aparecem na foto e eram
considerados “os cabeludos”, mas que nada tinham de cabeludos, nem mesmo os
cabelos: Marinho, Celso, Vergílio (in memórian) e Juarez. |
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OS
TEMÍVEIS. Com o passar do tempo fez-se necessário a inclusão de um cantor e para
tal foi escolhido Célio Dums (in memórian), na foto, o último da direita.
Também, completou o conjunto um bom baterista que não aparece na foto. Os
Temíveis atuaram nos meios musicais por longo tempo, abrilhantando eventos,
bailes e festas. Este conjunto tem muitas histórias para contar. Vejamos algumas delas ilustradas
pelos desenhos de Celso Carvalho. |
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História
nº2. FOGO NA RÁDIO. Numa apresentação dos
Temíveis na Rádio Rio Negrinho, a aparelhagem do conjunto foi plugada numa só
entrada eletrônica da mesa sonoplasta, criando sobrecarga elétrica à mesma.
Naquele tempo a mesa de som da Rádio funcionava com válvulas, aquele tubos de
vidro que mais tarde foram substituídos pelos transistores, depois pelos
circuitos integrados e, hoje, pelos chips eletrônicos. Na metade do programa o
sonoplasta, no meio de uma fumaceira que mais parecia o caldeirão do inferno,
acenava desesperadamente tentando avisar que a mesa sonora entrara em pane
porque não suportara a sobrecarga dos aparelhos dos Temíveis. Foi um
curto-circuito sem tamanho que tirou a Rádio do ar por uma semana inteira até
que tudo fosse consertado. O desenho ilustra o momento do incidente quando os
Temíveis se apresentavam na sala de locução, separada da sala de operação de
som por uma janela de vidro. |
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FUGA
ESTRATÉGICA. No momento do incidente os Temíveis recolheram
seus aparelhos e sumiram do mapa até que a poeira baixasse. Ninguém os viu em
lugar nenhum por mais de uma semana. Mais tarde, já com o trem na linha de
novo, voltaram a tocar suas músicas nos programas radiofônicos. Só mesmo os
Temíveis para tirar uma rádio do ar por uma semana! |
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História
nº3. SAPATEADO SELVAGEM. Vergílio acabara de chegar em casa com seu
violão em baixo do braço quando seu
pai arrebatou-lhe o instrumento e dizendo estar cheio dessa história de
cabeludos dançou um rock em cima do violão que virou cacos em instantes. Nem as
dançarinas do Faustão dançam tão bem como um velhote enfurecido! A única peça
que sobrou inteira foi o braço e com ele o conjunto fez uma guitarra de
madeira. E não vai que deu certo? Viu como dá para transformar cacos e jóia?
Hoje, guitarra está exposta num museu em Joinville. |
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História
nº4. AÍ, BARBUDOOO! (TROMBADA
DE BICICLETAS). Era o ano de 1970, numa quinta-feira à noite na rua José
Zipperer Neto. Naquela rua, bem na baixada, ainda hoje há um buraco no lado da
via férrea (veja foto) e outro buraco no outro lado da rua. Por baixo da rua há
tubos por onde passam as águas vindas da Rua Jorge Lacerda (Rua do Sapo) e que
escoam no rio Negrinho. A foto foi clicada durante o dia para que o leitor
reconheça com facilidade o lugar exato da história que lhes será contada! Era
noite escura, sem lua. De um lado, sentido Ceramarte-Centro, descia um ciclista
em alta velocidade, sem farol na bicicleta (ciclista A). Do outro lado, sentido
Centro-Ceramarte, também descia outro ciclista em alta velocidade, mas com o
farol da bicicleta aceso (ciclista B). Acontece que o ciclista A, pilotava no
escuro e na contra-mão e parece que não percebeu a bicicleta do ciclista B, com
farol aceso, vindo na sua direção e este, ciclista B, também não! Aí não deu
outra. Não houve tempo prá mais nada! Pimba! Crásss! Catapimba! Bem de frente!
Lá se foi o ciclista B, o do farol, prá valeta com bicicleta e tudo! O ciclista
A, que caiu no meio da rua, mais que depressa embarcou no seu veículo, acionou
o motorzinho tocado a feijão e procurou arredar a carcaça do local do crime. O
outro, também rapidamente, levantou-se com a cara cheia de barro, aliás, com o
corpo inteiro cheio de barro, arrastou prá cima o que restou da sua magrela e,
ainda meio tonto, sem saber exatamente o que tinha acontecido, percebeu seu
oponente se afastando, arranjou forças para gritar um desaforo para seu colega
de trombada, só, que nervoso e confuso, em vez de gritar “Aí, Barbeirooo!”, “gritou:
Aí, Barbudoooo!” Sabe que até tem lógica, porque barbudo e barbeiro sempre se
encontram, não acha? O fato mais fantástico e que só foi percebido mais tarde,
em casa, foi que na confusão as bicicletas foram trocadas – A levou a bicicleta
B e B levou a bicicleta A. E pior: nenhum dos dois fez questão de destrocá-las,
talvez por medo ou porque um não sabia quem era o outro! Nota: O desenho
ilustrativo na foto obviamente está um pouco exagerado, com o intuito de fazer
graça, pois a bicicleta não ficou assim tão destruída! |
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Histórias reavivam lembranças que, por sua vez, modificam comportamentos. Cada
causo reporta a épocas distantes e pode dar novos significados e, também, influenciar
significativamente a vida de quem recorda. Os causos transportam pessoas aos
tempos que não voltam mais e que agora são pura saudade. Fazem pensar como as
comunidades se formaram e refletir como tudo tem se transformado ou para melhor
ou para pior, por exemplo, as estradas de terra cederam espaço para estradas
asfaltadas, cercas de ripas de madeira foram substituídas por elegantes muros
de ferro, alumínio ou alvenaria, etc.
Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço
de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!
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