terça-feira, 29 de abril de 2014

UM OLHAR SOBRE RIO NEGRINHO! (06).

Nota do Blog: Prosseguimos com a publicação da série “Um Olhar sobre Rio Negrinho”, texto e as respectivas fotos de autoria dos Professores Celso Crispim Carvalho e Mariana Carvalho, a quem agradecemos, e foram publicados originalmente no Jornal do Povo de Rio Negrinho (em 2013).


CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Hoje veremos mais um pouco sobre Rio Negrinho de décadas atrás, quando ainda andava-se de carroça pelas ruas da cidade. Nos anos 50, ou antes, os veículos motorizados eram poucos e podiam ser contados nos dedos. Vamos viajar para o passado e ver como era. A primeira e segunda fotos retratam paisagens muito diferentes uma da outra, mas representam o mesmo lugar. Trata-se da serraria de José Bail (in memórian) localizada na rua Dom Pio de Freitas – antiga estrada Dona Francisca que cortava o município de lado a lado - no entroncamento com a rua Jorge Lacerda. A foto, com certeza, não foi clicada por um profissional, mas serve direitinho para lembrar como era a serraria, ao lado da valeta que escoava as águas da Rua Jorge Lacerda (Rua do Sapo).
SERRARIA DE JOSÉ BAIL HÁ 60 ANOS ATRÁS (1950), APROXIMADAMENTE. A serragem do corte das madeiras era depositada atrás da serraria e formava um confortável campinho de futebol onde a criançada jogava bola e se divertia. Veja a carroça estacionada ao lado das pilhas de madeira: servia para puxar tábuas e toras. Geralmente as carroças eram tracionadas por dois cavalos, mas quando o peso da carga exigia mais força de tração, usava-se até quatro cavalos ou mais. As carroças, naquele tempo, eram os principais veículos de transporte de cargas e pessoas e rodavam livremente pela cidade. Os colonos traziam suas mercadorias (aipim, milho, feijão, batata, etc.) com este meio de transporte para vender no comércio e levavam um dia inteiro para vir até a cidade e voltar para a roça onde moravam. Esta serraria tem muitas histórias para contar. Num dia desses contaremos algumas delas. Vale lembrar que havia muita madeira, até de sobra no mato, para ser derrubada e serrada para fazer casas, móveis, cercas, pontes e tantas outras coisas úteis e necessárias. Com o passar do tempo, esta preciosidade – a madeira – escasseou e foi preciso baixar leis rigorosas para impedir o completo desmatamento de muitas regiões a fim de não chegar-se à extinção de várias espécies vegetais. Por exemplo, hoje em dia é proibido cortar pinheiro (araucária) e algumas madeiras de lei sob pena de amargas sanções impostas ao infrator. Há tempos a serraria foi desativada, não sabemos o motivo. Os tempos mudaram e o lugar da serraria também. Hoje está completamente irreconhecível. Ali funciona um posto de combustível e uma lavação de automóveis (veja a foto nº 2) logo ao lado do posto, onde antes era um banhado, atrás da serraria. Para as pessoas mais antigas que passam pelo local, talvez ainda soe nos ouvidos o gostoso e saudoso ronronar dos maquinários que impulsionavam a serra que cortava as toras transformando-as em tábuas. E eu (Celso) tenho saudade de quando era guri e “tomava emprestado” (escondido, é claro!) a graxa das engrenagens da serraria para lubrificar os eixos das rodas dos meus carrinhos. Sobre este assunto tenho uma gostosa história para contar, mas antes preciso pedir permissão para a família de José Bail para publicá-la.
NOSSO POSTO” DE COMBUSTÍVEL, NO EXATO LUGAR DO PÁTIO DA ANTIGA SERRARIA (2013)
RAIA DE CORRIDA DE CAVALOS NA DÉCADA DE 1950. Raia significa, sulco, linha, risca, traço, listra, estria. Na década de 1950, no terreno de Afonso Pscheidt, próximo à via férrea, depois dos fundos do Bairro Alegre, foi aberta uma trilha para corrida de cavalos que foi chamada de raia de trilha, com aproximadamente 500 metros de comprimento. No início eram dois sulcos (valetas) de 50 cm de largura cavados na terra por onde os cavalos corriam próximo ao rio do Salto, aquele que aparece no fundo da fotografia, e que mais adiante deságua no rio Negrinho. Este terreno, mais tarde foi comprado por João Linzmeyer, pai de Marcelino Linzmeyer. Este tem uma chácara no lugar da antiga raia e conhece bem a sua história. Ele, o Marcelino, gentilmente nos forneceu algumas informações de como funcionavam as atividades na raia e como ela era. Segundo, Marcelino, quando os cavalos corriam, deviam permanecer dentro das trilhas. Aquele que pisasse fora da valeta era desclassificado. Na verdade este esporte pertencia aos ricos como ao Luiz Bernardo Olsen, o Sr. Kaesemodel (de São Bento do Sul) e outros. Estes dois citados, logo terraplenaram e abriram uma pista mais larga com trator. Agora, sem os sulcos, podiam correr quatro cavalos de uma só vez. O lugar pegou fama e para lá acorria muita gente nos dias de corrida. O dinheiro em disputa era alto. Muitas barracas de comida e bebida lá foram instaladas. Nos dias de corrida fazia-se ali uma verdadeira festa onde, sempre, quase sem exceção, aconteciam violentas brigas regadas à álcool. Os briguentos se “atracavam” armados com facas, facões e revólveres.  Ah, mardita pinga que me atrapaia...! Note, na fotografia, que as mulheres estão separadas dos homens, tal qual acontecia nas igrejas no tempo em que os homens sentavam separados das mulheres para assistir a missa. Note que as mulheres, todas, tem cabelos curtos amarrados e vestidos compridos até os pés. Os homens usam chapéus e estão bem vestidos, todos de terno. Assim era a moda em voga. Fugindo um pouco do assunto, vale lembrar que naquela época, nos bailes, os casais dançavam abraçados e as bandas não possuíam aparelhos amplificadores de som. Então, podia-se dançar a noite toda e voltar para casa sem dor de ouvido. Voltando à raia, com o passar do tempo, as indústrias dos principais apostadores faliram, e por falta de dinheiro a raia também encerrou suas atividades. Hoje o lugar está tomado pelo mato ou por algumas plantações (veja a foto nº 4). Quem quiser ver o lugar onde funcionava a raia deve ir na direção da oficina mecânica do Paneitz. Um pouco antes da oficina, subindo a rua, há uma entrada à esquerda. Desça até o final da estrada até na casa de Alcione  Linzmeyer, filho de Marcelino Linzmeyer. Ali era o início da raia, de onde partiam os cavalos nas corridas. Raia é o mesmo que hipódromo. Hoje, em nossa região este esporte não mais existe, pois transformou-se em rodeios. Um dos motivos que contribuíram para o término das corridas de cavalos foi o ingresso da televisão nos lares. As pessoas passaram a preferir a comodidade do sofá em frente a um televisor e deixaram de ir ao hipódromo (raia). Na próxima edição teremos pelo menos mais duas histórias interessantes sobre o Rio Negrinho antigo. Uma versará sobre a Escola Professora Marta Tavares; a outra, sobre o Cine Rio Negrinho. Veja as fotos seguintes. Que saudade do nosso Cinema!
O LUGAR DA RAIA, HOJE (2013). 
GRUPO ESCOLAR PROFESSORA MARTA TAVARES EM 1933 (data da sua fundação).
CINE RIO NEGRINHO EM 1960 (DATA APROXIMADA).

CONSIDERAÇÕES FINAIS. Há décadas atrás, Rio Negrinho possuía cinema, teatro, salões de bailes (não danceteria), raia de corrida de cavalos, festas debaixo das árvores, futebol aos domingos, circos, parques de diversões, vários eventos de rua e muitas outras diversões populares. Os tempos mudaram, a TV apareceu, as diversões comunitárias diminuíram drasticamente, o contato pessoal e estreitamento dos laços de amizade com amigos foram esmorecendo e visitas aos parentes não mais se praticam normalmente e, de certa forma, Rio Negrinho entristeceu. As responsabilidades e afazeres profissionais acentuaram-se e a crise econômica nas famílias agravou-se obrigando maior uso de tempo para o trabalho e, assim, num domingo, por exemplo, quase não se tem o que fazer e com que se divertir a não ser ficar em casa assistindo TV. Que pena! Tantos bens preciosos perdidos! Por hoje é só! Que bom que você leu nossa reportagem! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu!  

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