segunda-feira, 29 de julho de 2013

EVENTOS NA VIDA DE ARTHUR SICHMANN: UM PROFESSOR POR EXCELÊNCIA !


Nota do Blog: Recebi por email do senhor Wilson Sichmann, morador da cidade de Camboriú o texto abaixo reproduzido, que retrata a vida de um professor por excelência.
28/07/2013: Parabéns pelo seu blog sobre Rio Negrinho antigo, que só agora descobri. Anexo o trabalho "Eventos na vida de Artur Sichmann", meu pai, professor e diretor por vários anos no Grupo Escolar Profa. Marta Tavares, onde também fiz o curso primário. Ele desenvolveu um ótimo trabalho na comunidade, que  os alunos mais antigos ainda recordam (Florinda Lampe, por ex., que até lhe mandou um cartão de aniversário na época). Muitos dos industriais de móveis de Rio Negrinho e São Bento foram seus alunos. Foi grande amigo de Carlos Zipperer, fundador dos Móveis Cimo.Um dos seus grandes colegas foi o Prof. Elias Graboski, de saudosa memória. Faleceu no ano de 2000 aqui em Camboriu, com a idade de 99 anos. Tenho diversas fotos de suas atividades com os alunos, desfiles patrióticos, horta escolar etc.  que poderia disponibilizar para cópia no seu blog e uso no Museu Histórico de Rio Negrinho. Atenciosamente, Wilson Sichmann - 79 anos



Artur Sichmann (*) nasceu em 7 de maio de 1903, na localidade de Rio Branco, então distrito de Bananal, município de Joinville. Atualmente pertence ao município de Guaramirim, Estado de Santa Catarina. Era filho de André Sichmann e Amalia Jerulis Sichmann, imigrantes da Letônia que chegaram ao Brasil em 1900 provenientes de Novgorod, na Rússia. Em 1921 foi estudar no Colégio Batista do Rio de Janeiro, sob inspeção federal do Colégio D.Pedro II. Trabalhando e sustentando-se por conta própria, graduou-se, com distinção, Bacharel em Ciências e Letras em 1929. Já formado, serviu ao Exército Brasileiro no 1° Batalhão de Artilharia Montada do Rio de Janeiro. Dedicou-se à alfabetização de novos recrutas e aos esportes. Em 7/09/1931, competindo com mais de 800 concorrentes, classificou-se em 3° lugar na corrida de cem metros rasos promovida pelo exército. Declinou do convite para seguir a carreira militar, desligando-se do exército em 1931. Seu trabalho foi elogiado pelo comandante coronel José Meira de Vasconcellos e registrado em sua carteira militar. Retornou a Santa Catarina, casando-se com Laura Maria Gomes em 22/09/1931. Em Joinville, inscreveu-se e prestou concurso para o magistério estadual em 1932. Aprovado e classificado em 1° lugar, escolheu a Escola de Bananal. Não chegou a tomar posse ali. Aceitou o convite do inspetor escolar Germano Wagenführ e o desafio de trabalhar entre os imigrantes menonitas em Witmarsum, localidade do então município de Dalbergia (Ibirama) e hoje município de Witmarsum. Seu trabalho era reorganizar, a pedido dos próprios menonitas, suas escolas particulares, assumindo-as e colocando-as no padrão das escolas públicas estaduais.


(*) Inicialmente registrado como Arthur Sichmann, com a reforma ortográfica da língua portuguesa adotada no Brasil, teve mais tarde seu nome mudado em cartório, a seu pedido, para Artur Sichmann. Como professor, queria estar de acordo com a nova legislação ortográfica brasileira.

 Witmarsum


 Abriu a primeira escola pública estadual em Alto Rio Krauel, perto das margens do rio com este nome, tornando-se o primeiro professor estadual da primeira escola pública do hoje município de Witmarsum. Iniciou em 5 de setembro de 1932, auxiliado pelos colaboradores Peter Klassen, chefe da colônia menonita e por Cornelius Funk, professor menonita. A colônia menonita providenciou local para a escola e moradia em um casarão de madeira que servia durante a semana como Escola e como Igreja aos domingos. A escola teve a denominação de Escola Mixta de Alto Rio Krauel. Nessa casa nasceu Wilson, o primeiro e único filho de Artur e Laura, em 27 de abril de 1934. Para legalizar o diploma de Bacharel obtido em colégio particular, submeteu-se em 1933 a exames teóricos e práticos sobre as matérias cursadas, efetuado pessoalmente em Joinville pelo então Secretário da Educação, Dr. Plácido Olympio de Oliveira. Foi aprovado e considerado normalista em decreto de 26/01/1934, assinado pelo Cel. Aristiliano Ramos, Interventor Federal e pelo Secretário da Educação. Em 1934, durante a "Semana da Árvore" integrou caravana de professores que, partindo de Blumenau, liderou o plantio de mudas de pau-brasil e essências florestais na praça pública de Blumenau, em frente à Estação Ferroviária local, e em Itajaí, Camboriú e Tijucas. Em Camboriú várias árvores ainda existem no Colégio Prof. José Arantes. O plantio era feito por alunos dos diferentes educandários em solenidade especial.

Waldheim e Gnadental



Em 14 de agosto de 1934, a pedido das colônias menonitas, foi designado para organizar as escolas das localidades de Waldheim e Gnadental, bem como preparar os professores estrangeiros para o exame exigido em Lei, incluindo o estudo da língua nacional. Ali permaneceu até janeiro de 1937 no desempenho de suas tarefas, procurando desenvolver o sentimento de amor à Pátria brasileira, inclusive na realização de festividades em homenagem ao "Dia da Pátria". Em Gnadental estudou, aprendeu e lecionou o método Braille para cegos, no objetivo de integrar na educação formal um menino cego da comunidade, Franz Heinrichs. A partir daí manteve intercâmbio com várias entidades e pessoas sobre o ensino do método Braille para cegos. Seu trabalho foi objeto de elogio em ofício do Diretor do Departamento de Educação, em Florianópolis. Obteve também o reconhecimento dos alunos e da comunidade.

Itapocuzinho


Em 12 de janeiro de 1937 foi removido, a pedido, para a Escola Mixta da Estrada Itapocuzinho, entre Jaraguá e Bananal, à vista da classificação obtida em concurso de remoção. Além das atividades escolares, procurava realizar excursões com os alunos, para ampliar seus horizontes de conhecimento e cidadania. Está registrada uma excursão de alunos a Barra Velha, com objetivos didáticos, devidamente autorizada pelo Inspetor Escolar. Dedicou-se com êxito na recuperação de alunos que não conseguiam acompanhar as aulas normalmente ou cujo comportamento fugisse aos rígidos padrões exigidos na época. A exemplo do que fazia nas escolas por onde passou, continuou transmitindo aos alunos o sentimento de responsabilidade, patriotismo e amor à Pátria. Na Semana da Pátria, os alunos faziam encenação da Independência do Brasil, onde vários deles representavam os papéis principais.

 Bananal



Em 26 de janeiro de 1940 foi removido, a pedido, para a “Escola Mixta de Bananal” (Guaramirim). Em 1 de junho de 1940 é designado auxiliar de inspeção e participa dos trabalhos de orientação na construção do Grupo Escolar "Almirante Tamandaré". Em 4 de fevereiro de 1941 é removido para o mesmo Grupo. Em 5 de maio do mesmo ano é designado pelo Interventor Nereu Ramos para regência de classe , iniciando também um programa de horta escolar, em conjunto com o professor Urbano Teixeira. O trabalho executado foi objeto de elogio pessoal do Interventor Nereu Ramos e portaria n° 170, de 12 de janeiro de 1942.

Rio Negrinho





Pelo Decreto n° 1265 de 24 de janeiro de 1942 foi removido, a pedido, para o Grupo Escolar "Profª Marta Tavares", em Rio Negrinho, então distrito de Serra Alta (São Bento do Sul), sob a direção do Professor Djalma Bento. Iniciou suas atividades dando aulas para o 4° ano primário e continuou seu trabalho na recuperação de alunos com maiores dificuldades de aprendizado. Transformou um terreno baldio atrás do Grupo em horta escolar, ensinando os alunos a plantarem hortaliças que eram a seguir incorporadas à merenda escolar.  Sua esposa, Laura Gomes Sichmann foi também admitida como professora em 1942, lecionando ali até 1952. Seu trabalho foi objeto de elogio registrado pelo Diretor do Departamento de Educação, Professor Elpídio Barbosa. O Brasil entra na Segunda Guerra Mundial e muitas pessoas com sobrenome de origem estrangeira passam por problemas e investigações. Findo o conflito, a 28 de novembro de 1945, Artur requer e obtém certidão de bom desempenho de seu trabalho no magistério estadual.  Em 31/12/45 assume a função gratificada de Diretor e Auxiliar de Inspeção. Após prestar concurso público é aprovado e nomeado Diretor do Grupo Escolar "Profª Marta Tavares" em 10/01/1949. Foi o primeiro concurso público instituído para a carreira de Diretor no Estado de Santa Catarina, pela Lei 234 de 10/12/1948.



Após várias promoções, foi nomeado diretor efetivo classe "K" em 2 de dezembro de 1949.  Continuou a horta escolar. Iniciou e desenvolveu uma pequena criação de abelhas européias para produção de mel em um local afastado da horta, ensinando as crianças e adultos como fazê-la com segurança. Com a colaboração de Martin Zipperer, proprietário da fábrica de móveis CIMO e incentivador do desenvolvimento escolar fornecendo os materiais, equipou o Grupo com praça de esportes para ginástica em várias modalidades. Realizava ainda excursões escolares com as diferentes classes, uma forma de ensino prático de ciências naturais, despertando a compreensão dos alunos para horizontes mais amplos. Manteve sempre ativa a chama do patriotismo através dos eventos na Semana da Pátria, Dia da Bandeira, desfiles com os alunos pela cidade de Rio Negrinho e solenidades cívicas semanais. Em 18 de março de 1952 entrega o Inventário de Bens do Grupo Escolar para seu sucessor, Professor Walmor Rosa, deixando Rio Negrinho com destino a Araranguá.

 Araranguá



Em 21 de março de 1952 é designado para responder pelo expediente da Inspetoria Escolar de Araranguá. Concursado e aprovado, é nomeado Inspetor Escolar classe "O" em 22 de setembro de 1952. Iniciando a carreira como Inspetor Escolar, visitou grupos e escolas isoladas nos municípios de Araranguá e Sombrio, viajando de ônibus, de bicicleta e a pé. Sua esposa Laura atuava como secretária e auxiliar de escritório.



São Joaquim


A nomeação para o cargo de Inspetor implicou em remoção para São Joaquim, ainda em 1952. As escolas isoladas eram, em sua maioria, muito distantes e de difícil acesso, sem estradas, existindo apenas trilhas por onde se andava a cavalo. Artur, embora com habilidade em hipismo adquirida no Exército, não gostava de andar a cavalo. Preferia visitar as escolas de bicicleta, em viagens que duravam a semana inteira, mesmo nos meses de rigoroso inverno. Muitas delas nunca tinham sido visitadas antes. Para documentar tais visitas, tirava fotografias das escolas com professores e alunos.  Depois as enviava em relatórios periódicos a Florianópolis. Possuía uma pequena motocicleta marca Dürkopp, ano 1939, que pouco auxiliava naquelas estradas. Em 1 de dezembro de 1953 foi promovido a inspetor classe "P". Em 30 de janeiro de 1954, foi transferido, a pedido, para Ituporanga e dali para Camboriú.



Camboriú


Ainda em 1954 assumiu o cargo de inspetor escolar efetivo na recém criada 47ª Circunscrição Escolar, com sede em Camboriú e que abrangia desde Balneário Camboriú até Porto Belo. Iniciou suas atividades em uma pequena casa de madeira cedida pelo proprietário Luiz Vieira, na hoje Avenida Central de Balneário Camboriú. Sua esposa Laura foi admitida como professora em 12 de julho de 1954 e exerceu suas atividades nas Escolas Reunidas Professor Laureano Pacheco, de Canto da Praia. Mais tarde transferiu-se para a sede do município de Camboriú, à Rua Siqueira Campos, em frente ao Cemitério Municipal. Em 1960 mudou para outra casa, no prolongamento da mesma rua, hoje Siqueira Campos, 404 . Atualmente as duas casas não mais existem. Nas estradas precárias e arenosas do litoral, deslocava-se de bicicleta. Mais adiante adquiriu uma motocicleta maior e ao final de seu trabalho viajava em um jipe financiado aos inspetores escolares pelo Governo Estadual de Santa Catarina. Em cada escola visitada procurava ver as dificuldades encontradas pelo professor, as necessidades da escola e o aproveitamento dos alunos. Fazia os alunos sentirem-se à vontade, contando histórias engraçadas e interessantes. Terminava ministrando uma aula aos alunos. Continuava a documentar as visitas e a enviar relatórios fotográficos aos superiores em Florianópolis.  Na qualidade de maior autoridade escolar da região e representante da Secretaria da Educação, participava de todos os eventos e festividades principais nos municípios sob sua jurisdição. Todo o material didático e administrativo destinado para as escolas passava por sua mão. Os programas de assistência social e da “Aliança para o Progresso”, vindos como doação dos Estados Unidos também eram por ele administrados. Em um período de grande turbulência política, procurou colocar o magistério e os interesses da educação acima de pendências partidárias e religiosas. Suas prestações de contas foram todas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. Aposentou-se em 28 de janeiro de 1964.

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Aposentado, mudou-se para Campinas, Estado de São Paulo, mantendo porém, residência em Camboriú, aonde vinha com frequência. Retornou definitivamente a Camboriú em 1991. Com a reforma administrativa havida no Estado e a extinção do cargo de Inspetor Escolar, seu nome e posto foram esquecidos, passando a perceber vencimentos ínfimos. Com a ajuda de professores, conseguiu restabelecê-los parcialmente. Em 1997 submeteu novamente o assunto à administração competente. Não viveu para alcançar o restabelecimento total. Faleceu em 4 de novembro de 2000, aos 98 anos de idade. Não viveu para alcançar o restabelecimento total. O professor João Calixto Faquetti perguntou-lhe, em entrevista há alguns anos, qual a profissão que desejaria seguir, se fosse possível voltar atrás: “Voltaria a ser professor, sem dúvida, foi a resposta. É a melhor profissão do mundo”.


Artur Sichmann *07-05-1903 +04-11-2000

Laura Gomes Sichmann *25-11-1908 +25-05-1998