domingo, 18 de novembro de 2012

Personagens de nossa história: Pioneiro Carlos Hantschel

Nota do Blog: Este texto foi escrito com base nos depoimentos de Alfredo Hantschel e de Erna Ema Hantschel, filhos de Carlos Hantschel, em agosto de 1984, ao servidor municipal Osmair Bail, então Diretor do Museu Municipal de Rio Negrinho; várias informações constantes do presente texto foram confirmadas recentemente junto ao Cartório de Registro Civil de São Bento do Sul e Rio Negrinho e na lista de imigrantes do Arquivo Histórico de Joinville.


Carlos Hantschel considerado como um dos primeiros imigrantes europeus a Rio Negrinho, é nascido em 27 de julho de 1863, em Luksdorf, paróquia de Reinewitz, Bohemia, filho de Valentin Hantschel e Bárbara Hubner, vindo sozinho ao Brasil com 18 anos, em companhia de outras famílias imigrantes, já que na época não era permitido menores imigrarem sem a sua família. Com 22 anos voltou a sua terra natal para visitar os seus pais (1).
Retornou em definitivo ao Brasil, sozinho, com 25 anos, através do Vapor “RIO”, com saída de Hamburgo, Alemanha, e chegada em São Francisco do Sul, em 17/10/1888.
Chegando a Joinville foi procurar emprego na casa comercial de Paulo Bohem, que disse infelizmente não ter serviços ali. Mas para sua sorte, logo após a sua saída, chegou a esta casa comercial Luiz Buchmann, morador e comerciante em Campo Alegre, que veio a Joinville fazer compras e também a procura de um sapateiro.  Imediatamente foi-lhe dito que a poucos instantes tinha estado ali um recém chegado que era sapateiro a procura de emprego e dirigindo-se a porta foi apontado, não muito distante, o imigrante Carlos. Chamado de volta por Luiz Buchmann foi convidado a trabalhar no alto da serra, em Campo Alegre, e Carlos concordou imediatamente, partindo sozinho naquele rumo, alcançado por Buchmann já no alto da serra.
Com o passar do tempo, sendo Campo Alegre passagem entre Joinville e São Bento do Sul, resolveu visitar seus patrícios imigrantes, emprestando um tordilho mais bonito e vir até Lençol e ali ficou durante uma semana, levando a acreditar a Buchmann que Carlos não mais retornasse ao trabalho. Mas Carlos retornou e ficou em Campo Alegre mais uma temporada.  Provavelmente nesta visita a Lençol que conheceu a família de Carlos Stuber e a sua futura mulher Maria (2).
De Campo Alegre, antes mesmo de casar-se veio a Rio Negrinho, em 1890, onde construiu a sua casa num terreno adqurido de Gustav Hillemann e seu irmão, descendentes de alemães, que eram oriundos de Rio Negro e aqui estavam morando um certo tempo.  Gustav morreu aqui em Rio Negrinho em consequência de mordida de cobra e o irmão resolveu voltar a Rio Negro, deixando suas terras abandonadas. Gustav Hillemann e seu irmão eram solteiros. 
Estas terras adquiridas por Carlos Hantschel dos Hillemann, engloba toda a região do Bairro de Bela Vista, com as seguintes divisas: com início na estrada Dona Francisca, junto a um ribeirãozinho, ao lado da casa do Posto Rio Negrinho, descendo pelo ribeirãozinho até encontrar o rio Negrinho, daí descendo pelo rio Negrinho até encontrar a foz do rio dos Bugres, daí subindo pelo rio dos Bugres até encontrar a ponte na Estrada Dona Francisca, seguindo pela Estrada Dona Francisca até encontrar o ponto inicial no ribeirãozinho, atual Posto Rio Negrinho.
Aqui em Rio Negrinho abriu uma sapataria com alguns aprendizes, entre eles Henrique Hatschbach, Francisco Anton e Carlos Pscheidt.  Junto a sapataria montou um rústico restaurante para atendimento dos tropeiros, em que os aprendizes faziam também as vezes de cozinheiros.
Carlos Hantschel casou-se em 22/07/1893 (casamento religioso), com Maria Stuber, em São Bento do Sul. Maria era filha de Carlos Stuber e Theresia Altmann, nascida em 01/07/1873, em Santa Catharia, Bohemia. Maria era irmã, por parte de mãe, de José Brey. Carlos e Maria celebraram o casamento civil somente em 22 de agosto de 1900, portanto, sete anos mais tarde do casamento religioso.
Casado, Carlos continuou com as atividades de restaurante e principalmente de sapataria, se deslocando frequentemente a Rio Negro.
Fato importante, passado algum tempo após o casamento, Carlos soube da venda das de João Bley, mas como não tinha a quantia necessária, pedindo dinheiro emprestado a Jorge Schlem, mas, não foi a sua surpresa que dias depois Schlem comprou estas terras, com a área de 38.424.500,00m2, quase 1.600 alqueires, com a seguinte descrição: Inicio na foz do rio dos Bugres no rio Negrinho, daí descendo pelo rio Negrinho até encontrar o rio Negro, descendo por este até encontrar o rio Preto, subindo pelo rio Preto até encontrar o rio Casa de Pedra, subindo pelo rio Casa de Pedra cerca de 2.500 metros, daí seguindo por várias linhas secas até encontrar o rio dos Bugres, daí seguindo cerca de 3.000 metros até encontrar a foz do rio dos Bugres, no rio Negrinho, ponto inicial do terreno.
Jorge Schlemm residiu nessas terras uma temporada, posteriormente adquiridas por Guilherme Xavier de Miranda (morador do Paraná ?), que provavelmente emprestou o seu nome a localidade de Colônia Miranda, iniciando uma divisão dessas terras, divididas em glebas, cabendo a Carlos Hantschel a promover a venda desses lotes, muito provavelmente na primeira década do século XX.  Foi nessa ocasião que adquiriu vários lotes, formando uma gleba de terras, a partir do rio dos Bugres, seguindo pela Estrada Dona Francisca, até o atual Bairro São Pedro, mais tarde partilhado aos seus filhos, por ocasião de seu falecimento.
A Estrada Colônia Miranda foi construída nessa época. Dentre os primeiros moradores daquela região da Colônia Miranda, São Pedro e Rio Preto, estão João e José Narloch, Willy Jantsch, Otto Jantsch, Adolfo Olsen, Augusto Goetler, Francisco Senn, Antonio Ulhrich, Ladislau Kurowski, André Pscheidt, José Jantsch, Paulo Wockvart, Max Frohener, Germano Preisleir, Reinaldo Brand, José Penkal e Félix Kroll.
Com o intenso trabalho da construção da Estrada de Ferro em 1910, Carlos abriu uma hospedaria junto a sua casa, para abrigar os empregados da empresa realizadora dos serviços.
Morreu labutando nas suas lidas, vitimado pelo diabetes, atendido pelo médico Dr. Ernesto Arndt, de São Bento do Sul, com 55 anos, em 31 de janeiro de 1917, sendo sepultado no Cemitério de Lençol.  Deixou 8 filhos, Carlos - nascido em 1894, Luiza - nascida em 1896, Herminia – nascida em 1899, José – nascido em 1906, Maria – nascida em 1901, Rodolfo – Nascido em 1902, Alfredo – nascido em 1910 e Erna Ema – nascida em 1912.
Depois da morte de Carlos sua esposa Maria, em companhia do seu filho mais velho Carlos, prosseguiram os negócios e o trabalho, encaminhando os filhos em várias profissões, como Rodolfo que aprendeu marcenaria, José que aprendeu ferraria, e Carlos, na profissão de vendedor.
Maria Hantschel veio a falecer aos 83 anos, em 28 de setembro de 1956, encontra-se sepultada no Cemitério Municipal da Saudade de Rio Negrinho.
Uma das vias principais de nossa cidade, situada no bairro Bela Vista, homenageia com justa gratidão o Pioneiro Carlos Hantschel.

(Notas: 1- Pesquisando a listra dos imigrantes compilada pelo Arquivo Histórico de Joinville, não foi encontrado nenhum registro desta sua primeira viagem, para corroborar este fato. Mas como este texto foi produzido com base em depoimentos, resolvemos anotar a título de enriquecimento do trabalho. (2) É bem possível que ele conhecesse anteriormente a família de Carlos Stuber,  inclusive da Europa, pois são da mesma região da Bohemia).

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